Tenho a folha branca do caderno à minha frente e não consigo escrever nem uma palavra. O que estou a sentir é tão grande que não cabe nesta folha. Não cabe neste caderno azul. Nem neste quarto, nesta casa, nesta cidade, no país, no mundo. Foram três semanas que não cabem em nenhum calendário.
Não estava à tua procura. Já não esperava que aparecesses. A sério: pensava que, com a minha idade, já não fosse possível viver uma paixão tão quente, tão forte, tão intensa. A vida já tinha deixado de ter destino. Limitava-me a vivê-la.
Tu apareceste assim, de repente, sem avisares, sem pedires licença, numa noite em que a alegria se misturou com o álcool e o instinto fez o trabalho todo. Naquela noite, decidimos ir ver as estrelas na praia, mas o dia já estava a nascer. Eu estava perdida nos meus medos, na minha solidão acompanhada quando me lembrei de olhar para o lado. Tu estavas ali, a olhar para mim. Há dias que estavas ali, e eu nunca te tinha visto. Ficámos horas a olhar o céu clarear, o farol ali atrás, os outros a dormir, a tua mão na minha e o nosso silêncio. Não houve perguntas, não houve porquês, não houve palavras. O olhar disse tudo e um beijo fez-me ter 15 anos outra vez.
Hoje, volto a ter 27. Mas o sonho continua e eu não quero acordar nunca.
É tão bom saber que estás aqui, ao meu lado.
É tão bom...
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