19/01/2004

Ary Poeta (ou o medo da Solidão)

Amarga, a tua vida
Breve, fugaz, genial
Brincas com as palavras
Gozas, picas, provocas
Tens a voz da revolução
Lutas com o punho erguido
Com o cravo na boca

“Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia”

Tens medo da solidão
Enches a tua casa
De risos, de álcool
De amigos, de pessoas
Desconhecidos, por vezes
Companhia, sempre
Angústias sem fim
Depressões, opções, opressões

“Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazemos da tristeza
graça.”

No alto desta cidade
Desta Lisboa que tanto amas
Descansas agora em paz
Morto, não! Adormecido.
Os génios nunca morrem
Vivem, para sempre
Na história de um povo

“É da voz do meu povo uma criança
seminua nas docas de Lisboa
que eu ganho a minha voz
caldo verde sem esperança
laranja de humildade
amarga lança
até que a voz me doa.”

E tu, ah, Poeta,
Tu vives neste povo de Abril
Que te amou, odiou
Mas nunca te esqueceu!
Adeus, Poeta,
Até breve!

Sem comentários: