29/04/2008

Dia Mundial da Dança

Muitas vezes, as limitações do corpo deixam-me frustrada e saio das aulas irritada. Não gosto de esquecer as coreografias com esta facilidade, mas tenho a certeza que também essa parte se treina porque estou bem melhor do que há seis meses.
As nódoas negras voltaram a fazer parte dos meus joelhos e tenho a certeza que os vizinhos já não acham estranhos os barulhos dos calcanhares a bater com força no chão. As dores musculares são a prova que os exercícios foram bem feitos mas fica sempre a sensação que podia fazer ainda mais e melhor.
Os nervos aumentam por causa de um espectáculo para crianças que só vai acontecer daqui a mais de um mês porque o medo de falhar é tão grande ou maior do que a vontade de brilhar.
Hoje na aula, para comemorar este dia, concentrei-me como nunca e tentei dar o meu melhor. Os movimentos fluiram com a dificuldade do costume mas consegui sentir com naturalidade o meu corpo dentro daquela música calma.
A dançar sinto-me feliz.

# 120

Into the wild.

28/04/2008

Eu sou o Ilídio - Parte VII

Até que, uma bela noite, mesmo por debaixo da publicidade do lubrificante anal, surge um alerta de nova mensagem que deixou Ilídio com o coração na boca e nas mãos. Ao abrir a mensagem, o nosso homem soltou o maior grito de prazer da sua vida, que saíu até um bocado rouco porque ele já não proferia uma palavra há vários dias. Isto porque a mensagem era, nada mais nada menos, de Svetlana, a sua musa inspiradora, e fez iluminar a escuridão da sua vida, deu um cheiro especial à portaria do Instituto, deu um sabor particularmente doce ao seu amor. Mesmo antes de ler a mensagem, Ilídio já era o homem mais feliz do Mundo!

# 119

O peso da idade.

27/04/2008

# 118

...

Esquecer.

Ele disse: Não esperes.
Eu respondi: Eu tenho tempo.

O que eu queria dizer é que já não sei viver sem esperar. Que já não sei fazer outra coisa. Que o tempo passa mais devagar porque dói a memória. Mas passa a correr quando não se consegue conter o grito e se explode num desabafo sem sentido.
O que eu queria era perguntar como é que se apaga alguém, como é que se ultrapassa, como é que se esquece.
Ele deve saber. Ele fez isso comigo.

24/04/2008

3. PRIMAVERA

Antes, eu gostava mesmo era do Verão. Agora, não sei se pela idade, prefiro a calmia da Primavera: leves brisas quentes, a praia com menos gente, fins-de-semana fora da cidade. O Verão é a adolescência; a Primavera, essa, é o início da vida adulta, a chegada aos 30, ou seja: EU.



Continuação deste desafio.

# 115

É um vizinho simpático.

20/04/2008

# 111

Tecto.

O poema que eu gostava de ter escrito:

Estrela do Mar, Jorge Palma

Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia sozinho ao relento
E ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: Estrela do Mar

Sou a Estrela do Mar, só a ele obedeço
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou no princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força ser dono de mim

Não sei se era maior o desejo ou o espanto
Só sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
E inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são pouco ou nada para a Estrela do Mar

Sou a Estrela do Mar, só a ele obedeço
Só ele me conhece, só ele sabe quem sou no princípio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força ser dono de mim

16/04/2008

# 107

Blanc sur blanc.

2. VIAGEM

Adoro viajar: de carro, avião, combóio. Dentro ou fora do país. Tanto faz. Viajar sozinha é como um reencontro comigo mesma, uma introspecção involuntária, quase uma terapia. Adoro viajar de carro à noite. Adoro conduzir. A ida tem o entusiasmo das férias-reencontro-descanso; o regresso está cheio de saudades.

Continuação deste desafio.

14/04/2008

1. MAR

Porque é aqui que eu encontro o meu refúgio, a Paz que muitas vezes parece faltar. Porque adoro o silêncio do fundo do mar mas também a música que ele produz. Porque é junto do infinito que eu me vejo pequenina mas com força para continuar. E porque fico doente, se passo uma semana sem entrar dentro de água do mar.

Continuação deste desafio.

# 105

Passeio pela cidade... ainda.
Não consigo perceber como é que deixam apodrecer estes edifícios...

Eu sou o Ilídio - Parte VI

Passaram seis semanas, seis, e Ilídio não obteve qualquer resposta da parte dos peitos, perdão, por parte da mulher amada e por isso os seus poemas tornaram-se tristes e escuros, longos fados e canções de desespero e desilusão descorridos naquele caderninho que o acompanhava. Como eram cruéis o mundo e o amor, e como estava mais bonita Svetlana, cada dia que passava! Centenas de milhares de suspiros quebraram o silêncio da portaria daquele edifício, rasgaram a escuridão, penetraram fundo na solidão daquele espaço marcado pela dor do desprezo.

13/04/2008

# 104

Waiting...
[¿Hasta cuando?]

...

Leva-me contigo.
Vamo-nos sentar numa qualquer esplanada à beira-mar. Tu a leres o jornal diário, eu com um livro aberto nas mãos. Ou então, vamos passear de mão dada, ver o pôr do sol numa praia qualquer, inventar conversas e histórias só para poder ouvir a tua voz durante horas.

Leva-me contigo.
Mostra-me os teus lugares, confia-me os teus segredos, o teu corpo. Deixa-me conhecer-te, ensina-me a ler-te e a interpretar-te. Deixa-me ser eu a primeira pessoa em quem pensas de manhã. Deixa ser a minha boca a beijar-te antes de adormeceres.

Leva-me contigo.
Vamos misturar o nosso suor nas noites aquecidas por nós, misturar os nossos cheiros, os nossos cabelos, entrelaçar os dedos das nossas mãos. Vamos engolir a respiração um do outro, fazer os corações baterem ao mesmo tempo, fechar os olhos e saber de cor quais dos nossos movimentos nos dão mais prazer.

Leva-me contigo.
Vamos ficar assim muito mas muito tempo. Tanto tempo até que os nossos corpos se fartem das mesmas curvas, das mesmas marcas e percebam que, neste jogo da paixão, não se pode fingir o amor.

10/04/2008

# 101

Passeio pela Cidade.

Words don't come easy

Tenho visto o desafio em alguns blogs e tive vontade de aderir. Como ninguém me desafia, lanço-me sozinha no jogo e exponho aqui as minhas 12 palavras preferidas. Sem qualquer ordem ou lógica de exposição, cá vão elas:

  • Mar;
  • Viagem;
  • Primavera;
  • Música;
  • Papá / Mamã;
  • Caramelo;
  • Concomitantemente;
  • FUCK!;
  • Parcimónia;
  • Alentejo;
  • Dançar;
  • Parametrização.

A explicação sobre cada uma delas surgirá nos próximos dias. Como ninguém me lançou o repto, eu vou amuar e também não o vou lançar a ninguém. Quem quiser, chegue-se à frente.

Eu sou o Ilídio - Parte V

Uma noite, Ilídio perdeu a vergonha e decidiu enviar uma mensagem para Svetlana através de um dos sites onde estavam registados. Enviou-lhe o soneto mais bonito que alguma vez os peitos de Svetlana inspiraram e que deixaria Florbela Espanca corada de vergonha. Escolheu milimetricamente cada palavra, mas também o tipo, a cor e o tamanho da letra. Queria que tudo estivesse perfeito para que a mulher que amava há tanto tempo se apaixonasse por ele no momento em que olhasse o écran do seu computador, e por isso optou por escrever em Monotype Corsiva número 12 a Mogno, que era uma cor discreta e, sobretudo, romântica. O seu soneto começava assim:


Eu sou o Ilídio...

Uma foto por dia.

É bem mais difícil do que eu pensava...

09/04/2008

Just Perfect

Perfeito perfeito é esquecer o telemóvel em casa às 8 da manhã, chegar depois das 6 da tarde e ver que ninguém tentou contactar comigo durante um dia inteirinho.

# 100

Importa-se de repetir?

07/04/2008

Eu sou o Ilídio - Parte IV

A noite de um Segurança de serviço não tem muito que se lhe diga, por isso Ilídio passava o seu tempo a ler jornais desportivos do dia anterior, a fazer Sudokus, a escrever poemas e a ver sites pornográficos registado com o nick de Poderoso69 (porque este era o ano do seu nascimento). Foi num desses sites que se apaixonou por Svetlana, uma búlgara loira e de olhos azuis, com as medidas de uma Deusa Grega, ou pelo menos era o que dizia no perfil que usava. O que ele gostava mesmo era de ficar a olhar para aquela foto em que se via o peito farto de Svetlana, e era vê-lo a escrever sonetos atrás de sonetos, quadras e mais quadras, rimas ricas, rimas pobres acabadas em AR; Ilídio olhava para o peito de Svetlana e vomitava estrofes decassilábicas como se não houvesse amanhã. Depois, suspirava tão profundamente, como se o desejo de ver a sua musa inspiradora fosse a única razão do bater do seu coração.

# 98

Chuva de volta à Primavera.

05/04/2008

Eu sou o Ilídio - Parte III

Havia semanas que Ilídio não falava com ninguém. Tirando o final do mês, em que fazia questão de comprar o passe no quiosque para dois dedos de conversa e, muito de vez em quando, quando a Central ligava para o Instituto para saber quem estava de serviço naquela noite, não tinha necessidade de abrir a boca para nada. Ainda se lembrava daquela semana em que teve que falar duas vezes, e como isso o deixou meio abananado e um bocado zonzo. Até pensou em meter baixa, mas para isso tinha de ligar ao Supervisor e falar com ele, por isso decidiu tomar um Valdispert e esperar que passasse.

# 96

Os vizinhos mais chatos do mundo.

...

I can't take my mind off of you 'till I find somebody new.


The Blower's Daughter
Damien Rice

04/04/2008

Eu sou o Ilídio - Parte II

O nosso protagonista era Segurança de profissão e fazia, há já vários anos, o turno da noite numa Instituição Pública, daquelas que passa o dia cheia de gente enfadonha a tratar de assuntos enfadonhos, gente que demora duas horas para ser atendida, que reclama, que grita, que chora, que lamenta que o Estado não é justo e que só ajuda os ricos porque os pobres não dão a render e que quem se lixa é sempre mas sempre o mexilhão, mas que de noite não se vê nem se ouve sequer um mosquito porque, ao que parece, também estes fazem o horário das 9 às 5 com intervalos de café, almoço, lanche e, mais recentemente, cigarro.

# 95

Restos do Inverno.

03/04/2008

# 94

Quente.

Eu sou o Ilídio - Parte I

Ilídio era um homem solitário. Começando pelo facto de trabalhar num horário diferente da maioria das pessoas daquela cidade, e acabando no facto de viver sozinho num t0 em Alverca desde que deixou de falar com os seus pais porque estes não aceitam um filho poeta, e que poetas são os comunas ou aqueles que não gostam de trabalhar ou os mariconços e que homem que é homem bebe minis e copos de três a penalti na tasca do Teodósio e não anda por aí à noite de caderninho debaixo do braço a fingir que sofre por amor.