31/01/2004

Pensamento do Dia

"Se todos os teus esforços forem vistos com indiferença, não desanimes.
Porque também o Sol, ao nascer, dá um espectáculo incrível e, no entanto, a maioria da plateia continua a dormir."

Já passaram uns dias,

por isso acho que já posso falar no assunto, mais friamente.
Num post, a Loira disse que estava desiludida com o mundo em geral, e com algumas pessoas em particular. Eu não iria tão longe, e deixava o mundo sossegadito onde está, nas suas voltas habituais. Mas há pessoas que não sabem onde parar, e desiludem (e irritam), mesmo sem que eu saiba quem são.
Quem tem acompanhado a Casca desde o início sabe do que estou a falar. Mesmo assim, quero explicar.
No campo Comentários, que eu retirei há alguns dias, por motivos de força maior, alguém que assina como Int3rrupt começou a fazer uma pseudo-campanha política, deixando aos 20 e 30 comentários que nada tinham que ver com nada do que se falava aqui. Eu, que até achei piada nos primeiros dias, e que até tenho bom feitio e tolerância para esse tipo de brincadeiras, fui deixando passar, para ver se o personagem se cansava e acabava por desistir.
Não desistiu. E eu respondi às provocações da melhor maneira que soube: pedi que parasse com a campanha na MINHA Casca, que criasse um blog dele, onde ele pudesse escrever o que lhe apetecesse, e pedi que, pelo menos, assinasse o nome verdadeiro ("ou não tens tomates para te mostrares, escondendo atrás de um nick?" – foram, mais ou menos, as minhas palavras). Não sei se fui muito rude, se ofendi, o que é certo é que é assim que eu sou, e não sei ser de outra maneira.
Ao tirar o campo Comentários da Casca, alguém ainda me falou em censura.
-Vê lá, Susana, não podes proibir que as pessoas escrevam os comentários que querem. Isso é censura!
Mas posso não convidar estranhos para dentro da MINHA casa, e obrigar os MEUS convidados a conviver com eles. E foi isso que eu fiz: retirei os Comentários, inseri um link com o mail da Casca, e convido TODOS (incluindo o In3rrupt) a deixar os comentários que quiserem, por mail.
É que o Int3rrupt não percebeu que não estava apenas a incomodar-me a mim, mas a todos os outros visitantes da Casca d’Ovo!
Censurem-me, critiquem-me, chamem-me os nomes que quiserem. Mas este blog é MEU (sim, Int3rrupt, é MEU, e não é teu, como escreveste mais que uma vez) e EU faço dele o que EU quiser.
Agora, e voltando ao início, esta foi a razão da minha desilusão com algumas pessoas em particular (e espero que o mundo em geral continue no seu cantinho, nas voltas do costume).

E eu, que gostava tanto de ter um feed-back do que eu escrevo…

30/01/2004

Um dia,

ainda hei-de escrever aqui sobre:

as músicas que fazem levantar os pêlos dos meus braços - Mafalda, Palma, Dave Mathews, Tom Jobim…

a minha fixação por cabelos compridos - porque tenho o cabelo fininho e não consigo deixar crescer

os livros de Vergílio Ferreira, e o que eles me fazem sentir

os filmes da minha vida

o meu Gato Simão, e outros animais da família (o Tobias, o Tomás, o Nicolau, que é Gandalf, e o novíssimo Bekas)

as memórias que os meus pais trazem de um continente longínquo que deixaram para trás, a meio das suas vidas

os lugares por onde viajei - desde as capitais europeias ao deserto do Arizona

a vida no Teatro - porque ainda há tanta coisa por contar

o Gosto/Não Gosto especial, sobre uma pessoa especial - que já está escrito, e só falta publicar

os meus amigos - aqueles que ainda falam, os que já não aparecem, os que não estão, mas sei onde encontrá-los, os que estão sempre, os que estão às vezes, mas que gostariam de estar mais vezes

E tantas outras coisas…

Só escrevi este post para que não aconteça o mesmo que ontem: fiquei a olhar para o ecrã e o máximo que eu consegui escrever foi – Já disse que odeio o Inverno?

Tenho pena!

Tenho muita pena de não ter mais tempo para dedicar à minha Casca.
Perdi umas manhãs (duas, para ser mais precisa), a navegar pela blogosfera. Descobri coisas lindíssimas, outras muito giras, outras menos interessantes. Descobri que há pessoas que escrevem do seu sofá à espera que o seu bebé chegue, outras que escrevem posts de minuto a minuto, outras ainda escrevem do Norte da Europa, a contar as suas experiências de Erasmus.
Descobri que seria mais fácil se tivesse um portátil constantemente ligado à net sem fios, onde pudesse espreitar todos os blogs quando estivesse no Metro, no autocarro, na casa de banho.
Ou então, que toda a blogosfera estivesse compilada num livro, que eu pudesse levar na minha mochila, e sendo constantemente actualizada, por páginas que apareciam e desapareciam, consoante o que eu fosse descobrindo, qual mundo fantástico do Harry Potter.
Ou uma maneira que eu pudesse escrever todos os posts que me surgem já escritos na minha cabeça, mas que, ao fim do dia, com tanto cansaço acumulado, ficam guardados em hiden folders, nos my documents deste mini portátil que é o meu cérebro. E vejo-me, de olhar vazio, às 10 da noite, a tentar lembrar-me do turbilhão de posts que não escrevi.
Resultado: comprei um caderno A5 de capa azul e com argolas (iguais aos que eu usava no Colégio, que saudades), que anda sempre na dita mochila. Já consigo escrever posts no Metro; resta-me preencher a lacuna de ver blogs na casa de banho.

É que a vida do Teatro é assim: absorve-nos o tempo, a atenção. Mas eu gosto tanto dela assim…

27/01/2004

E a vida continua...

Ainda estou meio "hipnotizada". Acontece sempre que chego de viagem. Passo dias a tentar absorver tudo o que se passa à minha volta, tudo o que vejo, o que oiço, o que leio, e fico assim, quando tudo acaba.
Eu sei que as pessoas são todas iguais, independentemente de terem nascido e de viverem noutro país, mas, é mais forte que eu, a minha tendência é ficar a olhar para elas, para ver se descubro alguma diferença.
Também sei que há culturas mais distantes, onde se notam logo as diferenças, não físicas, mas de hábitos, de gestos, de olhares... E que Espanha está aqui tão perto e nem se notam esse tipo de diferenças com o nosso país, à beira-mar plantado. Mas fico sempre à espera DA diferença, DO original, de alguma coisa que nunca vi. E fico assim, "hipnotizada".
Barcelona.
Eu bem disse que o fim-de-semana ia ser comprido... Nunca lá tinha estado e já era a minha cidade de eleição. Por tudo o que eu tinha visto em filmes, lido em livros, por todas as fotos que já tinha visto, pelos relatos que me faziam, quem lá tinha estado, era A MINHA cidade de eleição. E se eu já tinha como sonho viver em Barcelona, agora tenho a certeza que esse sonho vai concretizar-se, ou pelo menos vou fazer por isso.

Só para finalizar, não queria deixar de confessar o seguinte: senti-me em casa. Houve momentos em que senti que já tinha visto aquelas casas, já tinha andado por aquelas ruas, já tinha visto aqueles parques. Não acredito na reencarnação, mas...

... mas a vida continua, e cá estou eu em Lisboa, outra vez.

22/01/2004

26 anos, 364 dias, algumas horas...

Último post com 26 anos.
Avizinha-se um fim de semana comprido.

Até terça companheiros, amigos, palhaços, marionetas deste Teatro que é a vida.
Até ao meu regresso.

19/01/2004

Ary Poeta (ou o medo da Solidão)

Amarga, a tua vida
Breve, fugaz, genial
Brincas com as palavras
Gozas, picas, provocas
Tens a voz da revolução
Lutas com o punho erguido
Com o cravo na boca

“Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia”

Tens medo da solidão
Enches a tua casa
De risos, de álcool
De amigos, de pessoas
Desconhecidos, por vezes
Companhia, sempre
Angústias sem fim
Depressões, opções, opressões

“Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazemos da tristeza
graça.”

No alto desta cidade
Desta Lisboa que tanto amas
Descansas agora em paz
Morto, não! Adormecido.
Os génios nunca morrem
Vivem, para sempre
Na história de um povo

“É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.”

E tu, ah, Poeta,
Tu vives neste povo de Abril
Que te amou, odiou
Mas nunca te esqueceu!
Adeus, Poeta,
Até breve!

11/01/2004

Gosto / Não Gosto

Gosto do mar, do azul, do Verão.
Não gosto do Inverno. Odeio o Inverno.
Gosto de passear na praia e do bronze do final do Verão. Gosto de ficar a olhar as pessoas que passam e imaginar como será a vida delas.
Gosto de escrever, gosto de ler, gosto de passar horas no computador. Não gosto de não ter tempo para passar horas no computador.
Gosto de cores fortes (agora, porque antes não gostava) e dos meus sapatos Camper. Gosto de ténis de todas as cores. Gosto de cor-de-laranja, não gosto do amarelo. Não gosto de futebol.
Não gosto de comer, mas gosto de sopa, de puré de batata instantâneo (tem de ser da Maggi) e de peixe cozido. E de gomas. Adoro gomas.
Gosto de dormir. Não gosto do tempo que se perde a dormir.
Gosto do Gato Simão e do Cão Nicolau, que é Gandalf. Não gosto de aves nem de penas.
Gosto do meu carro, de andar a pé e da rapidez e da comodidade do Metro.
Gosto de trabalhar, gosto do Teatro, gosto dos colegas e do ambiente do Teatro. Não gosto quando as coisas correm mal, não gosto de culpas mal atribuídas.
Gosto de café e de fumar um cigarro antes de dormir. Gosto de fumar mal acordo, mas só o faço de férias.
Gosto de gostar.
Não gosto de não gostar.
Mas do Inverno, não gosto mesmo.

A Vida no Teatro – ou o Teatro da Vida

Amanhã é outro dia...
Vamos todos para casa, cansados mas felizes. Os aplausos, as ovações, 600 pessoas de pé que, durante estas (quase) três horas, sonharam, riram, aplaudiram e – tenho a certeza, algumas delas – choraram. Mais um dia, valeu a pena. Só por causa do público, vale a pena voltar amanhã. Aquele tempo todo com um sorriso estampado no rosto, a energia da dança, a magia da música, a correria dos camarins, muda a roupa, troca a peruca, os improvisos

o cansaço, não aguenta

entra o palco, ar snob, é aristocrata, é finíssima, é novo-rico, sai do palco, muda a roupa

merda, todos os dias o mesmo

é taberneiro, é bêbedo, é varredora de ruas, mas o sorriso está lá, sempre um sorriso, como se fosse a estreia, como se fosse a primeira vez. O espectáculo vai começar

e já o cansaço

ouve o público entrar na sala, a agitação, a maquilhagem, a concentração.
A aula de voz, o aquecimento, a aula de sapateado, não, hoje é de ballett. Chega mais cedo, vai ao bar, vai à contabilidade, ao guarda-roupa, à bilheteira. A produção, o encenador, amanhã começa mais cedo

há ensaios: está tudo mal

amanhã, não sabe se vem. Cansaço, exaustão, não quer mais representar.

quero ser eu, deixem-me ser eu. Vou desistir, hoje, é o meu último dia. Não quero mais.

Chega. Olá, bom dia!

08/01/2004

Resposta à Loira

Tomei uma decisão:

vou lutar com todas as minhas forças. Nada vale a pena se nada fizermos.
Obrigada, Loira. Mesmo longe, foste uma grande ajuda.

Casca d'Ovo

Já me perguntaste

as poucas pessoas a quem eu falei do meu blog

porquê Casca d’Ovo?

Tentei explicar

e até acho que consegui

o melhor que pude, mas vou deixar aqui a explicação. Primeiro, porque tem lógica; segundo, porque me parece o local mais adequado para deixar a explicação e, terceiro, para não ter que explicar a mais ninguém.
O nome do meu blog foi difícil de encontrar. Pensei em nomes vulgares, para ser original porque pensei em nomes originais, e caí na vulgaridade. Então pensei

o que é isto do meu blog?
é só um espaço para expor os meus pensamentos?
um diário secreto?

E cheguei à conclusão que queria que o meu blog fosse um sítio

sim, um sítio, um local, físico, palpável

onde eu me sentisse bem, aconchegada, quentinha, confortável, protegida, onde eu não tenha medo de nada nem ninguém, onde nada nem ninguém me possa fazer mal. O sítio mais parecido com isto de que me lembrei, foi a barriga da minha mãe

o que faria um nome piroso

ou a placenta

ainda pior

e fui levada a pensar nas barrigas das mães de outros animais. Pensei, pensei... e cheguei às aves

e eu que odeio aves e penas e todos os animais que voam

e imaginei-me uma ave dentro do seu ovo, quentinha, protegida, aconchegada, confortável. E pensei que, dentro da casca do ovo, deve ser um sítio perfeito para me esconder.

E aqui me tens, na casca do meu ovo.
Na Casca d’Ovo.

07/01/2004

Estou na merda, mas sempre cheia de estilo!

Um dia destes

pensando bem, já lá vão uns meses. Bolas! Como o tempo passa depressa

eu estava no Centro de Emprego, na sala de espera, e encontro um amigo de longa data, que já não via há algum tempo. Os dias estavam lindos, o verão estava a chegar, mas as coisas não corriam lá muito bem. Ele tinha sido despedido, por qualquer razão que eu não fixei; a mim, não me renovaram o contrato devido a “cortes orçamentais”. Claro que, no Centro de Emprego, dois amigos encontram-se, as novidades nunca podem ser boas.

Nota: este meu amigo, sempre de distinguiu dos outros amigos por andar sempre bem vestido. Enquanto andávamos todos vestidos à puto das fisgas (calças, ténis, t-shirts, o mais prático possível), ele fazia questão de aparecer de fato e gravata, muito cheiroso, como quem acaba de sair do banho.

Continuando, o que te traz cá, que é feito de ti, mas, a sério: como é que estás? E a resposta, das mais pequenas e mais complexas que já ouvi na vida e que, até hoje, nunca me saiu da cabeça

Estou na merda, mas sempre cheio de estilo!

Ou seja, a vida é curta; na sua pequenez, parece que nada está certo, temos uns dias bons e

parece

o dobro de dias maus mas, o que é que isso importa? Por fora, estamos lindos, bem arranjados, animados, cheios de estilo.
Esta foi das lições mais curtas e básicas, e uma das mais importantes que aprendi na vida. Posso estar na lama, devastada por dentro mas, por fora, ninguém nota, ninguém desconfia, ninguém vê.

Estou na merda, mas sempre cheia de estilo.

05/01/2004

Não... Hoje não...

Hoje foi um dos piores dias da minha vida.
Não me apetece escrever nada.

Talvez amanhã...