11/07/2009

Turistas de Hospital

Estão internadas como as outras, em repouso absoluto, mas não param deitadas na cama nem cinco minutos seguidos. Vão espreitar os bebés das outras no berçário sem autorização e fazem amizades em todas as enfermarias. Vão em grupo fumar cigarros "às escondidas", como fazíamos na escola secundária aos 15 anos. Opinam sobre tudo e sobre todas, sabem os efeitos de todos os medicamentos e conhecem mais especialidades médicas do que o Directório Clínico da Médis. Têm todas as doenças que existem, até aquelas que causam as dores mais insuportáveis, mas não se calam por dois segundos nem para respirar entre as frases. Dizem mal da comida, das toalhas, das torneiras, dos seguranças, da falta de segurança, das camas, das auxiliares, da equipa de enfermagem (a quem costumam dar umas aulas), dos médicos que nunca viram e ameaçam pedir o Livro Amarelo por tudo e por nada. Queixam-se que a sopa não tem sal, que os brócolos são salgados, que a fruta é sempre a mesma, que o leite é meio-gordo, que o arroz de grelos não tem grelos e que nunca servem esparregado. Trocam receitas e revistas em formato A5 e discutem a vida dos famosos como se da sua própria vida se tratasse. O nível de decibéis da voz é superior ao desejado e ainda é maior quando ameaça a "peixeirada". Recebem visitas com quem falam muito alto e que oferecem ramos e ramos de flores que ficam espalhadas pelo quarto exibidas em jarras de louça made in Caldas da Rainha. Têm o volume do telemóvel no máximo, ligam a televisão na TVI com o volume alto de modo a ouvir bem as novelas todas.
Queixam-se de tudo e de todos mas a atitude é de quem está a adorar umas férias pagas no Hospital público.

Sem comentários: