A Dilar era uma senhora que trabalhava lá em casa quando eu era pequena. Eu sofria de amigdalites e, de 15 em 15 dias, lá ia eu ao Centro de Saúde para uma injecção de penicilina. Desta minha condição de saúde, a Dilar insistia em dizer à minha Mãe:
- Isto só pode ser mau olhado, Senhora Professora. Vá por mim que é mau olhado.
- Não diga isso à frente da garota, Dilar, que ela ainda acredita nessas coisas - sorria a minha Mãe.
- Ah, mas é mesmo para acreditar!
E, de quando em vez, mais vezes do que era normal, lá vinha eu ao colo do meu Pai, sem conseguir andar, depois de mais uma injecção.
Esta semana, pensei muito na Dilar. Eram quatro dias de férias planeados e divididos em arrumações e em fazer nada. Muito fazer nada. A primavera, finalmente, chegou, os miúdos não vão ao médico há quatro meses, o segundo aniversário da T para comemorar e organizar, tudo corria de feição. No dia dos anos dela, segundo dia de férias, ligaram da escola: que tem febre, que não come, que está xoxa. Partir daí, abortaram-se todos os planos: a T não sai do colo.
Há seis anos que é assim: quando tiro uns dias de férias só para mim, há sempre um filho doente. Não é às vezes, é sempre! E a Dilar na minha cabeça:
- Isto só pode ser mau olhado.
Se eu acreditasse nestas coisas, daria razão à Dilar. Como não acredito, fiz brigadeiros. Porque não há nada como uma casa a cheirar a chocolate para nos aquecer o coração pequenino de Mãe.
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