18/11/2004

Era uma menina muito mimada.

Gostava de fazer tudo o que os outros meninos faziam, mas às vezes não conseguia e ficava muito triste. Quando estava triste, a menina mimada chorava e fugia para junto do Papá, que era um senhor muito alto e muito magrinho. Ele dava-lhe miminhos e a menina ficava contente.
Nas fotografias, a menina olhava sempre para os meninos mais velhos porque queria ficar igual eles.
A menina da nossa história gostava muito de ir à praia. Passava as férias grandes entre Faro e Sesimbra. Em Sesimbra, gostava da Tia Mariazinha que era muito velhinha e que ralhava de vez em quando. Gostava dos gelados e da gata Raposinha e de ir ao cinema e de andar no taxi do Tio Pinto. Em Faro, gostava de brincar com a Pita, de passear no Gafanhoto com a Tia Luisinha e de passar os dias com os primos todos. Os dias eram muito compridos e as malas térmicas tinham sempre coisas boas para comer.
A menina mimada cresceu.
Hoje, continua mimada.
A menina sou eu.


[A minha Mãe descobriu um rolo de fotografias por revelar. Ninguém sabia o que era, ninguém o tinha perdido. Resolveu mandar revelar, para que o mistério se resolvesse. Eram fotografias de umas férias de Verão. Eu devia ter uns três anos. São verdadeiros tesouros e vieram arrancar da memória pérolas como estas.
Dizem que sou muito agarrada ao passado. É possível. Mas é normal para quem teve uma infância como a minha: feliz. Acho que estas fotografias revelam bem a sorte que eu tive.]


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