30/12/2014

Uma aventura na Noite de Natal

Quando era pequena, estreava sempre roupa nova no Natal: na véspera, claro, e no dia 25, quando vestia roupa que o Pai Natal deixava no sapatinho. Hoje, com três filhos, faço questão de vestir a minha melhor roupa (ou, pelo menos, a que tem menos nódoas de ranho/papa/bolsado no ombro esquerdo) e, aos meus filhos, as camisolas que têm menos borbotos e as calças que estão menos rasgados nos joelhos.
A Teresa só veste roupa emprestada. Tem muito pouca roupa nova e fiz questão de lhe comprar uns sapatos para estrear na véspera de Natal. Umas merceditas, como as meninas bem. Comprei online com a antecedência que me caracteriza e chegaram no correio no dia 23. Mesmo a tempo!
No dia 24, trabalhei até meio da tarde, voei para casa, vesti os putos todos (merceditas incluídas), fiz a mala e saímos para a Marinha Grande perto das seis da tarde. A dois terços do caminho, dou conta que falta um sapato à Teresa. Uma mercedita. Novinha em folha. Perdida uma hora depois de estrear. Chorei.
"Ah e tal, tanta gente a morrer de fome pelo  mundo, tanta gente sozinha na noite de Natal e tu choras porque causa de um sapato", ainda ouvi. Não era um sapato qualquer: era a mercedita nova da minha Teresinha. Custaram-me 20€, caraças! Ainda assim, fiz questão de a manter com um sapato calçado: assim como assim, o prejuízo seria só de 10€.
"Já reparaste que a tua filha tem os collants do avesso?", perguntava alguém em voz alta, já no fim da noite. A falta do sapato revelou o meu segredo: os collants do direito estavam cheios de borbotos e meio encardidos nos joelhos, do avesso eram uns collants novos. Expliquei isto aos presentes, a minha Mãe morreu de vergonha.
Felizmente, o Pai Natal não castiga meninas que só calçam um sapato e deixou-lhe presentes à maneira. No sapatinho. No que sobrava, está claro.


No dia 25, quando chegamos a casa, o sapato perdido estava dentro do prédio, em cima das caixas do correio. Um vizinho encontrou e deixou ali para nós encontrarmos. Neste momento, Miss Little T encontra-se linda de morrer com uma mercedita em cada pé.
Afinal, o Pai Natal existe e mora no 3º esquerdo do meu prédio.

27/12/2014

Na alcofa




A Teresinha continua um doce. Já tem dois novos dentes (até que enfim, que estes deram luta e muitas más noites), come cada vez melhor, interage cada vez mais. Passou o primeiro Natal muito divertida, muito atenta aos primos e a todo o frenesim à sua volta; adormeceu no momento mais caótico: a abertura dos presentes. Ela dá-se melhor no caos, 'tadita: afinal, é o dia-a-dia dela. Apareceram as primeiras bonecas nesta casa: o Pai Natal não se esqueceu. Não estava muito contente no momento da fotografia porque tinha dois melgas a incomodar a princesa. Nota-se, não?

Ideia daqui.

18/12/2014

Praticamente, onde?

- Segunda-feira, chamaram-me madura. "És tão madura", atiraram assim entre uma colher de sopa e dois dedos de conversa. E aquela palavra ficou ali entalada entre um assunto e outro, presa por uma vaga sensação que não podia ser sobre mim. O meu nome não rima com aquela palavra. Nunca rimou.

- Quarta-feira, uma colega minha no ballet, novinha, cara de estudante universitária, viu-me a chegar a esfregar as mãos com energia. "Está com frio?", perguntou e eu não percebi bem a forma e concentrei-me no conteúdo e disse que sim, estava com as mãos e o nariz frios. Ela continuou "os seus bebés, estão bons?". SEUS??!! Ela tratou-me por você. Ela, miúda educada, fofinha, no fim dos teens, achou que eu seria velha o suficiente para não me tratar por tu. Nós ali, vestidas de igual: maillot preto, collants e sapatilhas rosa. Eu era "você", ela era "tu".

- Hoje, almocei com a minha Amiga R e com o meu marido e falávamos sobre isto de sermos crescidos. Eles, ambos mais novos que eu. Contei-lhes a história do ballet e riram-se. "Ainda não percebeste que estás praticamente nos 40?"

Não. Ainda não percebi.

15/12/2014

Viver todos os dias cansa,

já dizia o outro, e eu não podia estar mais de acordo. Principalmente quando mete o trabalho de uma casa de cinco pessoas feita por pouco mais que duas mãos. Quando a fita da persiana se parte e não entra sol numa das poucas divisões da casa. Quando o comando da chave do carro tem um buraco negro em vez do botão que fecha as portas (pelo menos tenho carro!!!). Quando temos presentes de Natal para comprar e vontade zero. Quando há mil coisas para fazer numa semana de férias e só pensamos "raios: descanso mais a trabalhar fora de casa". Quando percebemos que uma semana não chega para almoçar com todos os Amigos de quem morremos de saudades. Quando perdemos tempo à procura da lista das compras que já fizemos há duas semanas e meia, para não perder tempo. Quando o despertador toca e-xa-cta-me-te-à-mes-ma-ho-ra-to-dos-os-san-tos-di-as. Quando damos o nosso melhor em tudo o que fazemos e percebemos que nunca chega. Quando percebemos que estamos há mais de 20 anos a lutar contra o acne "juvenil", há 10 a alternar entre o clearasil e o anti-rugas mas a coisa vai-se dando, e ainda há o dia em que acordamos com um bicanco branco mesmo no meio da testa. 

08/12/2014

Pequenos prazeres da (minha) vida*:

leite quente com mel. abraços dos meus filhos. beijos molhados. meias de lã. camisolas largas. dançar. areia quente nos pés. mergulhar. o silêncio debaixo de água. a casa em silêncio. pasteis de Belém. brigadeiros da minha cunhada. crianças à gargalhada. fogo de artifício. a respiração dos meus filhos. o cheiro deles ao acordar. adormecer no sofá. andar de mão dada. dias frios com sol. o verão. parir um filho. reencontrar velhos amigos e perceber que o tempo não passou. caipirinhas numa noite quente. caramelo. escrever. ouvir Dave Mathews a meia luz. passear a pé por Lisboa. fazer a linha de Cascais de comboio. fazer nada com Amigos. olhar o Mar. ver o pôr-do-sol. o cheiro da terra molhada. andar de avião. o cheiro do Algarve ao nascer do sol. lavar os dentes. Nestum mel com açucar em leite quase a ferver. o colo do meu Pai. andar descalça. conduzir. ler um livro. comer pipocas. tirar fotografias. ver fotografias antigas. receber amigos em casa. encontrar 20€ naquele casaco que já não visto há cinco anos. andar de baloiço. o molotov da minha avó Xia. fazer biscoitos de gengibre. adormecer os miúdos. vê-los brincar com o Pai. vê-los crescer todos os dias.

*- sem qualquer ordem de preferência e sem parar para pensar.

01/12/2014

Isto, na maioria das vezes, é divertido...


O Manuel está com otite e adenoidite. Só chora e pede colo. O meu colo. A Teresa está com fome, com sono e precisa de tomar banho. O António vomita depois do futebol, enquanto come a sopa. Basicamente, só vomita água. Quer dormir na nossa cama e eu deixo. 
Depois do antibiótico, o Manuel fica histérico: parece que levou uma forte injecção de adrenalina. A Teresa deve ter recebido parte dessa dose porque só guincha. Está cada um na sua cama. A guinchar cada um para seu lado.

E eu? Eu estou sentada no chão a olhar fixamente para as luzes da árvore de Natal e a fingir que não é nada comigo.

Ainda bem que a árvore já está montada.