Há mais ou menos três semanas, quando decidi deixar de comer açúcar, ainda não tinha saído aquela reportagem da Sic "Somos o que comemos". E mesmo que tivesse saído, eu não teria visto, como até agora não vi, mais que uns breves segundos. Mas há algum tempo que olhava para mim e não reconhecia aquela imagem que o espelho devolvia. Isto pode parecer um cliché dos grandes mas é a mais pura verdade: nunca fiz dieta, nunca tive cuidado com a alimentação, nunca pensei que pudesse vir a sentir-me mal no meu corpo. Nunca sequer pus essa hipótese. Nunca lhe dei muita atenção porque ele também nunca me deixou ficar mal.
Depois de duas gravidezes seguidas e com muito pouco tempo para parar à mesa e comer uma refeição, acordei um dia a pensar que eu só como açúcar. Papa Nestum com açúcar logo ao acordar, bolos, biscoitos, bolachas para enganar a fome, pacotes de gomas comidos em 10 minutos e, ao deitar, leite com mel e um pacote de bolachas de água e sal cheias de manteiga para a abaladiça. Esta foi a minha alimentação durante anos, com pequenas variáveis e excepções (sim, quando combino almoços com pessoas, eu almoço comida de prato e faca e garfo e tudo!).
Sei perfeitamente quando se deu a reviravolta: naquela quarta feira, na aula de Ballet, foi-me feito um ultimato: ou calças umas pontas ou calças umas pontas. Nem sequer foi dada outra opção. Saí daquela aula quase a chorar, não quis vir para casa, só pensava que não havia nem nunca houve bailarinas em pontas com 65kg. Como raio é que os meus pés vão aguentar com este peso em cima? A última coisa que eu queria era que o Ballet deixasse de ser o melhor momento da minha semana e se tornasse um sacrifício. Recusava-me!
Só havia, então, uma saída: perder peso.
Tive vontade de rir e chorar ao mesmo tempo: eu, aquela pessoa que nunca fez uma dieta, nunca leu o rótulo de uma embalagem, que não sabe distinguir uma proteína de uma fibra, que olha para hidratos de carbono e julga serem elementos da tabela periódica. Estava à frente do desafio mais difícil da minha vida... julgava eu.
A verdade é que nunca pensei que fosse tão fácil.
Não cheguei a cortar completamente o açúcar branco. Acho que isso é impossível, pelo menos para mim. Continuo a por açúcar no café. Substituí o Nestum pelo café com leite, que bebo com açúcar mascavado. Mas deixei de comer gomas, bolos, queijadinhas, salames de chocolate, pão branco, só como hidratos de carbono até ao almoço, raciono as bolachas, vejo os rótulos antes de comprar qualquer coisa. E passei a fazer exercício diário, mas isso é conversa para outro post que este já vai longo.
Não gosto de dizer que estou a fazer dieta. Chamo-lhe reeducação alimentar e já estou a ver resultados: ando menos cansada, durmo melhor, deixei de ter picos de boa disposição alternados com mau humor, sinto-me mais estável emocionalmente. Fisicamente, já consigo ver resultados, ainda que ligeiros: dois kg em duas semanas. E já deixei de usar aquela cinta que me apertava a barriga para disfarçar o pneu lateral.
Não se preocupem que não vou começar a evangelização do "seja saudável, coma biológico" e muito menos do exercício e do running como vou vendo por aí. Mas há muito tempo que não me sentia tão bem comigo mesma.
E isso sabe mesmo bem!