Se me perguntassem, há dez anos, como imaginava a minha vida aos trinta, a reposta seria bem diferente da realidade. De certeza que falava em bebés, em marido, em realização profissional, em estabilidade. Se me perguntarem hoje como me imagino aos quarenta, a resposta não passa, de todo, por aqueles quatro factores.
Não sei bem se será este o caminho que eu quero, mas de certeza, não foi este que eu planeei. Não me perguntem se estou feliz, se estou realizada. Também não saberia responder. Tudo isto está a ser uma grande surpresa para mim.
Hoje faço 30 anos.
Quando o meu irmão fez trinta anos e uma festa com balões, com sanduíches de Panrico com fiambre aos triângulos, caramelos de fruta espalhados pela mesa e frangos assados cortados aos bocados comidos em pratos de plástico, confesso que achei aquilo tudo muito surreal. Nunca imaginaria uma pessoa com trinta anos com aquele género de festa. Pensei que os “crescidos” de trinta anos fizessem coisas com mais charme, com mais maturidade. Ele fez há pouco tempo 34 e estava a trabalhar. Mas tenho a certeza que, se fizesse uma festa, teria os mesmos enfeites, as sanduíches e os caramelos.
Hoje faço 30 anos.
E não vou comemorá-los com filhos, com um marido. Não pedi o dia de férias nem ninguém me foi buscar ao trabalho para um jantar romântico. Não recebi rosas nem cartões coloridos. Não tive nenhuma surpresa, não apareceu ninguém que eu não estivesse à espera. Não fosse o bolo com leite condensado que levei para o trabalho, o meu dia teria sido exactamente igual a todos os outros 364.
Hoje faço 30 anos.
No fim-de-semana vou comemorá-los com alguns dos meus amigos. Queria fazer uma festa em grande, uma coisa diferente. Queria uma festa de três dias que ficasse na memória de todos por muito tempo, porque afinal, eu faço 30 anos. Mas o medo de falhar impediu a minha imaginação e vou acabar por fazer um jantar igual a tantos outros, e uma saída igual à de todos os fins-de-semana. Só que com mais gente!
Hoje faço 30 anos.
Mas não importa se são 30, 31 ou 35… Não importa quantas pessoas vão a uma festa. Não importa o que se come nessa festa, Panrico ou caviar. Não importa onde se festeja, não importa quanto tempo vai durar a festa.
O que importa, afinal?
O que importa, na verdade, e isto é que me melindra, é que não era isto que eu esperava da minha vida. Não eram estes os passos que eu pensava dar. Não era esta a estrada que eu planeava seguir. Esta é a vida que eu tenho, mas sinto que não fui eu quem a escolheu. Ela foi escolhida por mim.
Hoje faço 30 anos e não reconheço a cara que, há 30 anos, vejo no espelho.
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