Foi tudo muito rápido. Acho que isso foi o que me custou mais. Secretamente, guardei até ao fim a esperança de me ver sentada contigo à mesa, no próximo Natal, a rir sobre aquele acidente. Mas isso não vai acontecer.
Foi tudo muito rápido e inesperado, e eu sempre acreditei que as mulheres fortes como tu fossem imortais. Uma Mulher exemplo para todas as mulheres que te rodearam, que te admiraram, que te conheceram. Não bastava seres aquela força da natureza, ainda eras uma das mulheres mais bonitas que conheci (acho que nenhuma das tuas netas teve a sorte de herdar essa tua beleza).
Agora, já não estás cá. E isto parece tão irreal como imaginar a tua casa sem um bolo acabado de fazer. Ou um molotov. Ou sem o relógio que fazia música a todas as horas e que o Miguel chamava “o Natal”.
No outro dia, ao sair da escola, o Manuel olhou para o céu azul. “Não se vê a Xia, Mamã. Como é que vamos conseguir ver a Xia quando tivermos saudades durante o dia? Só à noite é que se vêem as estrelas!”
Parei, baixei-me à altura dos seus cinco anos, olhei para ele e disse “fecha os olhos com toda a tua força. Toda a força que conseguires”, e ele fechou. “Consigo ver estrelinhas! Afinal, consigo ver a Xia sempre que quiser!”
Foi assim que ensinei aos meus filhos que, apesar de já não estares cá, estarás sempre connosco. Sempre que precisarmos.