30/12/2015

Adéu, BCN. Fins aviat!

Estive a fazer as contas. Se não me enganei, esta foi a sétima vez que aqui estive. 
Arrisco dizer que conheço esta cidade quase tão bem como o Porto. Aqui já fui turista, já fui feliz, já estive em lua de mel, já sofri desgostos de amor, já fui local, já fui americana, já me chamei Ada, já me perdi, já me encontrei. Agora até já posso dizer que já corri 5km. 
Se me oferecessem emprego aqui, eu mudava-me já amanhã. Tenho a certeza que, depois de Lisboa, esta é a melhor cidade para criar os meus filhos. Eles adorariam a cultura da rua, adorariam poder andar de trotinete e patins pelos passeios, pelos parques. Eu adoraria o clima seco, a praia mesmo aqui ao lado, andar de transportes com carrinhos de bebé sem que me olhem de lado, andar a pé por passeios largos, respeitar as bicicletas, ir ao mercado. 

Barcelona é a minha segunda cidade. Aqui sinto-me em casa. Sinto que faço parte. Sinto-me descansada, segura e feliz.
Até breve, Bcn. 
Hasta pronto!

La Barceloneta.

29/12/2015

2015

Odeio balanços. Detesto olhar para trás. Não gosto de perceber o que podia ter sido diferente, onde errei. Não gosto de perceber que errei.
No final do ano mais cruel que já vivi, não olho para trás. Ainda não consigo olhar para a frente. Neste momento, preocupo-me em procurar a armadura que me falta para conseguir enfrentar a realidade. 

Deixei-a arrumada aqui, algures. Eu sei que deixei...

28/12/2015

Foi Natal!

Acho que já disse por aqui que nunca gostei muito do Natal. Olhando para trás, acho que foram duas as razões principais: uma, porque o meu Avô materno adoeceu bastante e fez com que os Natais fossem passados só com a minha família paterna; outra, uns anos mais tarde, porque o meu Avô paterno deixou-nos nas vésperas de Natal. Desde que sou adulta, foi uma época agridoce por estas razões. Além de tudo isto, confesso: odeio ser obrigada a dar presentes, odeio o consumismo desenfreado que esta época significa, odeio o facto de as pessoas cegarem no mês de dezembro. O trânsito anda impossível, não se consegue comprar um litro de leite sem ficar 20 minutos numa fila... um desespero. Todos os anos penso que quero adormecer a meio de novembro e acordar a 6 de janeiro. 
Desde que sou Mãe, o Natal traz-me mais alegrias. Ainda assim, acho ridículo a quantidade de brinquedos que os miúdos recebem e que a maioria acaba por ficar esquecida num canto da casa. Obriga-me a fazer limpezas frequentes ao quarto de brincar, o que não é mau se tivesse tempo para as fazer.

E chega o Natal de 2015. E chega o primeiro Natal nesta nova condição que ainda não baptizei. Chega o Natal, tempo de partilha, da Família e dou por mim a olhar para a minha, para o projecto que eu sonhei e para o qual lutei e não vejo nada mais que cinzas. Recordações. Memórias. 
Os meus filhos estão todos na idade de perceber o Natal como deve ser: todos acreditam no Pai Natal, todos percebem a magia, todos estão na idade de valorizar a Família tal como eu os eduquei a valorizar. Fiz tudo para que essa magia acontecesse. Fiz os possíveis para eles se lembrarem deste Natal com a mesma felicidade. Tudo o que esteve nas minhas mãos, fiz. 

O sabor agridoce esteve apenas na minha boca. 

27/12/2015

Flying solo.

Depois das notícias dos últimos atentados pela Europa fora, estar a andar acima das nuvens não deixa de ser um desafio. Ainda assim, não deixa de ser um dos espectáculos mais bonitos de se ver e das sensações mais apetitosas de sempre. Viajar sozinha. 

Há quanto tempo...

13/12/2015

Uma corrida é muito mais do que correr.

Uma corrida vai muito para além do físico. Muito para além do explicável. 

Hoje fiz 10km. A minha segunda corrida a sério foi feita sozinha: desde o momento em que saí de casa até este momento, sentada no chão da minha sala com o computador no colo. Sozinha. 
E podia vir aqui contar-vos todos os pormenores técnicos da corrida e da minha prestação, mas eu sou uma pessoa sensorial e tudo foi muito para além do físico. 
Comecei a um ritmo estável, sem me importar muito com as pessoas que me ultrapassavam. Nos túneis, aproveitei o embalo das descidas para compensar as subidas. A zona das Avenidas Novas é uma zona que me é muito querida, vivi ali 5 anos, ali fiz e tive um filho, trabalhei ali, fui muito feliz, cresci muito ali. Tudo me passou pela cabeça: todas as lembranças, todas as pessoas. 
Após os 4km, comecei a quebrar. Apetecia-me parar mas não via ninguém a andar e não quis dar parte fraca. Pensei: já fizeste 5km sem parar, vais mesmo querer parar agora? Abrandei depois primeiro abastecimento de água: parecia que as pernas já não podiam mais e a água que bebi não caiu muito bem. Veio a dor de burro, que já não sentia há meses. 
Entre os 6 e os 8km, ia alternando entre a corrida e a caminhada rápida. Lá se foi o meu ritmo. Depois dos túneis todos, começo a ver os assistentes: famílias, apoiantes, turistas. Tal como a outra corrida, ver aquelas pessoas deu-me imensa força. São pessoas que não conheço, estão ali para apoiar alguém, mas olham-nos nos olhos, batem palmas, falam connosco. Sinto uma força vinda sabe-se lá de onde e retomo o ritmo, afinal, os últimos quilómetros eram a descer. 
Lembro-me de sentir uma dor na virilha durante algum tempo. Não me lembro quando a dor de burro parou. Lembro-me de sentir muito desconforto por causa das meias. Mas nesses últimos quilómetros, sentia o corpo anestesiado. Já não doía nada. Já não sentia nada. 
A meio da Av. da Liberdade, o vento soprou mais forte e começo a ver folhas a caírem das árvores. Em câmara lenta. Olhei para cima e tentei captar o momento como se fosse uma máquina fotográfica. Foi talvez a imagem mais bonita que os meus olhos se lembram de ver. Tentei fechar os olhos por instantes. Foi o momento mais especial da prova. A chegada estava mesmo ali.

Cheguei ao fim. O objectivo estava cumprido. 

Afinal, não corri sozinha. Corri com as lembranças, os sítios, as pessoas que fazem parte da minha vida. Corri com os meus filhos, que ganharam a minha medalha. Corri com os Amigos que deixaram mensagens de incentivo. Corri com toda a circunstância que me trouxe até esta corrida.

Cheguei ao fim. 
10km. 
1h06m01s


05/12/2015

A Sala da Mariana

O acaso prega-nos algumas partidas, mas nem todas são más. A mim, fez-me tropeçar num grupo de pessoas fantásticas, muito bem resolvidas, muito diferentes mas muito na mesma onda, que têm em comum o facto de ter tido filhos na turma de uma Educadora muito à frente.
E o acaso podia ter colocado nessa turma pais menos sãos, mais picuinhas, mais ou menos desviantes, mas não pôs. Podia ter colocado alguns pais mais reivindicativos, mais contra a corrente, mais nódoa. Mas, ao fim de todo o percurso pré-escolar dos nossos filhos, o pano saiu imaculado.
Dizem que os Amigos escolhem-se. Estes, o acaso escolheu por mim. E estou certa que, quando o fez, os atros estavam todos muito alinhados no sítio certo.

Obrigada, meninas. Pelo jantar de ontem, pela presença, pelas mensagens, pelos disparates, pelas gargalhadas e pelos últimos anos.
Vamos continuar sempre a ser a Sala da Mariana, porque esta sala foi e vai continuar a ser, sem dúvida, a maior!

04/12/2015

12 anos.


Hoje, este blog faz 12 anos. DO-ZE anos!

Admito que já teve melhores dias. Mas confesso que já teve piores. E saber-vos desse lado, receber as vossas mensagens, ler os vossos comentários é o mimo que eu preciso neste momento.
Obrigada por continuarem desse lado. Obrigada pelo colo.

Parabéns à Casca. Venham mais 12!

02/12/2015

Às vezes fico baralhada. Fico sem saber se foi o normal que se tornou estranho ou se o estranho se tornou, nestes últimos meses, normal. Há momentos de conforto e serenidade. Mas esses agora são estranhos. Normal é o sentimento de desconforto, de estranheza, enquanto não encontro o meu lugar. Eu não gosto de não saber o meu lugar. Não gosto de me sentir perdida. Não gosto e não quero.

Estou cansada de falar. Mas também estou cansada de ouvir. O silêncio é um bem escasso, ultimamente. Devia ser obrigatório um momento de silêncio por dia: cerca de 15 minutos já seria bom. Consigo a sensação parecida com o silêncio total e absoluto quando estou debaixo de água. É deste silêncio que preciso.

O silêncio da corrida é confortante. Deve ser. Há tanto tempo que não corro que já não me lembro. O barulho das passadas, o som da respiração. Há um certo conforto no cansaço físico. O cansaço emocional é desgastante. Corrói o corpo, a paciência, as relações com os outros. E é estranho. Mas este estranho tornou-se normal.

- Estás triste? - perguntou-me o Manuel há dias. Dois anos e meio de gente. Naquele raro e estranho momento, ele não estava a chorar nem a gritar nem a bater nos manos. Ele não estava a fazer uma birra. Fazer birra, para o Manuel, é o normal.
Tive vontade de lhe dizer que eu não estou triste. Nem zangada. Nem com raiva. Estou magoada, o que é muito diferente. E tive vontade de lhe explicar que viver com esta mágoa é um peso grande demais para se conseguir suportar. Mas é um peso que se tornou normal.

Disse-lhe que estava muito contente porque o Manuel não estava a fazer birra.

Ele abraçou-se a mim e disse: a Mamã é munto linda.

24/11/2015

Importa-se de repetir? Parte III

- Mamã, sabes quanto é 5+5? É 10. E 10+10? É 20. E 20+20?
Eu tentava responder, mas ele não dava tempo. 
- E 100+100? É 200. E...
Interrompi:
- Agora sou eu. Diz-me lá se sabes quanto é 5-5!
- Xiiii, tão fácil!! É zero!
- E 0-5?
- É 5. 
- Não é mais! É menos! Zero menos cinco dá quanto?
- Então, tenho que pôr 0 na minha cabeça. Menos 5... Dá... Hummmm...
Ajudei:
- Imagina que tens zero rebuçados e tiras cinco...?
- Ah!! Se tenho zero, tenho que ir pedir rebuçados aos amigos! 

23/11/2015

Importa-se de repetir? Parte II

- Fazes assim: pegas nesta peça e pintas de madeira, precisas de três metades médias de fita-cola e depois desenhas um balão e pintas de qualquer coisa de cor. Por exemplo, de vermelho do Benfica. Apontaste tudo o que precisas, Mamã?

Hã?

22/11/2015

A vida continua?

Viver em constante sobressalto. Sentir o coração na boca a toda a hora. Saber que a qualquer palavra mais sensível, as lágrimas vão escorrer. Provar as palavras debaixo da língua que nunca vão ser ditas. Os toques dos dedos que nunca se vão sentir. O cheiro, o sabor, o quente de um corpo que nunca mais se tocará. 
A vida continua. Tem continuado na rotina de sempre, na velocidade de sempre, no desgaste de sempre. Os dias têm corrido muito depressa, tudo volta à normalidade. Os amigos mostram-se presentes, preocupam-se e querem confortar. Aprecio. Agradeço. Muitas vezes, fica-se alegremente surpreendida com a proveniência desses carinhos, vindos de gente que não se estava à espera. A vida continua. 
Ainda há dias menos bons. Há refúgios de sempre que nos falham. Há a solidão que se sente no meio da multidão. A falta de tempo para chorar. É tão importante chorar... 
A voz embargada a querer gritar. A urgência em disfarçar. A coragem para resolver.

Contigo sou mais forte. Sem ti, sou apenas eu. 

13/11/2015

1 mês

Já passou um mês. 
O seu coração já não salta quando ouve o elevador do prédio. Já não fica mais triste quando não pára no seu andar. Já não espera ouvir uma chave no lado de lá da porta. Já não se zanga com o barulho que os miúdos fazem de manhã, porque já não há ninguém a dormir. 

Passou um mês. 
E já consegue olhar o espelho de frente, já consegue sorrir, já vê o sol a brilhar quando olha para o céu. Já consegue segurar as rédeas dos seus dias em vez de conduzir em piloto automático sem pensar o rumo que isto vai levar. 

Passou um mês. 
A sensação de querer desaparecer já não existe. As lágrimas já conseguem ficar guardadas, as noites já se dormem. Já tem a certeza que não vai tocar um despertador a lembra-la que isto não passou de um pesadelo. 

Passou um mês. 
E esta é a realidade. E este dia 13 vai ficar-lhe para sempre gravado como o dia em que o chão desapareceu. O dia em que lhe foi arrancada uma boa parte da vida. Uma das mais importantes.

Já passou um mês. 
A história de Amor mais bonita que eu conheço chegou ao fim.



10/11/2015

5k

Foi a minha primeira prova a sério. Daquelas com chip no sapato, tempo contado, dorsal na camisola. Foram apenas 5km mas neste momento é o máximo que eu consigo correr. Há menos de dois meses, queixava-me que não fazia mais que 3,5. 
Tenho tido cada vez mais vontade de correr. Não tenho muita disponibilidade para treinar (nas melhores semanas, consigo treinar uma vez) mas tenho a sensação que, com um pouco mais de treino, facilmente chegaria aos 10km. 
No dia da corrida (um evento banal para a maioria das participantes mas tão especial para mim), estava com as emoções à flor da pele. Os miúdos estavam com o Pai e quis ouvir a voz deles antes de começar. Chamaram por mim e eu chorei. 
No percurso, vi imensos filhos a puxarem pelas Mães, a incentivarem, a gritarem, com cartazes, a baterem palmas. Senti vários apertos na garganta: nenhuma daquelas crianças era minha. Respirava fundo e ia continuando. 
À chegada, liguei-lhes. O António ainda nao percebe que o mais importante foi ter chegado ao fim e ficou desiludido quando lhe disse que não fiquei em primeiro lugar. Mas sobretudo senti necessidade de partilhar esta "vitória" com quem partilha a vida comigo. Só depois me lembrei que a vida já não é partilhada e bati num muro. Frio. Concentrei-me nas vozes dos miúdos (mais do que no conteúdo) e voltei a chorar. Quando desliguei o telefone, tinha  cinco garrafas de água à minha volta e uma voz autoritária:
 - Hidrata-te. E compõe-te. 
Assim o fiz. 

Foi uma sensação do caraças. 28 minutos e 52 segundos. 
5 km inteirinhos. 
É indiscritível. 

Próximo objectivo: 10km. 

02/11/2015

Importa-se de repetir?

Estávamos os quatro no carro, a caminho da escola. Ouvíamos o noticiário das 8h e a jornalista anunciava o fim da greve de fome de Luaty Beirão. Não consegui esconder a minha alegria e manifestei-a em alta voz:
- Que bom! Acabou aquela luta. Aquele miúdo não merecia ser mártir. Que alívio daquela família. Estou mesmo contente.
Começaram as perguntas:
- O que aconteceu? Porque estás contente? Angola é o país do Délcio; é muito longe? O que é uma greve? Porque é que ele tinha fome?
Decidi desligar o rádio e explicar o que tinha acontecido. Fiz os possíveis para que um miúdo de seis anos percebesse.
- Um grupo de rapazes foi preso em Angola porque pensaram que eles queriam fazer mal a quem está no Governo.
- Ao Presidente da República?
- Sim, pensaram que eles queriam fazer maldades e então prenderam-nos. Mas na verdade, eles não fizeram mal a ninguém. Só disseram que não estavam contentes com o Presidente da República.
- Dizer mal é proibido?
- Não é proibido. Só é proibido dizer asneiras e palavras de adultos. Mas eles nem disseram asneiras nenhumas. Foi muito injusto o que fizeram: prenderam-nos sem razão. Por isso, um dos rapazes decidiu parar de comer até serem libertados. Não comeu nada: nem pequeno almoço nem almoço nem jantar durante mais de um mês. Já imaginaste o que isso é? Sabes o que acontece quando as pessoas não comem?
- Morrem?
- Exactamente! Ele estava a ficar doente porque não comia. E hoje decidiu voltar a comer.
- Já não está preso?
- Está. Ele e os outros. Mas agora ele come e já ninguém vai morrer.
- E estás contente?
- Estou.

Dei um tempo para aquela cabeça assimilar tanta informação Estava mesmo contente com as perguntas que me ia fazendo. Ele estava mesmo a perceber e a interessar-se por questões actuais e fracturantes da vida política do século XXI. Já não era o menino desligado a fazer perguntas sem ouvir as respostas. Aquela cabeça estava no lugar.
Passados uns bons cinco minutos:

- Mamã?
- Sim?
- Esse grupo de rapazes eram os Queen?

27/10/2015

Aqui dentro.

Há algumas semanas que me sento no quarto dos miúdos até adormecerem. Normalmente, lia a história, enchia cada um deles com mil beijos e ia embora tratar do resto da casa. Agora, gosto de ficar a ouvir a respiração pesada de quem acabou de adormecer. Gosto de perceber que até a dormir eles são tão diferentes.
Sinto-os a acalmar, o barulho a chuchar na chucha cada vez mais fraco, o ninho que cada um faz até adormecer. 
Fico aqui no escuro até me fartar ou, mais frequentemente, até adormecer embalada no quentinho de um deles. 

Junto deles sinto-me em paz. Sinto-me completa: não preciso mais nada para ser feliz. Sinto-me amada e sinto o Amor incondicional. Sei ainda que sou uma sortuda porque não tenho apenas um grande Amor: tenho três.
Para lá daquela porta, o mundo ruiu. Mas aqui dentro, está tudo exactamente no sítio certo. 

18 meses

Ano e meio de Princesa na minha vida. 18 meses de sorriso doce, olhar curioso, caracóis dourados.

Está teimosa, faladora, espertalhona. Não deixa que lhe dêem a mão na rua, não deixa que lhe dêem de comer, usa o bacio como se nunca tivesse usado uma fralda na vida. Come maçãs inteiras com casca e tudo, se eu deixar está sempre a comer. É vaidosa, tem uma panca com sapatos, adora brincar com carros e com loiças. Canta e dança a toda a hora, ajuda-me a fazer a sopa e a estender a roupa. Ajuda-me com os manos: "Nanuuuu, mêja!" mas está sempre às turras com o Manu:

- Mamã, Nanu bateu.
- Oh, deve ter sido sem querer. Bateu onde?
. Atiiii!!!

18 meses de miúda gira.
Parabéns, little miss T. Obrigada por dares muito mais cor à nossa casa.





25/10/2015

Quando é que se desiste de lutar? Como é que se troca um futuro planeado e pensado ao segundo por uma felicidade incompleta? Como é que tantas certezas e promessas de desfazem em pó? Como vai ser, a partir daqui, esta meia vida que me foi imposta?

"Se a vida te puxa o tapete, salta", dizem eles.

Eles não sabem nada de nada.

17/10/2015

Tenho um filho no 1º ano!

O processo de aprendizagem está a ser maravilhoso.
Sou filha de professora, por isso tenho muitas noções (ainda que muito gerais) dos métodos de ensino básico: sempre gostei de ajudar a minha Mãe a planificar as aulas, a organizar os trabalhos dos alunos, sempre gostei de a visitar em sala e sempre que a visitava tentava participar.
Quando conheci o Professor do António, estava cheia de medo porque sabia que o método usado não era o convencional. Eu conhecia o método. Sabia que ele não iria ter manuais nem TPC's nem fichas. Sabia que ele não ia aprender o aeiou nem encher páginas de letras i's só porque sim. Sabia que era ele quem ia decidir o que aprender e com que ritmo. Sabia que ia ter meninos do 1º e 2º ano na mesma sala de aula. Ainda assim, fui com medo que o meu "bebé" não se adaptasse.
Apesar desse receio, que passou na primeira reunião individual com o Professor, nunca duvidei que era aquilo que eu queria para o meu filho. Que eu queria para nós: que o seu ritmo fosse respeitado, que a curiosidade fosse espicaçada, que ele seria provocado e levado a pensar muito mais além. Nunca duvidei do Colégio (que já conhecemos e que ele já frequenta desde o primeiro ano de vida), nunca duvidei do método (que ele já pratica desde que entrou no Colégio) e, acima de tudo, nunca duvidei do Professor que, apesar de ser novo no Colégio, foi por ele escolhido criteriosamente. Logo, para mim, foi a melhor escolha.
Todos os domingos, o Professor envia por mail o "resumo da semana": uma mail (enorme) com tudo o que os miúdos fizeram, programaram, deixaram por fazer. Todos os domingos fico com a ideia clara do ambiente que se viveu naquela sala, quase ouço as suas dúvidas, quase vejo os olhos atentos, os dedos no ar, os lápis roídos nas pontas. Isto para mim vale ouro porque tenho um filho que não fala do que se passa na escola. Nunca falou.
Talvez tenha errado na profissão. Talvez devesse ter seguido os conselhos da minha Mãe e seguido a profissão dela. Talvez.
Por agora, estou a adorar vê-lo a aprender.

15/10/2015

Tão pequenino e já sabe tanta coisa...

No seu aniversário, o António recebeu de presente (entre outras coisas) uma nota de 20€. Para ele começar a dar valor ao dinheiro, expliquei quanto ele tinha e que podia comprar o que quisesse. Ele quis ir ao Continente comprar um brinquedo para ele e outro para o Manu.
Estivemos a ver imensas coisas e ele já percebia o que podia          ou não com prar com aquela quantia. Escolheu, levamos para a caixa, pagou, recebeu troco. Ao sair:
- Obrigado, Mamã! Estou muito feliz e adoro-te.
- Mas eu não fiz nada, António! O dinheiro era teu.
- Ah, pois é! Obrigado, dinheiro. Adoro-te!

12/10/2015

Pára de crescer já!!

Hoje, no caminho para casa, o António explicou que fizeram uma lista de palavras com EU: museu, meu, adeus. Ao chegar a casa, continuou a lista com o Pai: Eusébio, Matateu, Mateus. 
Feita a lista, o António disse que agora tínhamos que fazer frases com estas palavras. O Pai foi o primeiro:
J - Este é o teu candeeiro. Agora és tu. 
A - Este é o t' Eugénio de Andrade. 

10/10/2015

Mãe (post que devia ter saído no dia 15/9 mas não houve tempo)

Olhar para esta foto traz-me uma sensação de conforto. O colo, o olhar, o mimo. Aqui vejo a Maternidade.
A Mãe que aqui vejo é a minha. A bebé sou eu. Há 38 anos. 
É a Mãe-Avó-galinha, a Mãe-refilona, a Mãe-complicada. É a Mãe-colo, a Mãe-ajudante, a Mãe-apaga-fogos. 

A Mãe que vocês vêem é a minha e faz anos hoje. 

Parabéns, Mamã. 

06/10/2015

1º dia de aulas.

Nunca tive o primeiro dia de aulas. Tive, claro, mas não foi igual ao da maioria das pessoas.
Eu, praticamente, nasci numa escola primária: a minha Mãe foi Professora e eu ia sempre para a escola com ela. Estive durante algum tempo num Jardim de Infância. Pouco tempo. Então, passava os dias a saltar de sala em sala, a servir de boneca dos outros meninos (mais das meninas), a ser estragada pelas Auxiliares, a ser mimada pelas outras professoras.
O meu primeiro dia de aulas foi só mais um dia na escola. Não houve fotos, não houve cerimónia, não houve apresentação oficial da professora: eu conhecia-a desde que nasci (eu sou do tempo dos professores vinculados e efectivos e que seguiam as turmas do 1º ao 4º ano).

Foi com grande entusiasmo que eu vivi o primeiro dia de aulas do António. Este, não sendo, foi o MEU primeiro dia de aulas e estava mais nervosa do que ele. Claro que, no mesmo Colégio, com os mesmos colegas, com um Professor que já conhecia desde o início do mês, para ele foi só mais um dia.
Para mim foi a emoção do começo de um percurso de, espero, sucesso.
Tirei fotos, fixei caras felizes e sorrisos desdentados e, quando me fui embora, chorei na porta da escola.

Não fui a única.

05/10/2015

Encruzilhadas

Durante o nosso crescimento, habituamo-nos ficar perante encruzilhadas: caminhos que temos de escolher quando há duas ou mais hipóteses. A escolha da área de estudo, a escolha do curso, casar ou não, ter filhos ou não. Quanto mais velhos ficamos, menos cruzamentos vão aparecendo. A estabilidade é cada vez maior. Talvez por causa disso, perdemos o calo, tornamo-nos baratas tontas sem saber o que fazer.
São várias as hipóteses. São arriscadas, todas elas. A única que não é arriscada, mas nem por isso melhor, é ficar no mesmo lugar. 

BASTA!

Ok, vamos lá pôr isto a trabalhar. Chega de procrastinar porque as férias já acabaram, há muita coisa para dizer e já não se aguentam as desculpas para a falta de tempo (que por si só é uma desculpa).
Tive duas semanas em família que teve tanto de bom como de mau, mas isso já não é novidade. 
Tenho um pre-adolescente em casa: sim, eles crescem muito mais cedo do que nós crescemos e crises existenciais aos 5 anos é coisa nunca imaginada. Por isso, há dias que alternamos a disciplina positiva e o palmadex no rabo e a coisa vai-se fazendo. 
O do meio está cada vez mais do meio e não larga a minha perna quando saímos de casa. Literalmente. O regresso à escola foi difícil mas essa fase também já está ultrapassada. 
A mais nova está uma despachada e não há quem consiga dar-lhe colo ou a mão na rua. É pô-la no chão e vê-la a correr tipo Bip-bip que ninguém a agarra. Eu sou o coiote. À parte disso, está linda de morrer. 
Eu continuo com menos 10kg e, fisicamente, numa das melhores fases da minha vida. Quem disse que a vida começa aos 40 estava certo: eu estou quase lá!
Estas são as novidades mais mediatas. Mais novidades virão. 
Stay tuned!

05/08/2015

Considerações gerais sobre tudo (ou quase nada)

- às vezes, penso que o mundo seria um lugar melhor se não existissem telefones que tirem fotografias. 
- para desabituar a Teresa a adormecer ao colo, tenho inventado uma história por dia, o que reacendeu o meu sonho de escrever livros pra crianças. 
- desde quando é que camisa branca com sutien preto se tornou moda?
- as pessoas associam a magreza à doença. não raras vezes me perguntam: estás mais magra; mas está tudo bem? (não devia ser o contrário?)
- vender uma casa é tão difícil como vender uma prancha de surf; mais fácil é vender artigos de bebé.
- chegar ao início de Agosto sem ter feito um dia de praia é coisa nunca vista nos meus 38 anos de vida. e dói. 
- ser Mãe é ser muito bipolar. 
- o tempo tem passado mais rápido do que devia. 
- depois de receber a lista de material percebo que tenho um filho quase no 1º ano. bolas, que ainda há dias nasceu...
- correr tem sido bom. as dores de burro não. 

18/07/2015

Da relatividade das coisas.

Na última vez que fui sozinha a um casamento (e este "sozinha" significa sem marido) estava grávida do Manuel e, com uma barriga de quatro meses, achei que podia vestir um vestido solto e uns saltos de 10cm. Como sou daquelas que sai da festa como entrou na festa, como é óbvio não levei outros sapatos. Aliás, isso nem me passa pela cabeça em festa alguma, muito menos num casamento. Não sei se foi por causa dos saltos, das hormonas ou de outra coisa qualquer, fui embora no meio da festa lavada em lágrimas e mais stressada que nunca. A quinta do copo-de-água tinha um lago e eu não consegui estar descansada sentada a jantar sabendo que o meu filho de três anos podia ir parar àquele lago sozinho (ele decidiu que não ia alinhar nas actividades da animadora). Eram nove da noite, eu estava esganada de fome, todos os convidados comiam, bebiam e divertiam-se e eu limpava a maquilhagem esborratada no jardim de uma quinta em Sintra atrás de uma criança curiosa. Peguei no puto e fui para casa. 

Foi por isto que eu fiquei de pé atrás quando me convidaram para um casamento: eu sabia que tinha que ir sozinha com os três miúdos porque o J ia trabalhar o dia todo. O casamento era no sábado, fui convidada na 5ª e comprei a roupa na 6ª. Decidi que não ia com saltos e escolhi umas calças largas bem ao meu estilo (34! comprei o 34!!!) e um top bem elegante mas confortável. A condição era poder pegar em filhos ao colo sem me preocupar se ia mostrar maminhas ou nádegas. Mais: levei as melhores e mais confortáveis sabrinas que tenho e estreei o carrinho de gémeos que compramos.

Não podia ter corrido melhor. Não me sentei 10 minutos seguidos, entre mudas de fraldas, sopa e dois pratos e ainda a sobremesa. Mas o sítio era muito acolhedor, não era muito grande e eu conseguia ver os miúdos no jardim quando estava na sala. Também ajudou tê-los vestido com um pólo encarnado: as crianças estavam todas de branco e os meus saltavam à vista. Dancei, conversei, comi (rápido e pouco) e, mais importante que tudo, relaxei. Os miúdos estiveram à vontade, comeram e brincaram, fizeram amigos e divertiram-se à brava. Claro que preferíamos ter vivido aquele dia com a companhia do Papá, mas foi importante para mim conseguir fazer isto sozinha.  

Conclusão: o tamanho dos saltos é inversamente proporcional à capacidade de divertimento em festas de arromba. Quanto mais altos, menos diversão. 
Lição a reter.

23/06/2015

As pequenas vitórias.

A jantar, expliquei-lhes que é noite de S. João e que faz 2 anos que o António deitou a chucha para o lixo. Estávamos no Porto e ele disse: não quero mais chucha; vou deitar no lixo. O meu coração doeu nessa noite. Já aqui expliquei que o assunto chucha é dos mais sensíveis para mim porque lembro-me per-fei-ta-men-te do dia em que eu larguei a minha e o que me custou. Lembro-me como se fosse hoje. O meu coração doeu por isso mas também por perceber que o meu bebé já não era assim tão bebé.
Deitei-os como de costume. Beijinhos (de todos) e ralhetes (meus) e juras de amor eterno (do António). Pouco depois, veio ter comigo à sala:

- Mamã, posso dizer-te uma coisa?

E eu já ia lançada num novo ralhete quando ele mostrou os dedos.

- Olha, Mamã, o que eu já consigo fazer.

E começou a fazer estalidos com os dedos. Primeiro com a direita, depois com a esquerda. Até já consegue fazer com a esquerda!! Anda a treinar há meses e hoje conseguiu na perfeição. Hoje, dois anos depois do primeiro passo para ser crescido. 
Abracei-o com força, disse BOA!!! com entusiasmo e fiquei mesmo feliz por vê-lo tão feliz. No fim:

- Agora posso dormir na tua cama?

Como se pode recusar um pedido destes? Não se pode.

21/06/2015

Viagem de metro.

Estou no metro. As viagens de metro tornaram-se momentos de introspecção, nos últimos tempos. Deve ser porque, apesar de raras, são os únicos momentos que tenho para mim, para pensar em mim. 
Estou no metro a caminho da escola de Dança. Hoje, vamos fazer um espectáculo de angariação de fundos para umas alunas irem a Nova Iorque e terem oportunidade de mostrar o seu trabalho e talento para além fronteiras. Hoje, vou pisar um palco, mais uma vez. 
Aqui, no metro, olho para o meu caminho. Vejo o que deixei em casa e para onde vou. Os meus Amores e a minha Paixão. 
Hoje, aqui nesta cadeira do metro, sou só mais uma pessoa vulgar num transporte vulgar. Ponho a minha mão no peito: lá dentro bate um coração feliz.

Esta pessoa vulgar é, afinal, a mais feliz. 

28/05/2015

As voltas que a vida dá e as contas que a vida tira.

Eu, que até sou de letras e bem avessa a números (apesar de trabalhar única e exclusivamente com eles) pus-me a fazer contas. Contas aos dias, que já desisti de fazer contas à conta do banco. Nessas contas, dou conta que os meus filhos passam 10 horas na escola. E passam 11 horas a dormir. Ou seja: comigo, eles passam acordados cerca de três horas por dia. Metade delas a gritar ou a arrumar ou a dar ordens. Ou as três coisas ao mesmo tempo.

E o Manu... o Manu que não me dá espaço para mais nenhum filho. E a Teresa que cresce  uma velocidade estonteante sem que eu consiga acompanhar. E o António, no alto dos seus cinco anos, com tantas novidades na vida dele, a tomar atenção a tantas coisas novas, com aquela cabeça sempre a 1000km/h e cheio de curiosidade, sem que eu consiga dar-lhe espaço para me perguntar coisas.

O resultado nem sempre é positivo. Aliás, todas as contas dão-me saldo negativo numa equação que eu não consigo entender com tantas variáveis que eu desconheço.

Noves fora, nada.
O resto é zero.

26/05/2015

Alpista? Yeah... right!

Tenho reparado que quando falo deste assunto da alimentação saudável, dos super alimentos e da opção que fiz em cortar o açúcar (entre outras coisas que me faziam mal), a maioria das pessoas ri-se. E diz coisas do género "o bitoque com ovo à cavalo e batatas fritas também é um super alimento". Normalmente, quem diz isto tem barriga a sobrar por fora das calças.
Não quero que concordem comigo. Não quero evangelizar a questão da alimentação saudável por aí. Mas aprecio que respeitem as minhas escolhas e, principalmente, a minha pessoa. Se me fazem perguntas sobre o que estou a comer e quais as propriedades da quinoa, não me interrompam a rir e a dizer que "alpista também é rico em proteínas".
Se não querem saber, não perguntem!
Vale?
Obrigada.

25/05/2015

Caros leitores,

De certeza que já estarão fartos de ler aqui sobre criancinhas. Também já estarão cansados do registo pseudo-nostálgico-depressivo. Por isso, vou falar-vos hoje dos resultados do meu plano alimentar ou, como eu gosto de chamar, a minha re-educação alimentar. Pareceu-me ouvir gritos de contentamento desse lado!
Ponto principal: já perdi 6kg. Podia ficar por aqui e este já era um post feliz. Mas esta transformação vai muito para além dos números da balança.

O exercício
Tropecei num plano de exercícios diários, com vídeos online, à base de cardio. São 25 minutos por dia que podem ser feitos em casa e que consegui cumprir à risca durante sete semanas. Depois veio o horário completo e ficou mais difícil mas ainda consigo fazer duas ou três vezes por semana para além do Ballet. Se quiserem saber mais sobre o plano de exercícios, espreitem aqui ou aqui.

A alimentação
Consegui eliminar o açúcar refinado da minha vida. Não sou fundamentalista: abro excepções em festas (na festa da Teresa lambuzei-me com os brigadeiros da minha cunhada que são os melhores do mundo). Tenho experimentado coisas novas, receitas, ingredientes, alternativas à comida processada. Tenho lido muito sobre alimentação biológica, sobre os super-alimentos, sobre a adaptação das refeições dos miúdos a esta nova forma de comer. Às vezes, eles torcem o nariz (serão só os meus que não gostam de batata doce?), mas já se habituaram a ver quinoa à mesa, por exemplo. O mais difícil com eles é variar mas tenho conseguido alternar carne-peixe com alguma criatividade. Nem sempre é fácil, especialmente com a falta de tempo, mas vai-se fazendo.

As pontas
Foram as grandes culpadas de tudo isto. Tinha tanto  medo de começar, andei a fugir durante tantos anos e nem imaginei o bem que isto me ia fazer. Faço as aulas de Ballet em pontas e em casa costumo calçar as sapatilhas porque tenho de ganhar muita força, sobretudo no tornozelo esquerdo, que está claramente descompensado em relação ao direito. Acho que não faço muito mal. Não farei bem, com certeza, mas juro (não pensem que estou maluca, mas eu juro!) que estou mais alta.
Se me doem os pés? Não sei: quando calço as sapatilhas há qualquer coisa que muda e eu quase consigo voar. Não sinto dores, não vejo os pés inchados, não sinto as bolhas. Ponho um penso rápido e subo outra vez. E voo. É um sonho.
(Obrigada, A.K,!)

O Futuro
Quando é que a "dieta" acaba? Não acaba porque não é uma dieta: é um estilo de vida. E não tem fim. É adoptado e abraçado e por aqui fica. O meu corpo (e a minha mente) têm agradecido este estilo e isso nota-se a léguas: melhor pele, melhor barriga, melhores pernas, mais paciência, mais calma, mais tolerância.

E mais leve! :)
Foto encontrada na net.

20/05/2015

A Grande Invasão

Na noite passada, eles invadiram a minha cama. Primeiro o Manuel, com aqueles passinhos curtinhos, ouço-o a chegar. Sinto a mão dele na minha cara e  sussurra "Mamã". Aproveito a noitada de trabalho do Pai, puxo-o para o meu lado e adormeço com os seus braços no meu pescoço. 
Acordo antes do despertador tocar e sinto um peso na minha perna: há quanto tempo estaria o António ali a dormir? Fechei os olhos mais um bocadinho e fiquei a ouvi-los dormir, o cheiro a encher-me a alma. 
Quando chegou a minha hora, saí da cama e fui à minha vida. Saí de casa e deixei-os todos a dormir. 

À tarde, no carro, expliquei que não podia ser, cada um tinha a sua cama, que não podiam dormir comigo. Que eu não dormia bem com eles, que o Papá não dormia bem na cama deles, que isto tinha de acabar. 

Agora, estou aqui deitada nesta cama enorme, cheia de vontade que um deles decida invadir novamente este espaço, para poder beber daquele mimo outra vez. 

15/05/2015

A minha casa tem estado mais arrumada.

À partida, ter-se a casa arrumada é bom sinal (para a minha Mãe, é!) e eu devia estar contente. À noite, antes de ir dormir, os brinquedos que apanho do chão têm vindo a ser cada vez menos, os livros espalhados no quarto já escasseiam. Tudo repousa nos devidos lugares. Tal como ontem. E no dia anterior.
À partida, este seria um facto que me deixaria feliz. Qualquer pessoa gosta de ter a casa arrumada. Eu também. 
Mas, quando olho para o tapete da sala e vejo-lhe a cor, ou olho para o sofá e vejo-o com as almofadas no sítio, sinto um aperto no coração e só me apetece chorar.

Voltei a trabalhar com horário completo. Dois anos e sete meses depois. 
Por causa disso, os miúdos acordam antes das 7 da manhã, são os primeiros a chegar à escola, muitas vezes antes das 8. Quando chegamos a casa, a preocupação é fazer o jantar, dar banhos, comer e ir dormir cedo. Basicamente, eles não têm tempo para brincar em casa. Não há tempo para desarrumar. 

Casas com crianças não combinam com casas arrumadas. São incompatíveis. 
Olho a minha casa arrumada e sinto que não estou com os meus filhos. Não os olho, não os ouço, não os cheiro. As manhãs e as noites são passadas a correr. Eles não gozam a casa. Eu não os gozo.

Olho a minha casa arrumada e não gosto. 
Quero o meu tempo de volta.

03/05/2015

Dia da Mãe

Este ano lectivo, na sala do António, fizeram uma iniciativa gira: a Família Leitora. Cada menino escolheu um livro e todas as semanas os livros rodam as famílias, ou seja, cada menino leva um livro para casa para lê-lo e trabalha-lo em Família. Depois de o trabalhar, deve registar o que aprendeu em forma de desenho, pintura, matemática, tentativa de escrita, o que quiser e se quiser.

Nem de propósito, hoje lemos "Quando a Mãe Grita".


Eu sou uma Mãe que grita, que dá palmadas, que põe a "pensar na vida". Confesso que há dias que sou a Mãe que só quer sair de casa e fugir, apesar de todos os livros e artigos que estudei sobre Disciplina Positiva. 

Quando as Mães gritam deixam os filhos desfeitos. E os meus não são excepção.
Quando acabamos de ler o livro, tal como a Mãe da história, pedi-lhe desculpa.

- Não faz mal, Mamã. Eu sei que gostas de nós na mesma e só gritas quando os teus filhos se portam mesmo mal. Mas vamos tentar não portar mal outra vez, está bem?

No dia da Mãe, lemos um livro de partilha das Famílias que serve para os miúdos aprenderem. Neste dia da Mãe, eu é que aprendi uma grande lição.


27/04/2015

Na alfcofa - FIM






A benjamim cá de cada faz um ano. In-tei-ri-nho!
Um ano de surpresas, de casa (ainda mais) cheia, de olho azul, de sorrisos com covinhas nas bochechas. Um ano a acordar todas as noites, a carregar dois filhos ao colo, a dividir atenções, a multiplicar o amor. Um ano fantástico!
Está a revelar o mau feitio mas come bem e dorme bem. Só quer andar agarrada a tudo mas ainda não arrisca a dar passos sozinha. Põe os pés para dentro (mais uma desculpa para ir para o Ballet), senta-se com as pernas em W e adora comer papel. Tem o sorriso mais doce que existe.
Nunca chorou para ficar na escola mas chora ao ver-me quando vou buscá-la: entra num estado de excitação e chora. Sai tanto à Mãezinha, tadita... Adora a escola, adora os manos, adora estragar as corridas de carros do António, adora guinchar com o Manuel, adora ver o Pai a tocar guitarra. Dança, bate palmas, grita para cantar. 
De todas, esta foi a foto mais difícil de tirar: não queria estar deitada. Peço desculpa pela pouca qualidade. 

A Teresa faz um ano e este desafio chega ao fim. Foram dois filhos, uma alcofa (lembram-se?), muitos registos, muitas fotos. Foi muito bom ficar com esta recordação destes reguilas. Tenho muita pena não ter conhecido esta ideia há mais tempo e ter feito também para o António. 
Vou ter saudades. Espero que vocês também. 

Ideia daqui.

23/04/2015

Tenho um filho que sabe ler.

As perguntas começaram há alguns meses. 

- Como é que se lê esta letra? O que é que está aqui escrito? Como é que se escreve Benfica?

Nunca insisti em nada. Nunca perguntei o que ele já sabia. Sei que ele gosta mais de números e contas mas ficava muito feliz quando ele me perguntava sobre as letras que via. E ficava muito triste porque ele não percebia que o N se lê ne ou quando se esquecia que um C e um A se lê ca e não ça. Explicava, mas nunca insistia. Quando ele se fartava do jogo eu agia naturalmente e encontrávamos outra brincadeira.

Lembro-me do dia em que comecei a ler. Lembro-me perfeitamente de estar na sala com um jornal na mão depois do jantar e perguntar ao meu irmão como é que se lia aquela letra. Ou o outro conjunto de letras. De achar curioso quando ele me desvendou o segredo e explicou que o L e H juntos fazem lh. Ainda a primeira classe era uma miragem distante. A minha Mãe diz que tinha cinco anos acabados de fazer.

No outro dia, o jogo voltou à hora do jantar:

- Escreve lá uma palavra para eu ler. 

E eu escrevi PATO. Ele leu PATÓ mas corrigiu imediatamente. Escrevi COPO, MALA, CAMA, MAPA. Arrisquei no TOMATE, SAPATO. Ele sempre a ler com as vogais todas abertas SÁ-PÁ-TÓ. Corrigia de seguida e dava gritos de alegria ao perceber que acertava. Fui mais longe ainda e experimentei um ditongo: PAPAIA. Engasgou-se, demorou mais mas chegou lá. O Pai, muito mais arrojado, tentou PORTO, PORTUGAL, PÊRA. E ele sempre a carregar nos rr's: PORRRTO, PÉRRRRA. Ele delirava. Ficou tão feliz! Eu, claro, comovi-me. O meu filho sabe ler. Levantei-me da mesa e fiz uma dança ridícula a rir à gargalhada para que não percebessem que eu já chorava. 
Naquele momento, tinha 5 anos outra vez e lia palavras numa folha de jornal.


Passado o momento da euforia, o Pai disse-lhe: se já sabes ler, vai lá à sala ver quanto é que está o jogo. Voltou rapidamente.

- Papá, ainda está zero a zero mas não percebo uma coisa: o que é que quer dizer DIRRETO?

16/04/2015

Ser Mãe de 3.

Depois de ler isto, chorei. 

Passo dias sem escrever neste blog. Não que não tenha ideias ou histórias giras para contar mas não tenho grande tempo para me sentar ao computador. E quando tenho tempo não tenho ideias. Basicamente, as pequenas histórias vão parar ao facebook e por ali ficam. 
Mas depois leio textos como este e a única coisa que me vem à cabeça é: fogo!, isto podia ter sido escrito por mim. É tão mas tão isto:

"A vida não é para ser simples, é para ser intensa e para ser intensa claro que vai dar trabalho."

Concordo plenamente com a relatividade do cansaço. Mas antes de ter três filhos dividia o meu tempo livre entre o trabalho, ballet, o surf, os passeios, as saídas à noite, os fins de semana fora. Nunca fui de ficar quieta (a minha Mãe e a minha professora da 3ª classe que o digam). Por isso, quando me ponho a contar histórias cá de casa aos colegas de trabalho, eles pensam que a minha sanidade mental está a passar por momentos menos bons. Principalmente, quando conto que tenho paredes pintadas de canetas de feltro e que adoro. Ou quando conto que vou às compras e ponho os três dentro do carrinho.
Ou quando contei aquele episódio em que o Manu entorna o copo de água no chão do quarto e fez com que a Teresa desse guinchos de felicidade a chapinhar na água. Não, eu não limpei a água: eu filmei a cena. Adoro registar a felicidade dos miúdos.

Sim, há dias menos bons e dias em que gostava de dormir mais que duas horas seguidas. Mas não imagino a minha vida de outra maneira. Nunca tinha percebido que era isto que eu queria ser quando fosse grande.


15/04/2015

Noitadas em 3 D

As famílias deviam ter filhos que demoram a adormecer ou filhos madrugadores ou filhos que acordam várias vezes durante a noite. Atenção aqui à conjunção ou
Devia ser proibido ter um de cada. 

09/04/2015

Cara nova

Não sei se já repararam, mas o tasco tem uma cara nova e eu estou a adorar!
Afinal, um blog na pré-adolescência já merecia um template à altura. Digam-me o que acham. Está giro, não está?

08/04/2015

Reeducação alimentar.

Há mais ou menos três semanas, quando decidi deixar de comer açúcar, ainda não tinha saído aquela reportagem da Sic "Somos o que comemos". E mesmo que tivesse saído, eu não teria visto, como até agora não vi, mais que uns breves segundos. Mas há algum tempo que olhava para mim e não reconhecia aquela imagem que o espelho devolvia. Isto pode parecer um cliché dos grandes mas é a mais pura verdade: nunca fiz dieta, nunca tive cuidado com a alimentação, nunca pensei que pudesse vir a sentir-me mal no meu corpo. Nunca sequer pus essa hipótese. Nunca lhe dei muita atenção porque ele também nunca me deixou ficar mal.
Depois de duas gravidezes seguidas e com muito pouco tempo para parar à mesa e comer uma refeição, acordei um dia a pensar que eu só como açúcar. Papa Nestum com açúcar logo ao acordar, bolos, biscoitos, bolachas para enganar a fome, pacotes de gomas comidos em 10 minutos e, ao deitar, leite com mel e um pacote de bolachas de água e sal cheias de manteiga para a abaladiça. Esta foi a minha alimentação durante anos, com pequenas variáveis e excepções (sim, quando combino almoços com pessoas, eu almoço comida de prato e faca e garfo e tudo!).
Sei perfeitamente quando se deu a reviravolta: naquela quarta feira, na aula de Ballet, foi-me feito um ultimato: ou calças umas pontas ou calças umas pontas. Nem sequer foi dada outra opção. Saí daquela aula quase a chorar, não quis vir para casa, só pensava que não havia nem nunca houve bailarinas em pontas com 65kg. Como raio é que os meus pés vão aguentar com este peso em cima? A última coisa que eu queria era que o Ballet deixasse de ser o melhor momento da minha semana e se tornasse um sacrifício. Recusava-me!
Só havia, então, uma saída: perder peso. 
Tive vontade de rir e chorar ao mesmo tempo: eu, aquela pessoa que nunca fez uma dieta, nunca leu o rótulo de uma embalagem, que não sabe distinguir uma proteína de uma fibra, que olha para hidratos de carbono e julga serem elementos da tabela periódica. Estava à frente do desafio mais difícil da minha vida... julgava eu.
A verdade é que nunca pensei que fosse tão fácil. 
Não cheguei a cortar completamente o açúcar branco. Acho que isso é impossível, pelo menos para mim. Continuo a por açúcar no café. Substituí o Nestum pelo café com leite, que bebo com açúcar mascavado. Mas deixei de comer gomas, bolos, queijadinhas, salames de chocolate, pão branco, só como hidratos de carbono até ao almoço, raciono as bolachas, vejo os rótulos antes de comprar qualquer coisa. E passei a fazer exercício diário, mas isso é conversa para outro post que este já vai longo.
Não gosto de dizer que estou a fazer dieta. Chamo-lhe reeducação alimentar e já estou a ver resultados: ando menos cansada, durmo melhor, deixei de ter picos de boa disposição alternados com mau humor, sinto-me mais estável emocionalmente. Fisicamente, já consigo ver resultados, ainda que ligeiros: dois kg em duas semanas. E já deixei de usar aquela cinta que me apertava a barriga para disfarçar o pneu lateral. 
Não se preocupem que não vou começar a evangelização do "seja saudável, coma biológico" e muito menos do exercício e do running como vou vendo por aí. Mas há muito tempo que não me sentia tão bem comigo mesma. 
E isso sabe mesmo bem!

07/04/2015

Um dia chocante.

Ontem, estava num dia daqueles. Tudo parecia correr mal desde que acordei (mas eu cheguei a dormir??). Para piorar as coisas, à tarde, no caminho de casa para o Colégio dos miúdos:

- "atropelei" um garoto que vinha de bicicleta. Pus "aspas" porque acho que foi mais ele que me atropelou: ele ia em contramão, em grande velocidade, numa curva com descida e piso molhado. Ele viu-me e quando travou começou a derrapar e só parou no meu capot. Não quis que o levasse ao hospital, diz que não se magoou mas saiu a coxear com a bina na mão.

- fiz uma parte do eixo Norte-Sul debaixo de uma carga de água que não vi nada à frente durante uns longos dois minutos.

- já perto do Colégio, um carro decide não parar no sinal vermelho e não bate em mim por um pelinho de um careca. Ou porque sou mesmo uma exímia condutora.

Cheguei ao Colégio a tremer, mas desabafei, tomei o meu café e tratei de esquecer os incidentes.

No caminho de regresso, conto estas pequenas histórias aos filhos que me ouvem com a atenção que as suas idades permitem. O mais interessado era, sem dúvida, o António que está na fase de adorar um pequeno drama, um grande acidente ou a desgraça alheia. A meio do caminho, vemos um acidente: uma mota toda partida, o condutor deitado no chão, umas cinco pessoas ao telefone à sua volta. Não que costume parar para contemplar acidentes, mas o trânsito era tanto que vimos tudo com tempo e atenção.

- A mota fartiu!! Xenhori tem dói-dói? No xuelho? - diz o Manu até hoje. Está sempre (mas SEMPRE) a falar do assunto.

O António, ao fim do dia, conclui:

- Hoje, foi mesmo um dia chocante.
- Chocante? Porquê chocante?
- Porque as pessoas estavam sempre a chocar umas com as outras!

01/04/2015

Dia das Mentiras

- Hoje é dia das mentiras, por isso vou dizer aos meus amigos que vi um carro a arder quando vinha para a escola. Ah, espera... isso é o que eu digo todos os dias!!
- ...

27/03/2015

Está a tornar-se grave...

Domingo à tarde, aproveitamos os minis a dormir a sua sesta e jogamos Uno: eu, o António e o Pai. A coisa até corre bem e vamos ganhando um jogo cada um. O pequeno ainda não tem aquela destreza manual que permita manter as suas cartas na mão em leque de modo a conseguir vê-las, por isso vai passando uma a uma com pouco cuidado e nós vamos vendo o jogo dele. 
A páginas tantas, ele tem duas cartas na mão. É a vez dele jogar: coloca na mesa aquela carta que tem todas as cores e que lhe permite escolher qual a cor que quer. Como mandam as regras, depois de jogar essa carta, ele diz:

- Uno!
- Já?? - digo eu - Então, agora tens de escolher uma cor!

Ele olha para a carta que tem na mão, olha para nós, olha para a janela e diz, decidido:

- VERMELHO!

Acho estranho aquela escolha, porque sei que só lhe resta uma carta amarela. Pergunto porquê a sua escolha. 

- Oh Mamã! Porque sou do Benfica, não sabes??

Na alcofa





Está a chegar ao fim! Nem acredito que a Teresinha está quase a fazer um ano. In-tei-ri-nho!
Começou a fazer a adaptação à sala de 1 ano: a primeira manhã correu bem, foi almoçar e dormir a sesta no berçário, voltou para passar mais um bocadinho da tarde e já não quis sair. A adaptação durou assim umas três horas. 
Já se põe de pé em dois segundos, pede colo a toda a hora, come bem, prova tudo. Gatinha pela casa toda sem medos, o que me deixa os nervos em franja a pensar em todos os 19783569 bonecos pequenos espalhados pelo chão deixados pelos manos. Ao terceiro filho, passamos a relativizar o perigo, mas não tanto assim. Ou seja, assustamo-nos com os brinquedos do chão mas não os vamos arrumar.
Está uma doida: não tem medo de nada, atira-se sem saber onde vai cair, detesta ir para a cadeira do carro ou de passeio, come gelatina e bolachas Maria como se não houvesse amanhã. 

19/03/2015

Da relatividade da sorte (ou do azar).

Há uns meses atrás, bati com a traseira do meu carro num poste do estacionamento subterrâneo do Decathlon. Não me lembrei que o poste estava ali, engatei a marcha-atrás, acelerei e PUM!, já foste. Chorei umas duas horas mas estava na fase do pós parto por isso foi desculpável (o choro, não a batida). A porta da bagageira abre, aquilo danificou a porta e o para-choques, o arranjo é coisa para ficar carote, o agravamento do seguro ainda mais carote... Bom, aquilo está assim há uns bons 8 meses.

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No domingo passado, com a família toda no carro, a entrar na 2ª Circular Av. Eusébio da Silva Ferreira, o carro que estava à nossa frente travou bruscamente. O J, que conduzia, teve reflexos rápidos e travou mesmo a tempo de evitar um acidente. Dois segundos depois, ouvimos uma batida atrás. E outra. E nós intactos. 
Saímos para ver se havia feridos e vemos dois carros à nossa frente batidos e, atrás de nós, três carros enfaixados uns nos outros. Nós no meio: intactos. 
O António ficou muito contente porque "até nunca tinha visto um acidente". O Manu perguntou 826 vezes "o qué ito?". A Teresa continuou a dormir.

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Fiquei a pensar nesta coisa da sorte/azar e pensei que fomos uns sortudos em não ter batido em ninguém e ninguém ter batido em nós. 
Vou reformular a frase de cima para não ofender o exímio condutor que é o meu marido.
Fiquei a pensar nesta coisa da sorte/azar e pensei que sou uma sortuda porque tenho um marido que conduz lindamente e evitou o acidente, e também porque somos uns sortudos porque ninguém nos bateu por trás.
Depois pensei naquela manhã de junho, em que bati com violência no poste do estacionamento do Decathlon. E olhei para a bagageira que continua a ganhar ferrugem. E cheguei à conclusão que, afinal, não sou assim tão sortuda.

17/03/2015

Na alcofa.






Não é por ser minha: toda a gente sabe que uma Mãe consegue ser completamente imparcial quando olha para um filho, mas a Teresinha está a bebé mais bonita do mundo. 
Está completamente diferente: já reclama atenção, reclama colo, reclama comida, reclama se algum dos manos lhe tira o brinquedo. Está a sair da casca (que não deixa de ser uma expressão engraçada, dado o nome do blog). Só quer estar de pé, quando tento sentá-la no chão ela põe o rabo para a frente e estica as pernas só para eu não a conseguir sentar! 
Já lhe cortei o cabelo (sim, eu é que cortei) e lá se foram os caracóis. Duvido que voltem a crescer. Desculpem as tias e avós. Mea culpa! Mas está com um ar mais compostinho com aquele cabelo de menino-judeu-refugiado-da-II-Grande-Guerra. Juro que está.
Sete dentes, 75cm, quase 10kg. Uma riqueza da sua Mãe.

P.S.: Desculpem a demora deste mês, mas andaram aí umas viroses esquisitas que afectaram filhos e Mãe e não conseguimos tratar do assunto. Mais vale tarde que nunca, não é o que dizem? 

10/03/2015

Como negociar aos 5 anos.

Depois de deitar os pequenos, peço ao António uma massagem nas costas, que hoje me foram massacradas. Ele faz aquela massagem à maneira dele, que não é mais que umas ligeiras pressões que sabem mesmo bem. Ao fim de meia dúzia de "pressões", fica farto e pede para parar. 
- Mas não fizeste quase nada! Faz lá mais um bocadinho que tenho mesmo muitas dores.  
- Então, só faço mais 30. 

Negócio fechado!

03/03/2015

Estar doente em casa com o mais velho:

- Tens febre?
- Sim. 
- E eu?
- Tu também. 
- Qual é o teu número?
- 39,4. 
- E o meu?
- 39,1. 
- Tu tens mais?
- Sim. 
- Ooooh... ganhaste outra vez. 

25/02/2015

Culpada!!

Terça feira, nove e meia da noite, os miúdos na cama, a cozinha arrumada, a roupa estendida, a sala apresentável, amanhã estou de folga. Sento-me no sofá com um copo de leite quente e umas bolachas com manteiga (o meu jantar desde há uns largos meses), a televisão à frente só para mim. Posso ver o que eu quiser. O que eu escolher. Uma lista infindável de canais, de filmes, de documentários para ver. A possibilidade de recuar no tempo e ver o que deu nos últimos sete dias em qualquer um dos canais. Todo um universo televisivo à distância de um botão.

Fico a pensar dois minutos e decido ver um filme. Qual o filme escolhido?


(A-do-rei! E só pensava que o António iria gostar mesmo de ver este filme.)

23/02/2015

Fartiiiiinha!

Cá em casa há:

  • roupa para lavar,
  • roupa lavada por arrumar,
  • roupa emprestada,
  • roupa para devolver,
  • roupa para emprestar,
  • roupa que já não serve,
  • roupa que ainda não serve,
  • roupa espalhada acabada de despir,
  • roupa para arranjar,
  • roupa para passar a ferro,
  • roupa para levar à lavandaria,
  • roupa que acabou de chegar da lavandaria,
  • roupa nova que oferecem,
  • roupa do futebol,
  • roupa do ballet,
  • roupa dos concertos,
  • roupa para as folgas
  • ...


Não necessariamente em simultâneo. 
Para onde quer que me vire, vejo roupa. Estou farta de roupa. Farta de não saber onde arrumar esta roupa. F-A-R-T-A.

Tendo em conta que vivemos cinco pessoas num T2, alguém tem uma solução milagrosa para isto melhorar? Temo um dia não cabermos em casa por causa da roupa.

11/02/2015

"Ai, Jesus!"

Quando ouvi isto da boca do António, não pude deixar de achar graça. Cá em casa somos ateus praticantes e não costumamos ter conversas sobre religião, seja ela qual for, nem fazemos qualquer tipo de interjeição religiosa como esta que ele usou. Por isso, tive curiosidade:

- Quem é o Jesus, António, sabes?
- É o treinador do Benfica.

Ri-me à gargalhada. Afinal, a resposta não estava errada. O Pai achou que podia desenvolver mais o tema:

- Mas há outra pessoa que se chamou Jesus. Uma pessoa muito importante. Sabes quem foi?

Eu já estava à espera de ouvir a história do Messias, d'Aquele que muita gente acredita que veio salvar os Homens, da fé, da última ceia, do sacrifício, do Jesus histórico e do Jesus bíblico. Já estava a imaginar a cabeça daquela criança a andar a mil à hora com conceitos novos como o baptismo, a ressurreição, a crucificação e afins. Estava a ficar preocupada.

- Ah! Estás a falar daquela primeira pessoa que nasceu no mundo?



Lista de compras: livro sobre o cristianismo explicado aos ateus. 

09/02/2015

2nd is 2!!


O pequeno Manuel faz dois anos.

Descrevo-o com uma frase: é o meu filho mais fácil e mais difícil, ao mesmo tempo. Não sei se perceberão o que quero dizer, mas não consigo descreve-lo de outra forma. 
Come bem, dorme bem, é muito independente, tem uma personalidade muito forte (que é a maneira simpática de dizer "mau feitio"), sabe perfeitamente o que quer e o que não quer e não vale a pena tentar dissuadi-lo ou distraí-lo com falinhas: ele não cai nessa. Já entrou na fase dos terrible two há algum tempo, desafiador, gozão mas tão, tão cómico! É difícil ralhar com ele porque é mais provável ele dissuadir-nos e distrair-nos com o seu charme. É mimocas quando tem de ser, é refilão q.b., muitas vezes esqueço-me que só tem dois anos. Fala pelos cotovelos, canta a toda a hora, dança muito, gosta de desenhar: é o artista da família. Não vive sem os manos, principalmente sem o mais velho. Ou estão aos abraços ou estão às turras, como irmãos normais.

Hoje faz dois anos, este menino de cabelo rebelde e olhar doce, este menino que passou quase metade da sua vida a dormir. Agora, está, sem dúvida, a recuperar o tempo perdido. Faz dois anos o menino que me faz correr mais, varrer mais, limpar mais, gritar mais. O maior desafio da minha vida. A minha paixão do meio que é também e menino que me faz rir mais.

Parabéns, Manu, e obrigada por encheres a nossa vida desta maneira.

04/02/2015

De menina??

Há uns dias, o António pediu-me para sair do Ballet.
- Não quero ir mais para o Ballet, Mamã. Não gosto nada de dançar.
Eu não quis explorar muito o assunto na altura, até porque já estava atrasado para o futebol. Disse apenas que depois falaríamos no assunto com calma, mas que durante o ano lectivo estaria fora de questão. Até porque vai haver um espectáculo daqui a duas semanas (ca nervos!!!) e já estão a contar com ele e blá blá blá. O assunto adormeceu.

Mais tarde, tivemos ensaio para o espectáculo (já disse? ca nervos!!!), o primeiro ensaio em que estivemos os três: eu, o António e o Pai. Com o Pai em trabalho, estive quase o tempo todo com o puto, ele viu-me a dançar, eu vi-o a dançar, elogiei, gostei mesmo de o ver e nem a presença dos pais o atrapalhou. Estava mesmo giro, o raio do miúdo, cheio de pinta e concentração. Saímos os dois da escola de dança (o Pai ainda ficou em trabalho) super animados, a falar do Ballet e do Hip hop e do que gostamos mais de ver um no outro. Não falou em desistir.

Uns dias depois:
- O Xavier* disse que o Ballet é para meninas.

Tudo se tornou claro. Claro e triste. O meu filho quer sair do Ballet porque um amiguinho da escola lhe disse que o Ballet é para meninas. Eu fiquei triste por saber que, em pleno século XXI, ainda há quem pense assim. Não pensem que culpo o amiguinho: ninguém nasce ensinado e aquela criança ouviu aquilo em algum lado. Também não culpo a família do amiguinho: ninguém é obrigado a gostar de Dança e a ver em casa bailados nas horas vagas. Se aquele garoto tivesse visto, pelo menos, dois minutos de uma peça de bailado saberia que há meninos no Ballet. 
Fico chocada que ainda haja esta diferença entre o que é de menina e o que é de menino. Fico triste pelos estereótipos que o meu filho aprende por convivência. Enquanto houver um adulto (seja ele Pai, Mãe, Avô/ó, primo/a, vizinho/a) com um comentário deste género, há uma série de crianças que não faz o que quer ou gosta ou tem vocação porque não é para o seu género.

- O Xavier disse isso? Coitado, se calhar ele também pensa que o futebol é para meninos.
- Ah, não é não, porque lá no meu futebol há meninas!
- E no teu Ballet não há meninos?
- Há, o Gabriel, o Lucas, o N., o Pedro, o...
- E no Hip hop? 
- No Hip hop há muitos meninos!
- Então tens que explicar ao Xavier que não há coisas para meninas e coisas para meninos.

Quando eu era pequena, queria ir para a tropa. E sempre ouvi que "a tropa é para meninos", mas nunca ouvi isso dos meus Pais e eles nunca me disseram que não podia ir. Calhou nunca ter ido para a tropa. Se calhar, era mais feliz. Ou não. Nunca saberei.


*nome fictício, claro.