01/05/2004

Estou no meu refúgio.

Uma praia vazia. Um café sossegado. O Mar e o sol são a minha companhia.
Avencas. Parede.
Sempre que venho aqui, que me sento nestas mesas, que olho através destas janelas, sinto-me a pessoa mais pequenina do mundo. Vejo o Mar perder-se no infinito e tomo consciência de que sou só mais uma pessoa neste mundo tão grande. Ao mesmo tempo, ganho uma força interior enorme, como se este mesmo mundo girasse todo à volta do meu umbigo, como se nada pudesse fazer-me mal, como se nada pudesse deixar-me triste, nem mesmo um arrufo de duas pessoas que se amam mas não se entendem.
É aqui que eu compreendo que a vida tem que continuar, que não vale a pena lamentar os erros, porque esses já estão feitos e não há nada que os apague das nossas vidas: ou os ultrapassamos ou não. E mais que isso, não há muita coisa a fazer. A não ser continuar a viver.
Talvez seja uma fase. Talvez seja definitivo. Isso agora não interessa, porque não vai tornar-me mais feliz nem mais triste do que sou. Há uns anos, talvez importasse; há uns anos talvez não estaria tão calma

Estás tão calma - disseste tu.

como estou hoje. Se calhar, é isto a que se chama crescer. Deve ser isto, amadurecer.
Quando podemos deixar cair as lágrimas sem que ninguém as veja, porque é que havemos de o fazer à luz do dia?
O pôr-do-sol. Pode significar o fim de mais um dia. Pode ser o fechar de um ciclo. Mas é também o início de outro: a noite, tão mágica como o dia.
E a vida é assim: acaba um ciclo, começa outro.
E o que será, será.

Sem comentários: