24/01/2007

1977

Se me perguntassem, há dez anos, como imaginava a minha vida aos trinta, a reposta seria bem diferente da realidade. De certeza que falava em bebés, em marido, em realização profissional, em estabilidade. Se me perguntarem hoje como me imagino aos quarenta, a resposta não passa, de todo, por aqueles quatro factores.
Não sei bem se será este o caminho que eu quero, mas de certeza, não foi este que eu planeei. Não me perguntem se estou feliz, se estou realizada. Também não saberia responder. Tudo isto está a ser uma grande surpresa para mim.
Hoje faço 30 anos.
Quando o meu irmão fez trinta anos e uma festa com balões, com sanduíches de Panrico com fiambre aos triângulos, caramelos de fruta espalhados pela mesa e frangos assados cortados aos bocados comidos em pratos de plástico, confesso que achei aquilo tudo muito surreal. Nunca imaginaria uma pessoa com trinta anos com aquele género de festa. Pensei que os “crescidos” de trinta anos fizessem coisas com mais charme, com mais maturidade. Ele fez há pouco tempo 34 e estava a trabalhar. Mas tenho a certeza que, se fizesse uma festa, teria os mesmos enfeites, as sanduíches e os caramelos.
Hoje faço 30 anos.
E não vou comemorá-los com filhos, com um marido. Não pedi o dia de férias nem ninguém me foi buscar ao trabalho para um jantar romântico. Não recebi rosas nem cartões coloridos. Não tive nenhuma surpresa, não apareceu ninguém que eu não estivesse à espera. Não fosse o bolo com leite condensado que levei para o trabalho, o meu dia teria sido exactamente igual a todos os outros 364.
Hoje faço 30 anos.
No fim-de-semana vou comemorá-los com alguns dos meus amigos. Queria fazer uma festa em grande, uma coisa diferente. Queria uma festa de três dias que ficasse na memória de todos por muito tempo, porque afinal, eu faço 30 anos. Mas o medo de falhar impediu a minha imaginação e vou acabar por fazer um jantar igual a tantos outros, e uma saída igual à de todos os fins-de-semana. Só que com mais gente!
Hoje faço 30 anos.
Mas não importa se são 30, 31 ou 35… Não importa quantas pessoas vão a uma festa. Não importa o que se come nessa festa, Panrico ou caviar. Não importa onde se festeja, não importa quanto tempo vai durar a festa.
O que importa, afinal?
O que importa, na verdade, e isto é que me melindra, é que não era isto que eu esperava da minha vida. Não eram estes os passos que eu pensava dar. Não era esta a estrada que eu planeava seguir. Esta é a vida que eu tenho, mas sinto que não fui eu quem a escolheu. Ela foi escolhida por mim.

Hoje faço 30 anos e não reconheço a cara que, há 30 anos, vejo no espelho.

17/01/2007

Há coisas que me revoltam. Há coisas que me revoltam tanto que só me dão vontade de desistir. Podiam dar-me para gritar, para refilar, para dar pontapés, mas dão-me vontade de desistir. O que me revolta mais é a falta de poder para ajudar as pessoas, que não passa por ajudar mas por fazer o meu trabalho em condições, e não posso fazer porque as coisas não funcionam. Um dia é porque há um apagão informático, outro é porque preciso de ajuda e ninguém tem tempo para mim, outro é porque eu não tenho tempo para pedir ajuda, porque há outras situações ainda mais urgentes, ainda mais graves. Quase sempre porque não está nas minhas mãos. E dar a cara, e ver as pessoas quase a chorar, e saber pormenores da vida das pessoas que não conheço de lado nenhum, e saber que eu podia ajudar, se tivesse mais apoio, mais ajuda, mais meios. Vejo-me a ligar a pessoas que estão longe para me ajudarem, pessoas que têm a sua própria equipa, o seu próprio trabalho, as suas próprias obrigações, só porque a minha equipa não consegue, não tem tempo, não sabe, não pode ajudar-me. O que me revolta mais ainda é saber que as coisas não estão no meu controlo, que me ultrapassam completamente, e olhar para as pessoas que vêm tudo como uma falha minha, só porque sou eu que estou à frente delas, porque eu é que dou a cara.
Estou de rastos…

(Esperava que este descarregar de raiva em palavras fosse aliviar a revolta, mas não deu muito resultado)

02/01/2007

2007

Bom ano para todos.

(A pausa para reflexão continua por breves momentos. Voltaremos logo que possível.)