14/01/2008

Amanhecer

Cá em casa amanhece-se em tons de azul. Metade da cama permanece fria e intacta, a almofada sem vincos, o lençol dobrado sobre a colcha. A outra metade, aquecida e amarrotada por um sono bruscamente acordado pelo noticiário na rádio. Arrasto o corpo que não quer ceder às obrigações e quer continuar no sonho mesmo sabendo que não passa de um sonho. Debaixo do chuveiro revejo as obrigações, prevejo que o dia de hoje vai ser igual ao dia de ontem e ao dia anterior e ao outro antes desse. Os ombros, os braços, as pernas, as costas movem-se tão automaticamente que já não se sente o cheiro do gel, o quente da água, a espuma no cabelo. A roupa é tirada das gavetas e enfiada no corpo já frio. Depois dos cereais, olho a janela e o dia já vai claro. O relógio diz-me que já vou atrasada e saboreio um café a correr.
Começam assim, todos os dias.

Sem comentários: