08/08/2005

Saudade.

"Ela mora dentro de cada um de nós. Nos olhos marejados de lágrimas de mães. Na face lívida das donzelas sonhadoras. Nas palpitações nervosas dos jovens. Nas tardes que morrem numa agonia de luz. Somente Deus e a criança não sentem saudade. Tem misticismo de um ritual sagrado. Tem a doçura encantadora das harmonias musicais. Tem a eloquência altissonante da poesia. Tem o timbre dos sinos que plangem ao entardecer. É espiritual como o perfume das flores. Inocente como as crianças. Ingénua como as meninas. Sonhadora como as donzelas. Experiente como os adultos. Triste como os velhos. Da saudade falaram os poetas. Cantaram-na os músicos. Com ela os namorados enfeitam de ternura e encanto os seus dias e de literatura suas cartas. Saudade é a presença do que está ausente. É a ressurreição do que está morto. É a única coisa que fica daquilo que não ficou. É o perfume do Amor que se evaporou. As letras que formam a palavra SAUDADE são sete notas musicais. Escala diatónica que faz vibrar no teclado do coração as mais doces e tristes canções. Todas as emoções da alma, todas as vibrações do coração, todos os encantos do sentimento, todos os idílios da imaginação se condensam e se manifestam na saudade, que é tortura que consola, que é dor que suaviza, que é sofrimento que alegra. Nada crucifica tanto a alma do homem como a saudade. Nada mitiga tanto as duas dores como a saudade. É sofrimento e alívio. É dor e riso. É noite e dia."

Adaptado de "O Verbo Amar e suas Compilações"
P. António Vieira
Visto e roubado daqui.

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