11/07/2014

Sem título.

O passeio tinha sido rápido e curto, aquele que um domingo chuvoso de verão nos permitiu. Estávamos os cinco no carro e vemos ao fundo o sinal a mudar de vermelho para verde. Nem paramos mas reparamos que o carro da frente, que já estava parado do semáforo, continua sem se mexer. E eu, sempre sensível "e este, já morreu ou quê?" Ao passar devagar pelo carro, vemos o condutor com a mão na cabeça, tombada para a esquerda. O carro continua parado. O meu marido não acelera, continua a olhar o espelho retrovisor, o homem na mesma posição, o carro imóvel. "Ele não está bem. Aquele homem não está bem, Susana." "E agora? Vais salvá-lo?" "Agora? AGORA?? Por causa de pessoas como tu é que isto está como está! É esta sociedade em que vivemos, passamos pelas pessoas que sofrem e fingimos que não é nada connosco. Coitado do homem, a ter um AVC! Onde é que isto vai parar!" Decide encostar, desaperta o cinto e sai do carro a correr em direcção ao outro imóvel no sinal verde. Eu com os miúdos atrás "o Papá??", "porque é que paramos?", "quem era aquele senhor?" viro-me para trás e ele já está mesmo mesmo a chegar ao carro que arranca como se nada fosse. Vejo a cara do meu marido num misto de incredulidade e espanto. O carro, antes imóvel, passa agora por mim e eu olho lá para dentro. O homem não tinha morrido: estava a conduzir de perfeita saúde com a mão na cabeça, sim, porque segurava o telemóvel.

Lembram-se disto? Ainda não foi desta que o meu marido salvou alguém. 

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