04/12/2003

Infância

Tenho muitas memórias da minha infância, que fiz questão de nunca esquecer por sentir que foi a época mais feliz, mais despreocupada e, principalmete, mais mimada da minha vida (e como eu gosto de ser mimada...). Sei também que há muitas cenas desta época que se perderam nos recantos mais escuros da memória. Nunca pensei muito nisto porque, como é óbvio, se estão perdidos, só os vou encontrar se, por algum acaso, viver qualquer outra cena que os faça sair do seu canto escuro. E foi o que se passou ontem à noite. Passo a contar...
Tenho andado gripada há uns dias: nariz entupido, tosse, garganta inflamada, o costume. Depois de passar uma noite em claro, com ataques de tosse consecutivos (e de não deixar o resto da família dormir), a Mãe lembrou-se de uma mezinha antiga, que costumava fazer quando eu era pequena: esfregar Vick no peito. Ora, mesmo sem querer e sem pensar nisso, cumprimos o ritual antigo do vestir pijama - lavar os dentes - chichi - cama. Deitei-me e

Mãe, já estou na cama!

ela entrou com o frasquinho na mão, tirou a tampa verde, pôs um pouco daquele creme esbranquiçado nos dedos, esfregou-o no meu peito...
Eu não sei se foi do cheiro, se foi do toque dos seus dedos no meu pescoço, se foi das suas mãos frias, ou se foi tudo junto, este pedaço de memória foi sair disparado do seu cantinho escuro para um espaço muito mais recente.
E eu vivi tudo aquilo outra vez.
A Mãe afagou-me os lencóis, o edredon, bem junto ao peito, beijou-me a testa, apagou a luz

Boa noite!

E, naquele momento, eu tive sete anos, outra vez...

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