22/07/2016

Quando casei, para além de ter pensado que escolhi a pessoa com quem cresceria, constituiria uma família, viveria, pensei que era aquela pessoa com quem queria envelhecer. Quando fosse velhinha e chata, cabelo todo branco e rugas da cabeça aos pés, quando já não conseguisse comer sozinha ou lembrar-me do meu nome, era aquela pessoa que eu contava ter ao meu lado. Quando os filhos dos nossos filhos já tivessem filhos e quando, aos domingos, esperássemos ansiosos pela visita de todos. Seria aquela pessoa, todos os natais, a ajudar-me a preparar a mesa com rigor para toda a gente, ou que diria que eu estava a exagerar no número de talheres que eu coloco na mesa. Ou que ralharia comigo porque eu não janto sentada nem me deito sem lavar a louça. 
Acontece que a vida dá muitas voltas e numa pirueta sem aviso, o rumo da vida mudou. E eu dou por mim a pensar como vai ser a minha velhice. Dou por mim a pensar na Avó Mimi que não sabe onde está, não conhece quem a acompanha diariamente, apesar de se lembrar de todos os pormenores da sua viagem de navio até Angola, para onde foi viver com o seu então recém marido, nos anos 20. 
Dou por mim a pensar na Avó Lena, acompanhada por um grupo de pessoas que acredita que o fim do mundo está próximo e só elas se salvarão porque são escolhidas pelo deus em que acreditam. 
Dou por mim a pensar na Xia e nos seus 90 anos, a fazer voluntariado em hospitais, acompanhando doentes acamados. 
Às vezes, sinto-me a envelhecer por dentro. Passo dias sem um sorriso. vejo-me cansada, esgotada e sozinha. Sinto o tempo a correr tão rápido que não consigo acompanhar o seu ritmo. Imagino o futuro tão próximo, que o que me espera dá-me medo. 
Esse medo, às vezes, impede-me de viver. Envelhecer com quem amamos, deve ser muito mais fácil.

12/07/2016

Quando os momentos de euforia têm um efeito precisamente oposto ao desejado.
Quando passamos umas horas divertidas, soltas e leves.
Quando pensamos que podemos ser felizes outra vez, rir outra vez. Quando nos é permitido tudo isto.
Quando chegamos a casa e percebemos que a realidade não é assim tão fácil quanto dois copos de vinho nos fizeram acreditar.
Quando acordamos e olhamos à volta e percebemos que o Mundo está exactamente no mesmo lugar. E o mesmo lugar não é o melhor lugar.

09/07/2016

15 dias.

Passo 15 dias a planear o fim de semana sem filhos. Faço listas, planos, combinações. Penso em sítios, restaurantes, praias, bares. No que vou comer, beber, escrever ou simplesmente arrumar ou limpar. São alíneas e alíneas, post-its e notas, rascunhos. Mil coisas pensadas e alinhadas.

Depois é sexta feira. Depois chego a casa. Depois vejo a casa limpa e arrumada. E vazia. E em silêncio. E depois este silêncio começa a doer e a martelar na minha cabeça. Não há jantar para fazer. Nem banhos para dar. Não se ouvem gritos nem gargalhadas nem ralhetes. Não há abraços nem mimos. Não há o cheiro deles, o pescoço deles, o quentinho deles.
Há o vazio.

Eu passo 15 dias a planear o meu tempo. O tempo só para mim que tanta falta me faz. 
Depois, passo-o a doer de saudades.