20/08/2016

Desistir? Agora é tarde demais...

Houve momentos em que a desilusão era tão grande, a tristeza tão profunda, era tanto o desapontamento, que eu não queria sequer acordar. Nem comer. Nem respirar. Nesses dias, ia buscar forças a uma paixão maior e seguia para mais um ensaio. Houve dias em que estive quase a ser vencida pelo cansaço e pelo desânimo, dias que fui sem comer e sem dormir.

Foto: Carmo Sousa na Escola de Dança Ana Kohler, algures entre Novembro 2015 e Maio 2016


Quando olhei a primeira vez para esta foto, pensei "porque é que não desisti?" Era tão mais fácil esconder-me durante aqueles fins de semana, fechar-me todos os sábados e todos os domingos, isolar-me e não me mostrar a ninguém. Eu fui. E todo o processo teve tanto de sofrido como de prazeroso. Tanto de sacrifício como de deleite. Saiu-me do corpo como sai um filho.
Quando vi esta foto de cima pensei como fui capaz de continuar. Mas a verdade é que em momento algum pensei em desistir. Simplesmente, essa ideia não me ocorreu. Quando vi esta fotografia e me lembrei que essa poderia ser uma saída, já tudo tinha acabado: a montagem, os ensaios, o espectáculo.

Depois, olho para a foto de baixo. A foto que não precisa de palavras. Não precisa, pois não?

Foto: Jorge Chincho Macedo no CCB, 5-6-2016

04/08/2016

Eu feliz.

Um dia, no início de uma aula, disse à Carmo (a fotógrafa): este ano vou ter muitas fotos tontas do espectáculo. Quero uma foto de bailarina.
No final da aula, ela disse-me que não tinha conseguido. Que era muito difícil, que as fotos estavam uma confusão, que não gostou de nenhuma. Depois mostrou-me esta. 
Não gosto nada desta, disse. Está horrível e vou apagá-la.
Não deixei. Esta sou eu. Esta sou eu a fazer o que mais gosto de fazer, no ambiente que mais gosto, com a concentração, a dedicação e a habilidade que sou capaz de dar. Havia muito para corrigir: o calcanhar devia estar mais para fora. A barriga mais para dentro. Os ombros para trás. As costas mais direitas. O pescoço (sempre o pescoço) está errado. A meia ponta consegue estar mais alta. Por isso é que existem as quartas feiras: para voltar àquele estúdio, para trabalhar, para corrigir, para ser todas as semanas melhor que na semana anterior.


Mas esta sou eu feliz.