Às vezes fico baralhada. Fico sem saber se foi o normal que se tornou estranho ou se o estranho se tornou, nestes últimos meses, normal. Há momentos de conforto e serenidade. Mas esses agora são estranhos. Normal é o sentimento de desconforto, de estranheza, enquanto não encontro o meu lugar. Eu não gosto de não saber o meu lugar. Não gosto de me sentir perdida. Não gosto e não quero.
Estou cansada de falar. Mas também estou cansada de ouvir. O silêncio é um bem escasso, ultimamente. Devia ser obrigatório um momento de silêncio por dia: cerca de 15 minutos já seria bom. Consigo a sensação parecida com o silêncio total e absoluto quando estou debaixo de água. É deste silêncio que preciso.
O silêncio da corrida é confortante. Deve ser. Há tanto tempo que não corro que já não me lembro. O barulho das passadas, o som da respiração. Há um certo conforto no cansaço físico. O cansaço emocional é desgastante. Corrói o corpo, a paciência, as relações com os outros. E é estranho. Mas este estranho tornou-se normal.
- Estás triste? - perguntou-me o Manuel há dias. Dois anos e meio de gente. Naquele raro e estranho momento, ele não estava a chorar nem a gritar nem a bater nos manos. Ele não estava a fazer uma birra. Fazer birra, para o Manuel, é o normal.
Tive vontade de lhe dizer que eu não estou triste. Nem zangada. Nem com raiva. Estou magoada, o que é muito diferente. E tive vontade de lhe explicar que viver com esta mágoa é um peso grande demais para se conseguir suportar. Mas é um peso que se tornou normal.
Disse-lhe que estava muito contente porque o Manuel não estava a fazer birra.
Ele abraçou-se a mim e disse: a Mamã é munto linda.
1 comentário:
E é nesse abraço que se ganha a força para enfrentar a normalidade da estranheza!
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