Quando casei, para além de ter pensado que escolhi a pessoa com quem cresceria, constituiria uma família, viveria, pensei que era aquela pessoa com quem queria envelhecer. Quando fosse velhinha e chata, cabelo todo branco e rugas da cabeça aos pés, quando já não conseguisse comer sozinha ou lembrar-me do meu nome, era aquela pessoa que eu contava ter ao meu lado. Quando os filhos dos nossos filhos já tivessem filhos e quando, aos domingos, esperássemos ansiosos pela visita de todos. Seria aquela pessoa, todos os natais, a ajudar-me a preparar a mesa com rigor para toda a gente, ou que diria que eu estava a exagerar no número de talheres que eu coloco na mesa. Ou que ralharia comigo porque eu não janto sentada nem me deito sem lavar a louça.
Acontece que a vida dá muitas voltas e numa pirueta sem aviso, o rumo da vida mudou. E eu dou por mim a pensar como vai ser a minha velhice. Dou por mim a pensar na Avó Mimi que não sabe onde está, não conhece quem a acompanha diariamente, apesar de se lembrar de todos os pormenores da sua viagem de navio até Angola, para onde foi viver com o seu então recém marido, nos anos 20.
Dou por mim a pensar na Avó Lena, acompanhada por um grupo de pessoas que acredita que o fim do mundo está próximo e só elas se salvarão porque são escolhidas pelo deus em que acreditam.
Dou por mim a pensar na Xia e nos seus 90 anos, a fazer voluntariado em hospitais, acompanhando doentes acamados.
Às vezes, sinto-me a envelhecer por dentro. Passo dias sem um sorriso. vejo-me cansada, esgotada e sozinha. Sinto o tempo a correr tão rápido que não consigo acompanhar o seu ritmo. Imagino o futuro tão próximo, que o que me espera dá-me medo.
Esse medo, às vezes, impede-me de viver. Envelhecer com quem amamos, deve ser muito mais fácil.