30/01/2016

Às vezes, perguntam-me se são gémeos.

Principalmente, quando vamos na rua com o carrinho, as pessoas passam e dizem "que giros, são gémeos?". Só ao segundo olhar é que percebem que não: não são gémeos.
Todos os dias vejo-os crescer juntos. As brincadeiras são as mesmas, os interesses os mesmos, as necessidades, a linguagem... Até as roupas poderiam ser as mesmas.
Quando dou uma bolacha à Teresa, ela pede-me outra para o Manu. Quando ele vai buscar uma folha para desenhar, traz outra para a mana. Quando vão para a cama, querem sempre dormir juntos. Gostam dos mesmos bonecos na televisão, ajudam-se a calçar, adoram ler histórias um ao outro.
O Manu nunca se vai lembrar o que era a vida sem a Teresa. 
  

Eles têm 14 meses de diferença. 

Não, eles não são gémeos. Mas às vezes, até eu me esqueço disso.

22/01/2016

O Beijo.

Gosto de beijos.
Detesto beijinhos. Odeio beijocas. Abomino os bjs.

Isto são beijos. Com B grande.


Percebem agora?

17/01/2016

A foto dos totós.


Tenho pena que  pureza das crianças seja tão efémera. E mais pena tenho de ver que os culpados disto são os adultos.
Pela primeira vez, fiz totós à Teresa e o Manuel, como é óbvio de manos-quase-gémeos destas idades, também quis uns iguais. Fizemos a nossa vida, saímos, passeamos e reparei que os olhares se dirigiam a nós. Mas desta vez, não eram os olhares sorridentes habituais, como que a dizer "olha que giros, dois bebés no mesmo carrinho". Reparei em olhares reprovadores, críticos, negativos. E não gostei. Felizmente, eles são muito pequeninos para perceber.
A minha Mãe perguntou-me "porque é que o deixaste sair de totós?". O que a maioria das pessoas não percebe é que a pergunta tem de ser feita ao contrário: porque não?
O que me interessa, muito mais que a questão do género, é criar nos meus filhos estímulos para a construção de uma identidade que os faça felizes, em que eles se sintam confortáveis. Interessa-me valorizar cada conquista, cada vontade, cada vitória. 
Os totós são só elásticos no cabelo.
Enquanto se pensar ao contrário, nunca vamos viver num mundo de igualdade que todos desejamos mas para o qual muito poucos lutam.

15/01/2016

Das mudanças.

Tudo isto que tem vindo a acontecer não traz só coisas más. Uma das coisas boas, é poder pôr a casa a meu (e só meu) gosto. Estou a adorar refazer o meu "escritório", que não é mais do que um canto da sala. Estou com o mesmo entusiasmo que tive há 11 anos, quando fui viver sozinha para um T1 nas Avenidas Novas.
Este é o meu novo cantinho preferido da casa:







Acho que não sou a única a gostar deste canto.

14/01/2016

Qual é o teu lugar?

Crescer é assim. Faz doer os ossos, as articulações, o orgulho e o ego. De um dia para o outro, deixamos de ser meninas para sermos mulheres. Todos esperam de nós o melhor, o expectável, o razoável. E tudo o que fazes é julgado, opinado, posto à prova.
Sabes que cresceste quando os outros deixam de importar. Quando decides fazer só o que te dá na real gana, sem pensar nos outros. Quando te pões em primeiro lugar. Mas até chegar aí, suas, levas chapadas, rasteiras, facadas nas costas. É um caminho difícil e sinuoso. Uma montanha russa cheia de obstáculos.
Os clichés invadem a tua atenção: "guarda as pedras do caminho", "és a pessoa mais importante do universo", "o que não te mata torna-te mais forte", "um dia ainda vais rir disto" ou "a vida só te dá aquilo que consegues suportar". Filosofias de wc escritas pelos Gustavos Santos que proliferam como cogumelos. Tretas. Só tretas.
Quando olhas para uma pessoa, não sabes a batalha que ela está a travar. Não sabes o que está do outro lado do iceberg. Não sabes o que a magoa mais, quão frágil está, se quer falar ou sequer ouvir. Por debaixo da crosta, não sabes o tamanho da ferida: não a escarafunches sem saber se ela está cicatrizada. Não a cutuques se não queres ser sacudido.
Todos têm as suas batalhas. Mais ou menos graves, mais ou menos válidas, mais ou menos óbvias, mais ou menos compreensíveis. Todos.
Respeita. Valoriza. Disponibiliza-te se assim quiseres. Se não quiseres, desaparece. Não provoques. Não perguntes. Sê presente. Mostra-te disponível. Aparece de surpresa.

Crescer dói. E dói muito. Respeita. Põe-te no teu lugar. 

04/01/2016

2016

Com a passagem do ano, pensei em tomar algumas resoluções importantes na minha vida, como é aliás apanágio da época festiva. Pensei, então, nos mais comuns, mas já deixei de fumar há mais de 3 anos, já mudei a minha alimentação, já comecei a correr, já sou dadora de sangue e medula. Cheguei à conclusão que, com isto da idade, a malta vai ficando sem resoluções de ano novo para tomar (porque entretanto foi tomando) e o dia 1 passa a ser uma seca. Nem um item-zinho na to-do-list. Uma página em branco.

Foi, então, a olhar para o meu iPad com o telefone na mão, sentada à frente do computador, que ouvi a minha filha mais nova a pedir-me qualquer coisa:
- Mamã, aifoi mi.
E eu perguntava o que é que ela queria: um desenho?, o Baby TV?, uma história? E ela continuava a apontar para a minha mão e "aifoi mi, Mamã, bufafor". Lá educadinha é ela, por enquanto, e posso não perceber o que quer, mas percebo um "por favor" à distância. 
Só passado um bom bocado é que percebi que ela estava a pedir-me o iPhone, já com lágrimas e o dedo espetado para a primeira aplicação que encontrasse. Tocaram sinos, nessa altura. Trombones, saxofones, xilofones e todos os instrumentos acabados em ones. Caramba, os meus filhos estão viciados nas tecnologias. E o pior é que eu também!

Por isso, decidi desligar-me mais dos iPhones e iPads e MacBooks desta casa, pelo menos quando estou com eles. Principalmente, agora que não há mais nenhum adulto a viver nesta casa. Quando estou com eles, vou estar com eles a 100%. Claro que já é dia 4 e ainda não consegui deixar de espreitar o facebook uma vez por outra ou responder a uma laracha no whatsapp enquanto aquecia as sopas. Baby steps, lá chegarei.

02/01/2016

2/1/2016

Um dia é apenas um dia. 
Uma efeméride, triste ou feliz, não passa de uma efeméride. Terá tanta importância quanta aquela que lhe dermos.
Um dia só é feliz até deixar de o ser. Não há dias bons para comemorarmos acontecimentos maus. E não há maus dias para comemorar acontecimentos felizes. 

Neste dia, há sete anos, foi o meu dia. Um dos dias mais felizes da minha vida. Lembro-me de cada minuto do dia, cada pormenor, cada cara e cada olhar que comemorou comigo, cada passo, cada música, cada sorriso. Lembro-me com todo o pormenor da vista sobre o Tejo, a ponte iluminada, o céu limpo e estrelado, apesar de ter estado a chover o dia todo. Lembro-me de todos os pormenores. 

Foi há sete anos e não se comemora mais. 

01/01/2016

O teu brilho.

Querido e doce Bruno,

Naquele dia 13 de outubro senti o meu mundo ruir. Tudo (ou quase tudo) deixou de fazer sentido, deixei de ter vontade de acordar, não tive força para comer durante dias, só pensava em correr e olhar pelos meus filhos. Foi só por eles que arranjei coragem para seguir em frente. Mesmo assim, os dias passam com dores: de alma, de orgulho, de coração.
Um pouco mais tarde, soube da tua história. Nesse dia, lembro-me bem, senti-me a pessoa mais egoísta do planeta. Algo bem mais forte estava a dar cabo do meu colega e eu chorava por Amor. O que é um desgosto de Amor, afinal, perto de uma doença que nos põe tudo em perspectiva? Essa filha da puta de doença que nos persegue e mata e corrói e nos assusta?
Quando ontem vi as tuas fotos da passagem de ano, o teu brilho, tive vontade de te abraçar muito forte. Não eram os teus olhos que brilhavam. Não era a tua careca que brilhava (também era). Eras tu quem brilhava naquelas fotos. Era a tua força para fazer rir toda uma enfermaria, era a tua disposição, o teu sorriso, o teu olhar doce, a tua coragem
Eras tu quem brilhava. 

Nas primeiras horas do ano, com a minha cama cheia de filhos e a minha vida vazia de sentido, vi o teu brilho. E tive a certeza que, com a tua força, vais conseguir matar esse bicho mau. E tive a certeza que, com o teu exemplo, vou saber aproveitar e dar sentido a cada momento da minha vida. 

Obrigada, querido e doce Bruno. 
Vou ficar aqui à tua espera para te dar o abraço que mereces. 
Muito obrigada.