Hoje, cheguei dez minutos antes da hora. Eu chego sempre dez minutos antes, para dar tempo para um café curto, um cigarro e uma espreitadela no jornal. Mas hoje, cheguei dez minutos antes e já tinha feito isto tudo.
Bato à porta. Entro. O Sr. A. dá-me os bons dias, como sempre. Respondo, como sempre, maldizendo o frio, o Inverno, a hora, os transportes, o cansaço, e tudo a que tenho direito, porque afinal são dez para as dez da manhã e o meu mau feitio só passa lá para as onze e meia, meio-dia. Ele respondeu, no alto da sua paciência, que não podia ser assim, uma menina tão nova e…
…e não ouvi mais nada. Fiquei a olhar para ele, e ele a falar, a falar, e eu não conseguia descobrir o que havia de diferente no Sr. A. Mas que havia qualquer coisa diferente, havia.
E ele continuava a falar, e eu só pensava
não olhes assim… ele vai perceber… mas o que é… não consigo parar de olhar… há qualquer coisa ali… mas o quê… não olhes... não olhes...
E, de repente: uma luz! O mistério desvendou-se, estava ali, mesmo à frente, e eu não conseguia ver!!! Tão perto, mas tão longe…
O Sr. A. não tinha os dentes da frente!!!
Teria perdido a dentadura? Teria partido os dentes? Teria, simplesmente, esquecido a dentadura em casa?
- Não é, menina?
é, é, Sr. A.
mas não faço a mínima ideia o que é que ele disse...
E despedimo-nos - até já - mas não consigo tirar da cabeça aquela imagem.
O que terá acontecido aos dentes do Sr. A.?
Mistério…
* - Não sei se haverá Parte II, mas pelo sim, pelo não…
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