29/12/2003

Meio-termo

Isto é tudo muito complicado...
Quando é que sabemos onde parar? Qual é o limite entre lutar por alguém e ser uma melga? Entre querer conquistar um homem e pressioná-lo?
Se desisto e relaxo, ele nunca vai saber quais as minhas verdadeiras intenções, e nem sequer vai aperceber-se do meu interesse e do meu desejo. Se eu ligar, mandar mensagens, aparecer, vai achar que sou uma melga, que estou a pressionar, que não o deixo respirar...
E o meio-termo? Onde está o meio-termo?
Insistir dia-sim-dia-não? Mandar uma mensagem por dia? Ligar às 2ªs, 4ªs e 6ªs? É este o meio-termo?
Não sou pessoa de esperar que os milagres caiam do céu. Acredito que faço os meus próprios milagres e, normalmente, eles acontecem. Não me tenho dado mal nas conquistas da vida. Mas, muitas vezes, neste longo caminho que tenho percorrido, aparecem umas barreiras que me deixam sem saber como seguir. Algumas, com as quais eu choco de frente, deixam-me zonza, sem saber onde estou, quem sou, para onde vou. E é nestas alturas, diante destas barreiras, ainda meio atordoada, que fico sem saber se estou a agir correctamente, ou se ainda vou errar muito. E é, ainda, nestas alturas, que eu fico sem saber onde está o meio-termo, o ponto exacto em que não estou a insistir nem a relaxar. Que não estou a ser melga nem desinteressada. É, nestas alturas, que eu queria um livro de instruções, para saber como agir.
E, por falar nisso, se alguém puder ajudar-me a encontrar o meio-termo (um número de telemóvel, um mail, qualquer coisa), por favor, avisem-me.

15/12/2003

20.000 Seconds by K’s Choice

20.000 seconds since you’ve left and I’m still counting
And 20.000 reasons to get up, get some thing done
But I’m still waiting
Is someone kind enough to
Pick me up and give me food, assure me that the world is good
But you should be here, you should be here
How colours can change and even the texture of the rain
And what’s that ugly little stain on the bathroom floor
I’d rather not deal with that right now
I’d rather be floating in space somewhere or
Worry about the ozone layer
And it’ almost like a corny movie scene
But I’m out of frame and the lighting’s bad
And the music as no theme
And we’re all so strong when nothing’s wrong
And the world is at your feet
But how small we are when our love is far away
And all you need is you…

11/12/2003

Carta a uma Menina by Sara Belo Luís

Já sei, querida Madalena, o que queres para o Natal. Um carrinho, uma caixa de lápis e mais uma boneca – nada que as meninas da tua idade não costumem pedir. Sossega. Não deixarei que te censurem só por pedires brinquedos. Não tem mal nenhum só pedires brinquedos, todas as crianças os pedem. Mas, um dia, Madalena, quando fores mais velhinha, vais ficar farta de tantos brinquedos, vais perceber que o Natal – como a avó te disse – não é só receber presentes. Que há meninos cujos pais não conseguem dar-lhes o que eles desejam. Que há meninos que não passam a noite de 24 de Dezembro com a família. Que há meninos que, na mesa da Consoada, não têm bacalhau cozido, bolo-rei, azevias e muitos chocolates, como tu tens. Que há meninos que vivem em cidades sem ruas iluminadas. Que há meninos que nunca viram as aventuras do Peter Pan, do Rei Leão e da Pequena Sereia. Que há meninos que, nesta altura do ano, não podem ir ao circo ver os acrobatas, os trapezistas e os palhaços a contarem tolices sobre “cocós e chichis”. Que há meninos que não têm casas com lareiras para os aquecer.
Um dia mais tarde, vais compreender isto tudo. Por favor, não te sintas culpada por (felizmente) teres tudo e haver quem (infelizmente) tenha pouco mais que nada. Tenho a certeza, querida, que, se pudesses, davas-lhes um bocadinho do que tu tens. Vais descobrir que houve quem te protegesse de todas as coisas menos boas que acontecem no mundo. Acredita que apenas quiseram evitar que sofresses. Nesse dia, vais ainda entender porque é que há adultos (os crescidos, para ti que tens 4 anos) que não adoram o Natal como tu agora adoras. Eles também gostam de receber embrulhos, não é isso. Eles ficam é tristes por sentirem mais saudades dos que já cá não estão. E, nessa noite em que o Menino Jesus nasce (esta história tu já sabes, já aprendeste), lembram-se mais deles. É só por isso que eles ficam menos alegres no Natal. Não te preocupes, Madalena, depois passa. Falta dizer que, pela minha parte, fica prometida a boneca. Tem mesmo que se uma Barbie?

In Visão – 04.12.03
Suplemento Especial de Natal

10/12/2003

Solidão

A droga vicia, mas a solidão quando se apodera do coração de alguém e lá cria raízes, torna-se num vício muito maior.

Solidão procura solidão e, quanto mais uma pessoa se isola, à medida que o tempo vai passando, mais isolada quer estar. Quando as pessoas se apercebem que a solidão é a sua companhia, o rosto entristece, a alma desvanece, um forte pesar parece invadir o pensamento.

07/12/2003

Para os que passaram a barreira dos 25 - NÓS TIVEMOS SORTE!!!...

Olhando para trás, é difícil acreditar que estejamos vivos. Nós viajávamos em carros sem cintos de segurança ou air bag. Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em frascos de remédios, portas, ou armários e andávamos de bicicleta sem capacete, sem contar que pedíamos boleia.
Bebíamos água directamente da mangueira e não da garrafa.
Gastamos horas a construir os nossos carrinhos de rolamentos para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que nos tínhamos esquecido dos travões. Depois de colidir com algumas árvores, aprendemos a resolver o problema.
Saíamos de casa de manhã, brincávamos o dia inteiro, e só voltávamos quando se acendiam as luzes da rua. Ninguém nos podia localizar. Não havia telemóveis.
Nós partimos ossos e dentes, e não havia nenhuma lei para punir os culpados. Eram acidentes. Ninguém para culpar, só a nós próprios.
Tivemos brigas, esmurrámo-nos uns aos outros e aprendemos a superar isto.
Comemos doces e bebemos refrigerantes mas não éramos gordos.
Estávamos sempre ao ar livre, a correr e a brincar. Compartilhamos garrafas de refrigerante e ninguém morreu por causa disso.
Não tivemos Playstations, Nintendos e toda a parafernália de jogos de vídeo, nem 99 canais de TV Cabo, som surround, telemóveis, computadores ou Internet.
Nós tivemos amigos! Saíamos e íamos ter com eles. Íamos de bicicleta ou a pé até casa deles e batíamos à porta. Imaginem tal coisa... sem pedir autorização aos pais nem a ninguém, por nós mesmos! Lá fora, no mundo cruel! Sem nenhum responsável!
Como conseguimos fazer isto?
Fizemos jogos com bastões e bolas de ténis e comemos minhocas e, embora nos tenham dito que aconteceria, nunca nos caíram os olhos nem as minhocas ficaram vivas na nossa barriga para sempre.
Nos jogos da escola, nem toda a gente fazia parte da equipa. Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com a decepção... sem psicólogos!
Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros. Eles repetiam o ano! Não inventavam testes extra. Éramos responsáveis pelas nossas acções e arcávamos com as consequências. Não havia ninguém que pudesse resolver isso. A ideia de um pai a proteger-nos, se desrespeitássemos alguma lei, era inadmissível! Os pais protegiam as leis! Imaginem!
A nossa geração produziu alguns dos melhores compradores de risco, criadores de soluções e inventores. Os últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas ideias.
Tivemos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade, e aprendemos a lidar com isso.
Tu és um deles. Parabéns!

(autor desconhecido)

06/12/2003

O Rapaz Azul by João Paulo Vieira

Era uma vez um rapaz azul que vivia na lua... Ele nunca soube como foi lá para. Passava os dias a correr, na verdade, não tinha outra opção. No dia em que se distraísse e não corresse no sentido contrário ao da rotação da lua, cairia no infinito. É que na lua (pelo menos naquela onde viva) existia uma gravidade bizarra: tudo o que ficasse de cabeça para baixo, caía, naturalmente (esta é uma das explicações possíveis para as chuvas de meteoros, que não são mais que pequenas pedras atiradas pelo rapaz azul, durante os momentos de reflexão). Ele tinha de palmilhar todos os dias muitos e muitos quilómetros e quilómetros para evitar a queda. Mas esta não era a única cruz que carregava. As estrelas remotas e minúsculas são o único pedaço de luz a que tem direito.
Um dia, deixou-se adormecer, aconchegado numa pequena cratera, e só acordou quando o corpo começou a deslizar sorrateiramente. Sobressaltado, levantou a cabeça e desatou a correr. O pânico aumentou-lhe o ritmo das passadas e disparou carradas de adrenalina para o sangue (obviamente azul). Com os sentidos mais alerta, não conseguiu evitar e olhou, de relance, para baixo. Viu uma bola gigante, iluminada e igualmente azulada (o tom de azul era mais brilhante que o da sua pele). Durante os muitos e muitos anos que se seguiram ao deslize, nem por ma vez conseguiu voltar a olhar para a grande bola luminosa. Embora a visse todos os dias, cada vez mais brilhante, na sua memória. Sempre que se deitava, desejava voltar a escorregar. Uma tentação que lhe aparecia em forma de sussurro, inconsciente e tentados, sempre que olhava a escuridão. Um dia, encheu-se de coragem, despediu-se das estrelas, companheiras e confidentes numa existência solitária, e mergulhou. A viagem já ia longa. Umas três horas. Pelo menos. A bola gigante atingia proporções descomunais, até que os pormenores se tornaram evidentes, até que... Trás! Objectivo atingido. O rapaz azul caiu dentro do saco de um senhor gordo, com barbas brancas, vestido de vermelho e que dizia, insistentemente, “oh, oh, oh!. Olhou em redor e ficou pasmado com o cenário: muitas luzes, cores sem fim, ruídos que nunca tinha ouvido e muitos seres parecidos com ele, mas bastante maiores: estavam todos a correr, tinham sacos na mão e não eram azuis. De repente, o homem gordo pegou no rapaz da lua e entregou-o a um desses seres. A felicidade encheu-lhe a alma. Até que se ouviu: “Como funciona?” Depois de várias experiências falhadas, o rapaz da lua foi abandonado, já sem pernas, braços e cabeça no meio de uma enorme poça de... tinta azul.

In Visão – 04.12.03
Suplemento Especial de Natal

05/12/2003

A Baixa

Muitos anos antes de nascerem monstros, como as Amoreiras, o Colombo e outros afins, a Baixa era o grande centro comercial onde os lisboetas (e não só) vinham comprar as prendas de Natal.

oh, não! Outra crónica de Natal, não!

Não te preocupes, Leitor: a quadra ainda não começou e eu já estou farta dela.
Não, eu queria escrever sobre a magia que envolve a Baixa lisboeta e que, felizmente, não se perdeu com o “assalto” das grandes superfícies. É que, na minha (modesta) opinião – e este BLOG é meu, e eu posso fazer dele o que eu quiser – a Baixa é a Grande Superfície, por excelência.
Mas, recomendo vivamente: num dia frio e soalheiro como o de hoje, passear na Baixa deixa um sorriso no rosto de qualquer lisboeta.
Desço a Rua Augusta: os restaurantes, os cafés, as pessoas que sobem, as que descem, os pombos, as lojas, os pintores, os hippies, o homem-estátua, o frio, os desenhos da calçada, o blaser de xadrez, as luzes, os jovens, os velhos, os menos velhos, as beatas dos cigarros, o lixo no chão, os gorros, as castanhas assadas, do Rossio até ao Arco, os ciganos, os brancos, os pretos, os namorados, os grupos, as excursões, os solitários,

ah, os solitários

os rostos pesados e frios, o calor de um olhar esquecido... e o Fado. O Fado perdido nas ruas, vindo não se sabe bem de onde. Às vezes, tenho a sensação que o Fado sempre esteve ali.

Porque Lisboa não existe sem Fado.
Porque Lisboa não existe sem a Baixa.

E paro. O meio da Praça, paro.

Porque Lisboa não existe sem o Rio.
Porque, Lisboa, eu não existo sem ti.

04/12/2003

Infância

Tenho muitas memórias da minha infância, que fiz questão de nunca esquecer por sentir que foi a época mais feliz, mais despreocupada e, principalmete, mais mimada da minha vida (e como eu gosto de ser mimada...). Sei também que há muitas cenas desta época que se perderam nos recantos mais escuros da memória. Nunca pensei muito nisto porque, como é óbvio, se estão perdidos, só os vou encontrar se, por algum acaso, viver qualquer outra cena que os faça sair do seu canto escuro. E foi o que se passou ontem à noite. Passo a contar...
Tenho andado gripada há uns dias: nariz entupido, tosse, garganta inflamada, o costume. Depois de passar uma noite em claro, com ataques de tosse consecutivos (e de não deixar o resto da família dormir), a Mãe lembrou-se de uma mezinha antiga, que costumava fazer quando eu era pequena: esfregar Vick no peito. Ora, mesmo sem querer e sem pensar nisso, cumprimos o ritual antigo do vestir pijama - lavar os dentes - chichi - cama. Deitei-me e

Mãe, já estou na cama!

ela entrou com o frasquinho na mão, tirou a tampa verde, pôs um pouco daquele creme esbranquiçado nos dedos, esfregou-o no meu peito...
Eu não sei se foi do cheiro, se foi do toque dos seus dedos no meu pescoço, se foi das suas mãos frias, ou se foi tudo junto, este pedaço de memória foi sair disparado do seu cantinho escuro para um espaço muito mais recente.
E eu vivi tudo aquilo outra vez.
A Mãe afagou-me os lencóis, o edredon, bem junto ao peito, beijou-me a testa, apagou a luz

Boa noite!

E, naquele momento, eu tive sete anos, outra vez...

O Primeiro

Séc. XXI - Esse Ganda Maluco!

Para o bem ou para o mal, as novas tecnologias trouxeram-me esta nova maneira de comunicar.
Por agora, não tenho muito tempo a perder com esta nova brincadeira. Isto, na verdade é mais um teste do que qualquer outra coisa.
Anyway, bem-vinda/o ao meu espaço de pequenos / grandes pensamentos que, por vezes, povoam a minha a cabeça.