Um dia, no início de uma aula, disse à Carmo (a fotógrafa): este ano vou ter muitas fotos tontas do espectáculo. Quero uma foto de bailarina.
No final da aula, ela disse-me que não tinha conseguido. Que era muito difícil, que as fotos estavam uma confusão, que não gostou de nenhuma. Depois mostrou-me esta.
Não gosto nada desta, disse. Está horrível e vou apagá-la.
Não deixei. Esta sou eu. Esta sou eu a fazer o que mais gosto de fazer, no ambiente que mais gosto, com a concentração, a dedicação e a habilidade que sou capaz de dar. Havia muito para corrigir: o calcanhar devia estar mais para fora. A barriga mais para dentro. Os ombros para trás. As costas mais direitas. O pescoço (sempre o pescoço) está errado. A meia ponta consegue estar mais alta. Por isso é que existem as quartas feiras: para voltar àquele estúdio, para trabalhar, para corrigir, para ser todas as semanas melhor que na semana anterior.
Mas esta sou eu feliz.
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