07/07/2014

Sem título.

Há uns tempos, o meu marido chegou a casa com um ar preocupado. Quando isto acontece, a primeira coisa que eu pergunto é "o carro ficou muito partido?". E ele que não, não teve nada que ver com o carro mas com um cão com bom aspecto que estava na porta do prédio ao lado. Eu, com a insensibilidade que me caracteriza, "e???", e ele continuava com um ar sério e grave "coitado, cheio de fome e ainda por cima está a chover, claramente foi abandonado há semanas e encontrou agora a casa e deve ter fome e o dono não o quer, o que é o jantar?" "Desculpa?? Bacalhau espiritual lá é comida de cão? Já agora leva umas gambas alijo para ele saber o que é bom! Era o que faltava ter trabalho de cozinhar e dar a um cão. Deve estar à espera do dono." "Achas? À chuva? Nenhum dono deixa o cão à chuva. Foi abandonado e está faminto, pobre do cão que se não fosse a minha asma já estava cá em casa. A que horas fecha o Pingo Doce?" "Já fechou a esta hora, e agora eu até já me apeguei ao raio do cão, porque é que não vais à bomba de gasolina e compras aquelas latas de comida para cão, pelo menos o pobrezinho sobrevive à noite. Amanhã logo vemos que fazer dele." E lá foi ele, com uma garrafa de água numa mão e dois tupperwares vazios na outra (um para a comida e outro para a água) a caminho da bomba. 
Chegou meia hora mais tarde com a garrafa de água, os tupperwares, a lata por abrir e um ar ainda mais miserável. "Quando estava a chegar encontrei a D. Maria (a senhora que faz a limpeza dos prédios aqui da rua) que me explicou que este cão é do vizinho do prédio de baixo, que apaixonou-se pela cadela do prédio de cima e como ela está com o cio não sai da porta à espera dela. Não tem fome, não foi abandonado, não está infeliz. Só carente."

Desde esse dia, tenho uma lata de comida marca Pedigree à espera que um canídeo abandonado mexa com o coração do meu marido novamente.

1 comentário:

Marta disse...

Lol!! Adorei :)