17/12/2017

O vazio que não se (pre)enche.

Esse vazio existe. É real. Palpável. Vê-se, toca-se, sente-se, cheira-se. Aquele vazio de que falei por aqui uma vez: às vezes magoa, outras vezes é a única companhia que resta.

Podes tentar encher esse vazio. Com actividades, corridas, ginásio, festas, passeios, cinema, museus, dança. Funciona como um funil: enches de um lado mas acaba por sair do lado oposto. O vazio permanece.

Podes fingir que não existe. Olhas para ele de manhã com desdém, sente-lo durante o dia, espreita-lo pelo canto do olho de vez em quando. Ris e conversas como se ele não estivesse ali. Mas à noite, quando chegas a casa, não consegues deixar de tropeçar nele logo à porta.

Podes enchê-lo com pessoas. Mas não seria justo usá-las para preencher as tuas lacunas. Tal como não podes encaixar num puzzle de 1000 peças uma peça de outro jogo. Se perdes a peça, estragas o jogo; tenta não estragar os dois jogos.

Talvez esse vazio vá sempre existir. E resta-te viver a vida com ele a teu lado: aquela nuvem escura que paira em cima da tua cabeça. Mas escuta: atrás dessa nuvem, o sol brilha. Brilha sempre!

Hoje, o dia está gelado, o Natal está à porta e o céu está daquele azul que mais gostas. Olha para cima. Consegues ver, não consegues?
Por isso, agarra nesse vazio com carinho. Ele faz parte de ti agora. Agarra-o bem junto ao peito, senta-te no sofá com a manta nos joelhos, liga a televisão e, com o chá a aquecer-te as maos e a alma, vive o teu domingo até adormeceres.

Vai ficar tudo bem...

08/11/2017

Promessas

Desta vez, vai ser diferente.

Promete que não vais tratar-me bem, não vais fazer juras de amor eterno, que não vais fazer-me rir. Promete que não vais dizer que sou a melhor do mundo. 
Promete que não vais mandar mensagens de manhã que me vão fazer sorrir. Promete que não pensas em mim antes de adormecer.
Promete que não vamos passear de mãos dadas por Lisboa. Que não vamos ver o sol a pôr-se no mar. Nem vamos esperar para o ver nascer, ainda embrulhados em gargalhadas e álcool. 
Promete que não me vais oferecer flores nem memórias nem carinhos. 
Promete que não vais fazer-me sentir mulher outra vez, que não vais olhar para o mais profundo dos meus olhares, que não vais descobrir-me devagarinho, sem pressa, como se o mundo lá fora não existisse. 
Promete que não me vais mentir.

Sobretudo, por favor, promete-me que não vais fazer promessas.

07/11/2017

Ternura dos 40

Ao ler esta manhã o post da Lénia* sobre a sessão fotográfica (que ADOREI, btw), fez-me perceber com clareza o que é isto da "ternura dos 40" que os nossos pais cantavam quando éramos miúdos. Não sei se os homens sentem o mesmo, mas estou mesmo convicta que isto de ter 40 anos traz às mulheres a segurança, a maturidade e a aceitação que mais nenhuma idade nos traz.
Uma coisa é estarmos a viver o nosso corpo com 40 anos; outra é vivermos o nosso corpo com 20, 25 ou 30 anos. E quem diz o corpo diz a maneira de estar, de sentir, de opinar ou até de falar. Eu vejo isso nas minhas relações (amorosas e não só), na maneira como vivo o meu dia-a-dia, no meu emprego, na minha família. Sinto mesmo muita diferença, até porque também tenho uma capacidade analítica muito maior agora.
Sem dúvida, o ponto de viragem na minha vida foi o divórcio. Se não tivesse acontecido, com certeza eu não teria a capacidade de auto-análise que tenho agora, a capacidade de aceitação e, como é óbvio, o tempo e a disponibilidade para pensar neste tipo de coisas. 

Uma das melhores sensações é estarmos bem connosco. É olharmos para o espelho e gostarmos do que vemos: tenha mais ou menos celulite, tenha mais ou menos barriga. Isso não interessa nada porque não é a celulite ou a barriga que nos define. É libertador quando percebemos isso. E é angustiante perceber o tempo que gastamos com o foco no lugar errado. 

Hoje, disseram-me "és tão genuína..." e eu entendi isto como um elogio. Nem sempre fui assim. Passei tempo demais na minha vida preocupada em ser aquilo que os outros esperavam que eu fosse, esquecendo o mais importante: Eu.



*Desculpa, Lénia: sei que ainda te falta algum tempo para chegar os "entas", mas percebe que isto não acontece de um dia para o outro. É antes um work-in-progress.

17/10/2017

Histórias de amor

Há histórias de amor que não terminam. Ficam suspensas no ar como um suspiro que alguém soltou. Como uma palavra que não foi dita. Como uma folha que caiu da árvore mas não chegou a tocar no chão. Como se alguém tivesse tocado no botão da pausa sem querer e a cena ficasse ali: suspensa. 

Retida. 

Congelada.

As histórias de amor que não terminam são as que magoam mais. Magoa o "e se?". Magoa muito o que não chegou a ser dito. Magoa a falta de coragem para enfrentar. Para pedir justificação. Magoam as perguntas que não se fizeram e as respostas que ficaram por dar. Doem porque não se percebe. E porque dói olhar todos os dias para um ecrã de telefone com a mensagem escrita sem coragem para tocar no enviar.

Todos os dias.

O cursor a piscar.

As histórias de amor que não terminam doem muito porque, como todos sabemos, a ausência do fim é, por si só, o próprio fim.


13/10/2017

2 anos

Foi há dois anos. 
Foi há dois anos que a vida deu aquele piparote com mortal encarpado atrás e aterrou de lado deixando tudo do avesso. E por muita paz que esteja agora a sentir, volvidos estes 730 longos e preenchidos dias, não consigo deixar de sorrir ao perceber que hoje é sexta-feira, 13 e que saí de casa com os putos deixando o telefone, a carteira e as chaves no lado de dentro. 

Podia ter ficado preocupada? Claro que podia. Mas sorri, levei os miúdos à escola a pé, com aquela calma de quem tem qualidade de vida e até está de folga, e, no caminho, entre gargalhadas de uns e resmunguices de outros,  tive a certeza que estou no sítio certo, na altura certa, a fazer a coisa certa. 


18/09/2017

Perguntas.

A minha cabeça está cheia de perguntas. Perguntas que me perseguem, umas que me atormentam, outras que só me acompanham. Umas tiram-me o sono, outras levam-me às lágrimas. Umas que, tenho a certeza, farei um dia, outras que morrerão sem resposta. Umas mais simples, outras mais complexas.
Podia fazer aqui uma lista, mas são tantas e, cada uma delas, dirigida a uma pessoa diferente. Trazê-las para aqui não lhes vai dar respostas.

(Será que quero saber as respostas?)

Um dia, quando tiver coragem (ou quando perder o filtro), faço-as todas de rajada. Como as metralhadoras. 

Entre mortos e feridos, alguém há-de escapar. 


16/09/2017

Das dores boas.

O Ballet recomeçou há pouco mais de 15 dias: barra de chão, como todos os meses de setembro. Eu, que não parei nas férias (corridas, caminhadas, exercícios em casa), percebi que os meus abdominais foram esquecidos. Coitados. O que eles sofreram naquela hora.

Na quarta feira passada, ainda doridos, foram massacrados em mais uma aula de barra de chão. Esforcei-os ainda mais e eles ressentiram-se: doía-me só de tocar. 

Não contente com isso, quinta feira fui correr em passadeira. Experiência nova para mim, mas até nem desgostei. Acordei no dia seguinte com ainda mais dores nos abdominais e umas dores novas nos gémeos. Como doíam...

Não contente com isso, hoje de manhã decidi que seria uma boa ideia fazer outra aula de barra de chão.

À tarde, tive um ataque de tosse.
Ia morrendo.


11/09/2017

Como já devem ter percebido, o Facebook está démodè.

Ah, não sabiam? Apanhei-vos desprevenidos? Ainda usam o FB como a rede social por excelência? Pois é. O FB está moribundo e completamente fora de moda. Agora, o que está a dar é o Instagram. Isto é uma verdade absoluta e, se não acreditam, perguntem a qualquer pessoa com menos de 20 anos e ela confirmar-vos-á.
Adiante...
Tenho passado algum tempo a passear no Instagram, sobretudo nos meus tempos livres. (Ahahahah!, tempos livres... Tão gira, a míúda a dizer piadas!). Se carregarem naquela lupa em roda pé da aplicação, surge todo um mundo novo de contas Instagram de pessoas mais ou menos conhecidas, mais ou menos bonitas, mais ou menos interessantes, mais ou menos fúteis, com mais ou menos conteúdo. Ali, aparece de tudo.
A conlcusão a que chego é que, para teres uma conta Instagram da moda, tens de andar sempre acompanhada por alguém que te tire fotos. De preferência, daquelas fotos em que parece que estás à procura da moeda que deixaste cair, ou que estás desprevenida a rir para o ar, ou ainda daquelas em que apareces acabada de acordar (sem olheiras, sem mau hálito e sem as marcas do lençol na cara, como é óbvio).


Óbvio também é que eu quero ter uma conta de Instagram da moda! (Btw, diz-se conta ou perfil? Respostas nos comentários, por favor.) Para isso, tenho de aparecer a olhar para o chão, a rir para o ar ou, a cereja no topo do bolo, com uma bóia em forma de flamingo numa piscina qualquer (esta última, foi logo descartada por falta do requisito principal chamado, lá está, piscina). Para tirar as outras, e como os caríssimos leitores bem sabem, tive que contar com a ajuda de três crianças, com idades entre os 3 e os 7 anos, e os seus belíssimos dotes fotográficos.



Vá, digam lá de vossa justiça. Não nos saímos muito mal, pois não?

10/09/2017

O regresso

Cinco meses depois, o regresso.
As férias acabaram, os sonhos morreram, as borboletas foram enterradas.
A rotina voltou, os miúdos estão enormes, setembro chegou cheio de novidades.

Respondendo ao pedido de várias pessoas durante estes cinco meses, vou tentar voltar.
Não vos prometo assiduidade, qualidade, quantidade. Não vos prometo boa disposição todos os dias. Nem prometo o mau feitio regular. Prometo, sim, voltar a usar a Casca como o refúgio que é desde 2003.

Já tinha saudades.

Stay tuned!

09/09/2017

Quimeras.

É perigoso sonharmos ser mais do que aquilo que podemos ser. "A morte de um sonho não é menos triste que a própria morte*" e eu já estou cansada de enterrar quimeras.
A maldição da mulher moderna é esta mesmo: foi-nos dada a ilusão que podíamos ser o que quiséssemos: óptimas profissionais, excelentes mães, esposas perfeitas, donas de casa exemplares. E com tantas bolas no ar neste malabarismo patético, há sempre alguma que cai ao chão. Ou mesmo no meio da tua testa.
"Não te preocupes, vais refazer a tua vida com alguém". Como se uma vida refeita tenha, obrigatoriamente, que passar pelas mãos de outra pessoa. Como se fosse fácil ter espaço para um emprego e filhos e casa e uma vida pessoal. Como se fosse dado a escolher "com quem é que agora queres passar o resto dos teus dias?". Como se fosse uma escolha só nossa. Como se o dia tivesse 50 horas. Como se fosse possível. Como se fosse fácil.

Sonhar é fácil
Difícil é sobreviver aos sonhos.


* Frase de António Lobo Antunes que eu costumo usar muito.

11/04/2017

Dave Matthews

A  minha vida tem uma banda sonora. Sempre teve. Sempre associei músicas a fases da vida. Ou a pessoas. Ou a momentos. Desde o Phil Collins que lembra o primeiro beijo, no 8º ano, os GNR e o primeiro concerto em Alvalade, os Guns & Roses e a primeira paixão platónica. Os Pearl Jam no início dos 20 anos, os Smashing Pumpkins e a descoberta do meu lugar neste mundo e tantos, tantos exemplos.
Ouço Dave Mathews há muito tempo. Foi a música da minha primeira casa, onde vivi sozinha durante 5 anos. E por essa música me apaixonei nessa altura. Talvez antes, até. 
Há uns tempos, Dave Mathews passou a ser a banda sonora do pior dia da minha vida: vinte e quatro horas de medo, de desnorte, de desilusão. E deixei de o ouvir. Como se calando aquela música, conseguisse apagar aquele dia de outubro. Não apagou. Nunca vai apagar. Mas hoje entrei no Coliseu com vontade de ver e ouvir a minha música. Sem barreiras, sem memórias, ouvir e ver aquele que foi minha companhia (e tão boa) durante tantos anos. 
Ainda bem que fui: foi o concerto da minha vida! Dave Mathews voltou à playlist dos meus 40 anos. Voltou ao top 3 na tabela. Voltou a ser banda sonora, mas desta vez só de coisas boas. 
Porque as feridas são feitas por pessoas. As músicas são só parte do cenário que criamos à nossa volta. 


22/03/2017

Como encarar uma tarde de neura.

Uma pessoa está com a neura numa tarde de domingo e cruza-se com uma receita que parece deliciosa. 
Sai de casa e compra os ingredientes pra fazer enroladinhos de massa filo com espinafres e queijo feta. 
E sobra massa filo.
Então, uma pessoa vai à net procurar receitas doces com massa filo.
E cruza-se com uma receita que parece deliciosa. 
Sai de casa e compra os ingredientes para fazer enroladinhos de massa filo com batata doce e açúcar e ovo.
E sobra recheio.
Então, uma pessoa vai comprar mais massa filo e não encontra: compra massa folhada para o resto do recheio.
E sobra massa folhada.
Então, uma pessoa vai à net procurar receitas doces com massa folhada.
E cruza-se com uma receita que parece deliciosa. 
E faz folhados de maçã e canela com gengibre.

Conclusão: estar com a neura engorda.

20/03/2017

O inverno acabou.

Foi um longo inverno. Diria mesmo que foi o inverno mais longo. O Natal durou uma eternidade. Fiz 40 anos. Passei a dormir. Deixei de correr. Deixei de escrever. Estou mais calma. Acompanho mais os miúdos: brinco mais, converso mais, passeamos mais. Graças à ajuda da minha Mãe: sem ela não conseguia. Recomecei os ensaios. Cozinho mais e melhor. A casa anda mais organizada. A minha cabeça também. Peso mais. Falo menos. Falo muito menos.
A pior solidão é aquela que se sente mesmo rodeado de pessoas. De amigos, de família. Tive uma festa de 40 anos com 30 pessoas. Amigos com A grande. Aquelas pessoas que estiveram comigo no último ano e graças a quem eu continuo com a cabeça em cima dos ombros. Foi uma noite do caraças. No dia seguinte, voltou aquela dor. A dor do escuro, do silêncio, do vazio. A dor do nada. Do só.
Já faz parte de mim, essa solidão. Já me acompanha. A solidão agora é a minha companhia. Há dias piores. A maioria vão-se vivendo. O inverno terminou hoje. Esteve sol, cheirou-me a flores no caminho de casa, o vento sopra fresco. Talvez assumindo se torne mais leve. Quem sabe se a partilhar, ela se torne mais fácil de carregar. A solidão.
A primavera está aí. Não tarda, chegará o verão. E no verão, tudo fica mais fácil de suportar. 
Eu sei. Já lá estive.