19/05/2013

Dos sacrifícios da Maternidade.

Não foram as saídas à noite. Não foram os copos que acabaram. Os festivais de verão, as férias sem horários, as jantaradas até às tantas. Não foram as horas só para mim, o acordar sem horários, as folgas sem sair do sofá. Não foi ver a celulite a crescer, a flacidez a aparecer e as maminhas a caírem. Não foi ter perdido a barriga lisa ou ter ganho rugas e cabelos brancos. Não foi o dinheiro que se gasta em coisas que não são para mim: roupas, medicamentos, comida. Não foram os amigos que se afastaram pela minha falta de tempo e de disponibilidade. Não foi o cansaço ao fim de um dia de trabalho. Não foi a falta de tempo para namorar. 
Nada disso. 

O que me custou mesmo nesta coisa da maternidade, foi ter desistido do Ballet. 

16/05/2013

09/05/2013

Três meses


Quando, há um mês, comemoramos o segundo "mensário" do mais novo, tive a sensação que ainda era tudo muito estranho. Ainda não conhecia este bebé que veio aqui parar, o parto estava muito presente, as rotinas ainda não existiam. Era tudo vivido ao sabor da experiência e do acaso.
Agora que comemoramos o terceiro "mensário", já não imagino a vida sem este bebé de biquinho na boca e cabelo rebelde que tem o sorriso mais luminoso (mas que não partilha facilmente). Este bebé que me encontra sempre, mesmo numa sala cheia de gente, e que não tira os olhos de mim. Este bebé que reclama quando o mano não lhe dá a devida atenção. Este bebé que faz os meus dias muito mais ricos.
Cansativos, mas muito ricos.

Dos(as) Avós

A propósito deste post, e porque não quero mal entendidos, sinto-me na obrigação de esclarecer umas coisinhas.
Começo por dizer que acho que o papel dos Avós é estragar os netos. É para isso que eles existem! Para comprar os cromos dos Angry Birds que os pais não compram, para dar a sopa à boca, para dar colo, para dar mimo, para estragar com mimo, para levar ao Jardim Zoológico, para fazer bolo de iogurte, para comprar potes de fruta e dar ao lanche. Enfim... servem para tudo aquilo que os pais não fazem ou só fazem como recompensa (quando se portam bem, quando não fazem xixi na cama, quando têm uma estrelinha na escola, etc.).
Eu tenho muita pena de não ter, nas memórias da minha infância, uns Avós presentes. Tinha os Avós das férias (grandes, da Páscoa, do Natal) e os Avós de Lisboa, que criaram (ou ajudaram a criar) grande parte dos meus primos. Adoro as minhas Avós (os meus Avôs já cá não estão) mas não tenho com elas a relação tão próxima como gostaria (como, por exemplo, a minha Mãe teve com a Avó dela, e que conta em muitas histórias cheias de saudade).
É esta Avó que eu quero que os meus filhos tenham. A Avó (agora escrevo a palavra Avó como instituição) presente, que mima, estraga, aperta, beija repenicadamente. Quero que os meus filhos tenham os Avós que façam com eles o que nunca fizeram com os filhos: jogar à bola dentro de casa, brincar no chão, levar ao parque todos os dias. Sinceramente, acho que os meus filhos estão muito bem servidos de Avós. Têm quatro Avós completamente diferentes, que se complementam e que, mesmo estando longe (dois deles) vejo-lhes uma cumplicidade que eu nunca tive com ninguém da minha família. Não sinto qualquer mágoa por isso. Não sinto mágoa quando vejo o meu Pai a fazer coisas que nunca fez comigo ou com o meu irmão. São outros tempos, outra disponibilidade, outra maneira de estar e de educar.

Só não gosto quando a minha autoridade junto dos meus filhos é posta em causa pelos Avós (ou quem quer que seja). Só isso.

Na Alcofa

Ideia daqui.

05/05/2013

O meu Dia da Mãe

Começou às 7:20 da manhã com o mais velho a sussurrar-me ao ouvido:
- É dia. Não qué'o du'mi mais.
Pedi-lhe que fosse para a sala ver o zig-zag para que eu e o mano (que já dorme 8h por noite) dormíssemos mais um bocadinho. Lembrei ainda que hoje é dia das Mães e que os filhos devem portar-se muito bem. Ele foi para a sala e voltou nem cinco minutos depois:
- Está muito sol. Vou ficá aqui contigo.
E pôs-se a cantar baixinho uma data de músicas, a bater com os pés na cama, a falar para o ursinho de peluche, a chuchar na chucha com bastante convicção. Aqui já os meus nervos estavam na ponta dos  dedos. Pelas 8 da  manhã,  acorda o mais novo a pedir leite. Aproveito para fazer a papa do mais velho.
Resignada, o mais novo continua o seu sono da manhã, o mais velho já está a dar-lhe nos beyblades, eu aproveito para tomar banho e arranjar-me nas calmas. Mais ou menos de 10 em 10 minutos pergunta-me:
- Estou a po'tar bem?
Quer eu esteja na banheira, a esfregar creme hidratante nas pernas ou a cortar as unhas dos pés. Visto-nos, dou mais um biberão, dou um jeito à casa e pelas 12:30 saímos de casa. A moínha na cabeça por falta de café começa a atacar e passamos pelo café do costume. Hora da saída da missa: entrei no café com duas pessoas, saí de lá com umas 15. Demorei 10 minutos só para conseguir pagar, tempo que o mais velho passou a brincar com a tampa do caixote do lixo. Ainda passamos no Chinês para comprar um saco para embrulharmos o presente da minha Mãe.
Chegamos a casa dos meus pais, onde almoçamos. O mais novo refila e é posto à frente do BabyTV (obrigada, TV por cabo), enquanto nos sentamos à mesa. Mais velho começa por dizer que não gosta da comida e que quer massa em vez de arroz. Tenho de proibir a minha Mãe de fazer massa. Refila porque o arroz está frio. Aquece-se no microondas. Refila porque está quente. Choraminga. Brinca com os talheres. Arroz salta para o chão. Aqui, já  a minha paciência está a chegar ao limite, pego no puto e levo-o para o quarto para pensar na vida. Nem dois minutos depois, a minha Mãe sai da mesa e vai ver como ele está. Aparece com ele ao colo.
Conto mentalmente até 30 e acabo a minha sobremesa.
Traz um livro para a mesa e dá-lhe o arroz à boca, como se tivesse um ano outra vez. O mais novo farta-se do BabyTV e começa a choramingar. O meu Pai continua em silêncio, como se não estivesse ninguém naquela sala. São duas da tarde e vou dar outro biberão que é rapidamente devorado pelo mais novo. Saímos para tomar café na rua. Mais uma birra, mais um "quero isto, quero chucha, quero pôr o açúcar no café, quero cartas dos Angry Birds" e eu a dar desprezo enquanto a minha Mãe faz tudo o que ele quer. TU-DO. Daqui até ao "quero colo" foi um instante e a minha Mãe pega nele. 
Conto até 50 muito depressa. 
Ao sairmos do café, a tampa salta-me com o "não quero chapéu". Arranco o puto do colo da minha Mãe, pego-lhe na mão e digo: vamos para casa; assim não dá. Ainda ouço:
- Ele que durma lá em casa...
Tive que berrar. Há mais de duas horas que as minhas ordens são contrariadas pela minha Mãe. Eu ponho de castigo e a Avó tira, eu digo não e a Avó diz sim, eu proíbo e a Avó deixa. Já não sei se me apetecia mais dar uma palmada ao puto ou à minha Mãe.
Chegamos a casa e foi directo para a cama. O mais novo continuou no carrinho de passeio. Fui lavar biberões e apanhar roupa da corda e estender uma máquina.
Às 5 fomos à festa de anos do grande amigo do mais velho, depois de pedidas muitas desculpas e dados muitos beijinhos e abracinhos.
- Não faz out'a vez, Mamã.
Portou-se lindamente e quando disse que estava na hora de ir para casa, disse "adeus, todos!", deu-me a mão e saímos. Sem fita.
Passamos no parque infantil para mais 10 minutos de queima-energia. Ao fim de dois minutos, "qué'o xixi". Levo-o atrás da moita, saca da piroca e faz. Volta para o escorrega. Dois minutos depois, "qué'o cocó", e vai para a moita. Digo que é maluco da cabeça e que não se faz cocó na rua. Chora. Alto. Muito alto. Por solidariedade, o mais novo também começa a chorar. Caminho para casa com os dois a chorar.
Conto até 200.
Mal chegamos, o mais velho salta para o banho (não sem antes refilar e dizer que não quer, não sem antes levar com a 14ª palmada no rabo). Enquanto toma banho, improviso um arroz de atum. Não há sopa. Visto-o. O mais novo continua a refilar. Salta para o banho também. Às 8:30 da noite, tenho o mais velho a jantar ("está quente", "não quero mais", "há banana?") e o mais novo no biberão. Às 9, o mais velho está na cama, o mais novo a adormecer no colo, o Sócrates na televisão. Às 9:30, o mais novo vai para a cama e eu vejo a série que sigo, religiosamente, na RTP. Choro, comovida. 
Acaba o dia, com a sensação que tive um dia de birras, lágrimas e ranhoca. Ainda bem que o dia da Mãe é só uma vez por ano.