15/11/2006
Ilha
Muitos acham que sou “calminha”. Outros tantos pensam que sou “um bocado esquisita”. Quem me conhece melhor, diz que sou “uma boa pessoa, mas muito diferente” ou que “não me percebe”. Confesso que julgava que as coisas fossem diferentes. Nunca pensei que me fosse transformar numa ilha. Nunca pensei que sentiria falta de ser uma ilha. Nunca pensei em tornar-me uma pessoa esquisita. Nunca desejei que tal acontecesse, apesar de achar que, na maioria dos dias, o mundo todo gira ao contrário. Tenho lutado contra isso, mas nunca estive tão fraca como agora. Gosto de ser uma ilha, mas estou cansada. Olho à minha volta e é nos outros que me vejo. E o que vejo é uma pessoa muito diferente do que era, muito diferente do que imaginava que iria ser, e muito diferente dos outros. Quase a chegar aos 30, sinto-me com a força de 80 e só me apetece acomodar-me e ver o mar passar à minha volta. Não me apetece nadar, nem contra nem a favor e, sobretudo, não me apetece levantar o queixo. E deixo-me ficar nesta ilha em que me tornei, a desejar que ninguém me veja, que ninguém dê pela minha presença, para que eu não perceba que eu é que estou do avesso.
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