30/12/2015

Adéu, BCN. Fins aviat!

Estive a fazer as contas. Se não me enganei, esta foi a sétima vez que aqui estive. 
Arrisco dizer que conheço esta cidade quase tão bem como o Porto. Aqui já fui turista, já fui feliz, já estive em lua de mel, já sofri desgostos de amor, já fui local, já fui americana, já me chamei Ada, já me perdi, já me encontrei. Agora até já posso dizer que já corri 5km. 
Se me oferecessem emprego aqui, eu mudava-me já amanhã. Tenho a certeza que, depois de Lisboa, esta é a melhor cidade para criar os meus filhos. Eles adorariam a cultura da rua, adorariam poder andar de trotinete e patins pelos passeios, pelos parques. Eu adoraria o clima seco, a praia mesmo aqui ao lado, andar de transportes com carrinhos de bebé sem que me olhem de lado, andar a pé por passeios largos, respeitar as bicicletas, ir ao mercado. 

Barcelona é a minha segunda cidade. Aqui sinto-me em casa. Sinto que faço parte. Sinto-me descansada, segura e feliz.
Até breve, Bcn. 
Hasta pronto!

La Barceloneta.

29/12/2015

2015

Odeio balanços. Detesto olhar para trás. Não gosto de perceber o que podia ter sido diferente, onde errei. Não gosto de perceber que errei.
No final do ano mais cruel que já vivi, não olho para trás. Ainda não consigo olhar para a frente. Neste momento, preocupo-me em procurar a armadura que me falta para conseguir enfrentar a realidade. 

Deixei-a arrumada aqui, algures. Eu sei que deixei...

28/12/2015

Foi Natal!

Acho que já disse por aqui que nunca gostei muito do Natal. Olhando para trás, acho que foram duas as razões principais: uma, porque o meu Avô materno adoeceu bastante e fez com que os Natais fossem passados só com a minha família paterna; outra, uns anos mais tarde, porque o meu Avô paterno deixou-nos nas vésperas de Natal. Desde que sou adulta, foi uma época agridoce por estas razões. Além de tudo isto, confesso: odeio ser obrigada a dar presentes, odeio o consumismo desenfreado que esta época significa, odeio o facto de as pessoas cegarem no mês de dezembro. O trânsito anda impossível, não se consegue comprar um litro de leite sem ficar 20 minutos numa fila... um desespero. Todos os anos penso que quero adormecer a meio de novembro e acordar a 6 de janeiro. 
Desde que sou Mãe, o Natal traz-me mais alegrias. Ainda assim, acho ridículo a quantidade de brinquedos que os miúdos recebem e que a maioria acaba por ficar esquecida num canto da casa. Obriga-me a fazer limpezas frequentes ao quarto de brincar, o que não é mau se tivesse tempo para as fazer.

E chega o Natal de 2015. E chega o primeiro Natal nesta nova condição que ainda não baptizei. Chega o Natal, tempo de partilha, da Família e dou por mim a olhar para a minha, para o projecto que eu sonhei e para o qual lutei e não vejo nada mais que cinzas. Recordações. Memórias. 
Os meus filhos estão todos na idade de perceber o Natal como deve ser: todos acreditam no Pai Natal, todos percebem a magia, todos estão na idade de valorizar a Família tal como eu os eduquei a valorizar. Fiz tudo para que essa magia acontecesse. Fiz os possíveis para eles se lembrarem deste Natal com a mesma felicidade. Tudo o que esteve nas minhas mãos, fiz. 

O sabor agridoce esteve apenas na minha boca. 

27/12/2015

Flying solo.

Depois das notícias dos últimos atentados pela Europa fora, estar a andar acima das nuvens não deixa de ser um desafio. Ainda assim, não deixa de ser um dos espectáculos mais bonitos de se ver e das sensações mais apetitosas de sempre. Viajar sozinha. 

Há quanto tempo...

13/12/2015

Uma corrida é muito mais do que correr.

Uma corrida vai muito para além do físico. Muito para além do explicável. 

Hoje fiz 10km. A minha segunda corrida a sério foi feita sozinha: desde o momento em que saí de casa até este momento, sentada no chão da minha sala com o computador no colo. Sozinha. 
E podia vir aqui contar-vos todos os pormenores técnicos da corrida e da minha prestação, mas eu sou uma pessoa sensorial e tudo foi muito para além do físico. 
Comecei a um ritmo estável, sem me importar muito com as pessoas que me ultrapassavam. Nos túneis, aproveitei o embalo das descidas para compensar as subidas. A zona das Avenidas Novas é uma zona que me é muito querida, vivi ali 5 anos, ali fiz e tive um filho, trabalhei ali, fui muito feliz, cresci muito ali. Tudo me passou pela cabeça: todas as lembranças, todas as pessoas. 
Após os 4km, comecei a quebrar. Apetecia-me parar mas não via ninguém a andar e não quis dar parte fraca. Pensei: já fizeste 5km sem parar, vais mesmo querer parar agora? Abrandei depois primeiro abastecimento de água: parecia que as pernas já não podiam mais e a água que bebi não caiu muito bem. Veio a dor de burro, que já não sentia há meses. 
Entre os 6 e os 8km, ia alternando entre a corrida e a caminhada rápida. Lá se foi o meu ritmo. Depois dos túneis todos, começo a ver os assistentes: famílias, apoiantes, turistas. Tal como a outra corrida, ver aquelas pessoas deu-me imensa força. São pessoas que não conheço, estão ali para apoiar alguém, mas olham-nos nos olhos, batem palmas, falam connosco. Sinto uma força vinda sabe-se lá de onde e retomo o ritmo, afinal, os últimos quilómetros eram a descer. 
Lembro-me de sentir uma dor na virilha durante algum tempo. Não me lembro quando a dor de burro parou. Lembro-me de sentir muito desconforto por causa das meias. Mas nesses últimos quilómetros, sentia o corpo anestesiado. Já não doía nada. Já não sentia nada. 
A meio da Av. da Liberdade, o vento soprou mais forte e começo a ver folhas a caírem das árvores. Em câmara lenta. Olhei para cima e tentei captar o momento como se fosse uma máquina fotográfica. Foi talvez a imagem mais bonita que os meus olhos se lembram de ver. Tentei fechar os olhos por instantes. Foi o momento mais especial da prova. A chegada estava mesmo ali.

Cheguei ao fim. O objectivo estava cumprido. 

Afinal, não corri sozinha. Corri com as lembranças, os sítios, as pessoas que fazem parte da minha vida. Corri com os meus filhos, que ganharam a minha medalha. Corri com os Amigos que deixaram mensagens de incentivo. Corri com toda a circunstância que me trouxe até esta corrida.

Cheguei ao fim. 
10km. 
1h06m01s


05/12/2015

A Sala da Mariana

O acaso prega-nos algumas partidas, mas nem todas são más. A mim, fez-me tropeçar num grupo de pessoas fantásticas, muito bem resolvidas, muito diferentes mas muito na mesma onda, que têm em comum o facto de ter tido filhos na turma de uma Educadora muito à frente.
E o acaso podia ter colocado nessa turma pais menos sãos, mais picuinhas, mais ou menos desviantes, mas não pôs. Podia ter colocado alguns pais mais reivindicativos, mais contra a corrente, mais nódoa. Mas, ao fim de todo o percurso pré-escolar dos nossos filhos, o pano saiu imaculado.
Dizem que os Amigos escolhem-se. Estes, o acaso escolheu por mim. E estou certa que, quando o fez, os atros estavam todos muito alinhados no sítio certo.

Obrigada, meninas. Pelo jantar de ontem, pela presença, pelas mensagens, pelos disparates, pelas gargalhadas e pelos últimos anos.
Vamos continuar sempre a ser a Sala da Mariana, porque esta sala foi e vai continuar a ser, sem dúvida, a maior!

04/12/2015

12 anos.


Hoje, este blog faz 12 anos. DO-ZE anos!

Admito que já teve melhores dias. Mas confesso que já teve piores. E saber-vos desse lado, receber as vossas mensagens, ler os vossos comentários é o mimo que eu preciso neste momento.
Obrigada por continuarem desse lado. Obrigada pelo colo.

Parabéns à Casca. Venham mais 12!

02/12/2015

Às vezes fico baralhada. Fico sem saber se foi o normal que se tornou estranho ou se o estranho se tornou, nestes últimos meses, normal. Há momentos de conforto e serenidade. Mas esses agora são estranhos. Normal é o sentimento de desconforto, de estranheza, enquanto não encontro o meu lugar. Eu não gosto de não saber o meu lugar. Não gosto de me sentir perdida. Não gosto e não quero.

Estou cansada de falar. Mas também estou cansada de ouvir. O silêncio é um bem escasso, ultimamente. Devia ser obrigatório um momento de silêncio por dia: cerca de 15 minutos já seria bom. Consigo a sensação parecida com o silêncio total e absoluto quando estou debaixo de água. É deste silêncio que preciso.

O silêncio da corrida é confortante. Deve ser. Há tanto tempo que não corro que já não me lembro. O barulho das passadas, o som da respiração. Há um certo conforto no cansaço físico. O cansaço emocional é desgastante. Corrói o corpo, a paciência, as relações com os outros. E é estranho. Mas este estranho tornou-se normal.

- Estás triste? - perguntou-me o Manuel há dias. Dois anos e meio de gente. Naquele raro e estranho momento, ele não estava a chorar nem a gritar nem a bater nos manos. Ele não estava a fazer uma birra. Fazer birra, para o Manuel, é o normal.
Tive vontade de lhe dizer que eu não estou triste. Nem zangada. Nem com raiva. Estou magoada, o que é muito diferente. E tive vontade de lhe explicar que viver com esta mágoa é um peso grande demais para se conseguir suportar. Mas é um peso que se tornou normal.

Disse-lhe que estava muito contente porque o Manuel não estava a fazer birra.

Ele abraçou-se a mim e disse: a Mamã é munto linda.