25/02/2015

Culpada!!

Terça feira, nove e meia da noite, os miúdos na cama, a cozinha arrumada, a roupa estendida, a sala apresentável, amanhã estou de folga. Sento-me no sofá com um copo de leite quente e umas bolachas com manteiga (o meu jantar desde há uns largos meses), a televisão à frente só para mim. Posso ver o que eu quiser. O que eu escolher. Uma lista infindável de canais, de filmes, de documentários para ver. A possibilidade de recuar no tempo e ver o que deu nos últimos sete dias em qualquer um dos canais. Todo um universo televisivo à distância de um botão.

Fico a pensar dois minutos e decido ver um filme. Qual o filme escolhido?


(A-do-rei! E só pensava que o António iria gostar mesmo de ver este filme.)

23/02/2015

Fartiiiiinha!

Cá em casa há:

  • roupa para lavar,
  • roupa lavada por arrumar,
  • roupa emprestada,
  • roupa para devolver,
  • roupa para emprestar,
  • roupa que já não serve,
  • roupa que ainda não serve,
  • roupa espalhada acabada de despir,
  • roupa para arranjar,
  • roupa para passar a ferro,
  • roupa para levar à lavandaria,
  • roupa que acabou de chegar da lavandaria,
  • roupa nova que oferecem,
  • roupa do futebol,
  • roupa do ballet,
  • roupa dos concertos,
  • roupa para as folgas
  • ...


Não necessariamente em simultâneo. 
Para onde quer que me vire, vejo roupa. Estou farta de roupa. Farta de não saber onde arrumar esta roupa. F-A-R-T-A.

Tendo em conta que vivemos cinco pessoas num T2, alguém tem uma solução milagrosa para isto melhorar? Temo um dia não cabermos em casa por causa da roupa.

11/02/2015

"Ai, Jesus!"

Quando ouvi isto da boca do António, não pude deixar de achar graça. Cá em casa somos ateus praticantes e não costumamos ter conversas sobre religião, seja ela qual for, nem fazemos qualquer tipo de interjeição religiosa como esta que ele usou. Por isso, tive curiosidade:

- Quem é o Jesus, António, sabes?
- É o treinador do Benfica.

Ri-me à gargalhada. Afinal, a resposta não estava errada. O Pai achou que podia desenvolver mais o tema:

- Mas há outra pessoa que se chamou Jesus. Uma pessoa muito importante. Sabes quem foi?

Eu já estava à espera de ouvir a história do Messias, d'Aquele que muita gente acredita que veio salvar os Homens, da fé, da última ceia, do sacrifício, do Jesus histórico e do Jesus bíblico. Já estava a imaginar a cabeça daquela criança a andar a mil à hora com conceitos novos como o baptismo, a ressurreição, a crucificação e afins. Estava a ficar preocupada.

- Ah! Estás a falar daquela primeira pessoa que nasceu no mundo?



Lista de compras: livro sobre o cristianismo explicado aos ateus. 

09/02/2015

2nd is 2!!


O pequeno Manuel faz dois anos.

Descrevo-o com uma frase: é o meu filho mais fácil e mais difícil, ao mesmo tempo. Não sei se perceberão o que quero dizer, mas não consigo descreve-lo de outra forma. 
Come bem, dorme bem, é muito independente, tem uma personalidade muito forte (que é a maneira simpática de dizer "mau feitio"), sabe perfeitamente o que quer e o que não quer e não vale a pena tentar dissuadi-lo ou distraí-lo com falinhas: ele não cai nessa. Já entrou na fase dos terrible two há algum tempo, desafiador, gozão mas tão, tão cómico! É difícil ralhar com ele porque é mais provável ele dissuadir-nos e distrair-nos com o seu charme. É mimocas quando tem de ser, é refilão q.b., muitas vezes esqueço-me que só tem dois anos. Fala pelos cotovelos, canta a toda a hora, dança muito, gosta de desenhar: é o artista da família. Não vive sem os manos, principalmente sem o mais velho. Ou estão aos abraços ou estão às turras, como irmãos normais.

Hoje faz dois anos, este menino de cabelo rebelde e olhar doce, este menino que passou quase metade da sua vida a dormir. Agora, está, sem dúvida, a recuperar o tempo perdido. Faz dois anos o menino que me faz correr mais, varrer mais, limpar mais, gritar mais. O maior desafio da minha vida. A minha paixão do meio que é também e menino que me faz rir mais.

Parabéns, Manu, e obrigada por encheres a nossa vida desta maneira.

04/02/2015

De menina??

Há uns dias, o António pediu-me para sair do Ballet.
- Não quero ir mais para o Ballet, Mamã. Não gosto nada de dançar.
Eu não quis explorar muito o assunto na altura, até porque já estava atrasado para o futebol. Disse apenas que depois falaríamos no assunto com calma, mas que durante o ano lectivo estaria fora de questão. Até porque vai haver um espectáculo daqui a duas semanas (ca nervos!!!) e já estão a contar com ele e blá blá blá. O assunto adormeceu.

Mais tarde, tivemos ensaio para o espectáculo (já disse? ca nervos!!!), o primeiro ensaio em que estivemos os três: eu, o António e o Pai. Com o Pai em trabalho, estive quase o tempo todo com o puto, ele viu-me a dançar, eu vi-o a dançar, elogiei, gostei mesmo de o ver e nem a presença dos pais o atrapalhou. Estava mesmo giro, o raio do miúdo, cheio de pinta e concentração. Saímos os dois da escola de dança (o Pai ainda ficou em trabalho) super animados, a falar do Ballet e do Hip hop e do que gostamos mais de ver um no outro. Não falou em desistir.

Uns dias depois:
- O Xavier* disse que o Ballet é para meninas.

Tudo se tornou claro. Claro e triste. O meu filho quer sair do Ballet porque um amiguinho da escola lhe disse que o Ballet é para meninas. Eu fiquei triste por saber que, em pleno século XXI, ainda há quem pense assim. Não pensem que culpo o amiguinho: ninguém nasce ensinado e aquela criança ouviu aquilo em algum lado. Também não culpo a família do amiguinho: ninguém é obrigado a gostar de Dança e a ver em casa bailados nas horas vagas. Se aquele garoto tivesse visto, pelo menos, dois minutos de uma peça de bailado saberia que há meninos no Ballet. 
Fico chocada que ainda haja esta diferença entre o que é de menina e o que é de menino. Fico triste pelos estereótipos que o meu filho aprende por convivência. Enquanto houver um adulto (seja ele Pai, Mãe, Avô/ó, primo/a, vizinho/a) com um comentário deste género, há uma série de crianças que não faz o que quer ou gosta ou tem vocação porque não é para o seu género.

- O Xavier disse isso? Coitado, se calhar ele também pensa que o futebol é para meninos.
- Ah, não é não, porque lá no meu futebol há meninas!
- E no teu Ballet não há meninos?
- Há, o Gabriel, o Lucas, o N., o Pedro, o...
- E no Hip hop? 
- No Hip hop há muitos meninos!
- Então tens que explicar ao Xavier que não há coisas para meninas e coisas para meninos.

Quando eu era pequena, queria ir para a tropa. E sempre ouvi que "a tropa é para meninos", mas nunca ouvi isso dos meus Pais e eles nunca me disseram que não podia ir. Calhou nunca ter ido para a tropa. Se calhar, era mais feliz. Ou não. Nunca saberei.


*nome fictício, claro.


03/02/2015

Das doenças.

Considero-me uma Mãe prática. Acho que não me atrapalho com nada, gosto de fazer tudo com eles, não há nada na maternidade que me deixe a dizer "isto não é para mim". A sério: nem as noites mal dormidas.
Mas há uma coisa que me deixa de rastos: as doenças. E se por um lado tenho sorte em ter filhos saudáveis, que (por enquanto) só sofrem daquelas mazelas típicas da idade, do tempo e dos infantários, por outro lado isto deixa-me pouco calejada para outras coisas que possam surgir. 
Ontem, a Teresa desidratou. Tomou um antibiótico durante 10 dias por causa de uma otite, o antibiótico arrasou-lhe a flora intestinal, a diarreia piorou no fim de semana, na madrugada de segunda vomitou, fez febre, ficou com sapinhos, está assada do umbigo ao cóccix... ufa!, acho que não há mais nada. No meio disto tudo, o que me deixou mais abalada foi a desidratação. A Pediatra dava indicações para resolver e eu não ouvia nada. Na-da! Felizmente, ela tem o hábito de escrever tudo o que explica e em casa pude rever tudo com mais calma.
Mas aquela frase: "ela está desidratada" ficou a martelar-me a cabeça até agora. Não consigo deixar de sentir a culpa, sentir-me irresponsável, desleixada, negligente. Caramba... ela só tem 9 meses!

Hoje, Miss Little T já sorri. Não come, não quer soro, nem chá, nem água açucarada. Só água. Mas já sorri. Talvez este sorriso ajude este coração de Mãe a voltar ao lugar.